CAMPINAS

Briga judicial impede construção de casas na região do Ouro Verde

Grupo negociou terreno de 99 mil m2 em 2005, mas os donos alegam que contrato não foi cumprido e pedem a devolução da área; 280 famílias temem perder investimento

Cecília Polycarpo
06/03/2015 às 05:00.
Atualizado em 24/04/2022 às 01:06
Moradores construíram na área para evitar invasão e agora temem perder tudo (Camila Moreira/ AAN)

Moradores construíram na área para evitar invasão e agora temem perder tudo (Camila Moreira/ AAN)

Um grupo de 280 famílias que adquiriu em 2005 um terreno de 99 mil metros quadrados na região do Ouro Verde para a construção de casas por intermédio da Companhia de Habitação Popular (Cohab) de Campinas está impedida de construir no local. Os ex-donos brigam na Justiça para anular o contrato e reaverem a área.   À época, ficou acordado que seriam pagos R$ 3,2 milhões pelo terreno, mas os sócios não querem mais a venda. O caso está na Justiça e as famílias ganharam o processo em primeira instância. No entanto, uma liminar impede que o grupo construa no local e alguns membros descumpriram a decisão. As famílias temem agora perder de vez a área.   Caso se arrasta   A Cohab foi contratada pela Associação Cantinho do Céu para arrecadar os valores do pagamento da área adquirida pelo grupo e repassar aos proprietários. As mensalidades foram pagas até 2009, quando, segundo a associação, a companhia propôs que as casas fossem construídas através do Programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal.   À época, segundo a advogada do grupo, Sueli Mamoni, os mutuários já haviam repassado R$ 800 mil em parcelas pelo terreno. "Mas o projeto pelo Minha Casa, Minha Vida não saiu do papel, porque a área tinha impedimentos legais para entrar no programa. Era necessária uma retificação pelos ex-donos, que só saiu em 2011.”   Valor reajustado   De acordo com Sueli, nesse período, os mutuários foram aconselhados pela própria Cohab a pararem de fazer os pagamentos. O grupo, porém, desistiu do projeto habitacional federal e pediu para continuar pagando as parcelas, como acordado em 2005. "Mas não houve negociação com os ex-donos, que fizeram diversas propostas. Uma delas era que o terreno fosse vendido por R$ 7,2 milhões e não mais por R$ 3,2 milhões" , contou a advogada.   Os ex-proprietários do terreno pediram a revogação do contrato na Justiça, alegando inadimplência, mas os mutuários ganharam em abril do ano passado o processo em primeira instância. O juiz Cassio Modenesi Barbosa, da 3ª do Fórum Regional da Vila Mimosa, determinou que as famílias continuassem pagando a dívida, fixada no valor corrigido de R$ 4,9 milhões, em 114 prestações, e declarou inexistência de inadimplência. Porém, impediu que elas construíssem ou se mudassem para o local até que o recurso do ex-donos tivesse sido julgado.   Casas construídas   A decisão, no entanto, foi descumprida. Com medo que um grupo de sem teto invadisse o local, alguns membros da Associação Cantinho do Céu acabou se instalando nos terrenos, e construíram algumas casas.   Uma das famílias foi a da aposentada Maria de Lourdes Pereira da Silva, de 61 anos, que mora no local com o marido, dois filhos, nora, genro e quatro netos. "Ficamos com muito medo de perder a terra para outras pessoas que ameaçavam entrar no local. Ia ser mais uma disputa", disse Maria de Lourdes.   "Eles alegam que estamos inadimplentes, mas só paramos de pagar a terra quando a Cohab pediu" . Outra mutuária, Fabiana Moreira, disse que teme perder de vez seu terreno. "Foi uma luta para conseguir esta terra com a Cohab. É o nosso sonho. Não é justo o dono querer pegar de volta só por causa da valorização do Ouro Verde" .   Outro ladoAdvogado dos ex-sócios proprietários da área, o advogado Eduardo Pereira Andery disse que o pedido de reincidência do contrato de 2005 ocorreu porque os mutuários não pagavam as parcelas. "Foram feitos alguns pagamentos parciais. No valor de R$ 800 mil. Mas eles pararam de pagar em poucos meses", disse.   Ainda de acordo com Andery, a associação descumpriu a decisão judicial e loteou o terreno irregularmente. "Tem até barracão comercial lá". A Cohab, por sua vez, informou em nota oficial que "os associados pararam de realizar esses pagamentos, em certo período, e iniciou-se uma disputa judicial entre associados e proprietários".   Ainda segundo o texto, a companhia não tem relação alguma com a disputa judicial. Agora, a Cohab recebe dos associados o pagamento em juízo, até que o processo chegue ao fim.

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