Levantamento mostra que nos próximos dois anos, oito em cada 10 pessoas vão adiar esse plano
Casal com no máximo um filho será a tendência nos próximos anos, segundo apontam pesquisas de comportamento realizadas no Brasil (Leandro Ferreira/AAN)
Ter uma família numerosa, com diversas crianças correndo pela casa, não faz mais parte dos planos do brasileiro, ao menos em um futuro próximo. Nos dias atuais, a população, em sua maioria, prefere nem mesmo pensar sobre o assunto. De acordo com pesquisa do Ibope, nos próximos dois anos, oito em cada 10 pessoas do País com idade fértil não pretende ter filhos. Os dados representam 79% dos entrevistados. Em Campinas, basta uma ida ao Centro da cidade para constatar que os tempos realmente são outros. Os motivos para não querer ter mais descendentes são variados. Entre os principais estão a atual situação econômica do Brasil, o medo da violência e também a preferência por se dedicar à carreira profissional. Há ainda aqueles que simplesmente não sentem vontade, ou acham mais vantajoso ter um animal de estimação, como é o caso da vendedora Gleice Araújo, de 26 anos. Casada há dois anos, ela conta que tempos atrás até sonhava ter seu primeiro filho, mas que vários fatores fizeram com que mudasse de ideia. “Mesmo juntando meu salário com o do meu marido, temos dificuldades em pagar o aluguel e manter a casa. Como é que incluiremos os gastos com uma criança? É inviável. Depois de colocar na ponta do lápis, percebemos que o melhor a se fazer era esquecer isso”, explicou. Os custos para ter um filho são elevados. É necessário pensar em coisas como: plano de saúde, quarto, roupas, alimentação adequada, fraldas, remédios e escola. Ao calcular quanto tudo sairá no fim do mês, os números são desanimadores. "Sem dúvidas é preciso estar muito bem preparado financeiramente para engravidar. Até por isso, optamos por adotar um cachorro que, apesar de também exigir uma série de cuidados, não nos afeta tanto na parte financeira”, completou Gleice, dona de um cãozinho de quatro anos. A pesquisa do Ibope aponta que foram entrevistadas 1.491 pessoas em idade fértil, sendo homens com idade entre 16 e 60 anos e mulheres de 16 a 45 anos. Até 2020, apenas 17% dos consultados declararam querer ter um filho por meio de gravidez, enquanto a adoção é a opção preferida de 2%. Ainda de acordo com o estudo, 33% dos consultados declararam receber entre um e dois salários mínimos; 26% de dois a cinco; 24% até um; 8% mais de cinco salários mínimos. Foco na carreira É comum ouvir em uma roda de amigos ou até mesmo já ter dito que “falta tempo para realizar todos os afazeres diários”. Trabalhar, cuidar da casa, descansar, preparar comida, ir na academia e arrumar tempo para o próprio lazer são algumas das atividades rotineiras que ocupam boa parte do dia. Incluir - e cuidar - de uma bebê demandaria ainda mais disponibilidade. O foco no emprego, aliás, é a grande preocupação. Diante de um mercado de trabalho que exige cada vez mais dos profissionais, muitos têm preferido aproveitar o tempo livre com aulas de idiomas do que cuidar de um novo herdeiro. “Ter filhos é uma coisa maravilhosa, mas creio só ser possível quando já estiver estabilizado financeiramente. Para isso, prefiro investir em cursos de inglês e espanhol, que possam me dar uma melhor colocação no mercado neste momento. Aí no futuro sim consigo pensar em construir uma família”, explica o empresário André Gomes Ribeiro, de 30 anos. O outro lado Se é uma tendência não querer ter filhos nos próximos anos, também há aqueles que, na contramão, adoram ver a casa cheia. Este é o caso do dr. Fábio Henrique Prado de Toledo, juiz da 2ª Vara Cível e que tem em seu lar nada menos do que 11 filhos, sendo seis homens e cinco mulheres, entre 1 e 26 anos. (Pedro Henrique, João Lucas, José Filipe, João Rafael, José Vicente, Álvaro José, Ana Carolina, Maria Gabriela, Maria Clara, Ana Cecília e Ana Teresa). “De fato dá trabalho, mas é muito gostoso. Eu e minha esposa somos muito parceiros, então a educação fica bem mais fácil. Tem várias vantagens, é muito difícil um deles sofrer bullying, porque já sabe como lidar, a casa vira uma escola”, disse. Fábio conheceu sua mulher ainda jovem e, durante o namoro, ela disse que tinha vontade de ter cinco filhos. Em vez de se assustar, o juiz gostou da ideia e afirmou que também queria, porque não gostaria de ficar sozinho. “Só que em vez de cinco vieram 11”, afirmou Toledo. Com 47 anos, ele brinca sobre se lembrar do nome dos filhos. "Vai chegar uma hora em que vou precisar sair chamando todos para acertar".