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Boulos quer convocar plebiscito se for eleito

Intenção seria revogar medidas impopulares de Michel Temer

Maria Teresa Costa
16/06/2018 às 18:37.
Atualizado em 28/04/2022 às 12:57
"Nós temos um governo com pautas de direita e pautas econômicas antipopulares, com rejeição de 96% da sociedade." (Leandro Torres/AAN)

"Nós temos um governo com pautas de direita e pautas econômicas antipopulares, com rejeição de 96% da sociedade." (Leandro Torres/AAN)

O pré-candidato do PSOL à Presidência, Guilherme Boulos, vai convocar um plebiscito em 1 de janeiro, se for eleito, para revogar todas as medidas impopulares do presidente Michel Temer (MDB), como a emenda constitucional 95, que congela gastos públicos por 20 anos e a reforma trabalhista. Reconhecido como uma das principais lideranças da esquerda no Brasil, o escritor e integrante da Coordenação Nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Boulos disse que não vai governar para o mercado e nem para banco, mas para a população brasileira. Correio Popular — Quais as chances de uma candidatura de esquerda vencer a eleição? Guilherme Boulos — Nós temos um governo com pautas de direita e pautas econômicas antipopulares, com rejeição de 96% da sociedade. Acho mais difícil a população eleger alguém que representa esse projeto do que alguém que representa a oposição. A oposição a Temer deve ganhar as eleições esTe ano. Basta ver o nível de rejeição do governo, que é o maior da história republicana do País. Nós estamos construindo um caminho. Essas são as eleições mais imprevisíveis dos últimos 30 anos do Brasil. O jogo está muito aberto. Temos mais de um terço do eleitorado que vai votar nulo ou branco, que está indeciso. Precisamos dialogar com uma parte importante das pessoas que estão, com muita razão, desiludidas e desesperançosas com essa forma de se fazer política. Você abriria mão de sua candidatura por uma união de partidos de esquerda já no primeiro turno das eleições presidenciais? Isso não está colocado. Na esquerda existe unidade, que se dá em torno da democracia, dos direitos sociais. Tivemos muitos retrocessos no País, retrocessos de direitos, na democracia, que se expressam na intolerância, no ódio, na politização do Poder Judiciário interferindo no jogo político-eleitoral e o caso do Lula é exemplo disso. Precisamos ter unidade para enfrentar esses retrocessos. Ao mesmo tempo, temos o desafio e o dever de apresentar um novo projeto para o País, um projeto de futuro, que reencante as pessoas e que não tenha medo de colocar o dedo na ferida. O que reencantaria as pessoas? É um projeto de não ter medo de dizer a que veio. Eleição no Brasil ficou muito marcada por ordem de marqueteiro. Marqueteiro diz para o candidato o que pode e o que não pode falar. Vira um candidato enlatado, que não diz aquilo que pensa e acima de tudo que não faz aquilo que fala. Isso gerou uma profunda descrença e desesperança no Brasil, uma desmoralização da política e do sistema político brasileiro. O sistema virou um balcão de negócios, de toma lá dá cá, onde as pessoas, com muita razão, não se sentem representadas. O que não quer dizer que todo mundo é igual. O que está posto é a necessidade de enfrentar desafios que estão colocados no Brasil. Quais são eles? Cito três. Temos que enfrentar as desigualdades e os privilégios. Nós não vamos governar para mercado e nem para banco, mas para a população brasileira. Um por cento, que são os banqueiros, os fundos, já falou demais. Está na hora de ouvir o povo, o que significa regular o sistema financeiro, retomar investimentos públicos no País em áreas sociais e fazer uma reforma tributária progressiva, para que rico comece a pagar imposto. Uma segunda questão é que precisamos revogar o que foi feito por esse governo do Michel Temer. Melhor dizendo, o que foi desfeito. Em dois anos o Brasil andou 50 anos para trás. Foi um descalabro. Reforma trabalhista, retirada de direitos, congelamento de gastos públicos, entrega do pré-sal para empresas estrangeiras. Qual o terceiro desafio? Uma nova forma de fazer política, que começa agora, de baixo para cima, feita com as pessoas, aproximando o poder das pessoas. Não dá mais para governar o Brasil numa situação em que empresário, banqueiro, financia a campanha eleitoral, político entra financiado e vai atender seus financiadores e não seus eleitores. Se formam bancadas de interesse. A da bala financiada pela indústria de armamento, a ruralista financiada pelo agronegócio, os bancos... Estão defendendo lobbies empresariais e privados e não o interesse público. E quem chega no governo fica refém de negociar troca de voto por cargo. Se eleito, como negociará com um Congresso com essas bancadas? Nós precisamos de uma renovação política de verdade. O PSOL está apresentando uma chapa extremamente representativa e ao mesmo tempo temos que ter claro que não se governa para as grandes maiorias nesse País nesse modelo de governabilidade, que é viciado. Nós precisamos trazer os maiores interessados para o centro do jogo político. E estamos falando de plebiscitos, de referendos. Países com democracias mais maduras, como a Suíça, fazem mais de dez plebiscitos por ano. Em todas grandes questões nacionais a sociedade é ouvida. Isso faz com que a política deixe de ser decidida em corredores e salas fechadas e passe para o debate aberto. Mas se eleito, terá que negociar com outros partidos, além do PSOL. Como fará isso? Uma coisa é negociar, outra é conversar. Ninguém deve se recusar a conversar com ninguém. Aliás, só gente que faz política com ódio, com intolerância, recusa a conversa e o debate. Tem um candidato aí, chamado de Jair Bolsonaro, que dá uma de valentão, de faz e acontece, que grita, mas no debate desaparece, se esconde debaixo da mesa. Conversa, para nós não é problema. Problema, para nós, é trocar cargo por voto. É essa relação política que gerou descrença, desesperança no povo. Na sua avaliação, o que justifica Bolsonaro ter esse grau de aceitação que vem sendo apontado nas pesquisas? As pessoas estão com medo. Medo de violência, de perda de emprego, de uma série de coisas, mas acima de tudo é o medo do amanhã, do futuro, quase uma depressão política. Quando a gente está com medo, a gente fica vulnerável a discursos de ódio. Quando a gente está com medo fica vulnerável ao discurso de que vai dar arma para todo mundo, que vai fazer e acontecer. É um discurso com capacidade de seduzir as pessoas, mas que faz isso pelos piores caminhos, explorando politicamente o medo. Ele é um mercador do medo. Bolsonaro mexe com os piores sentimentos da sociedade e converte medo em ódio e converter medo em intolerância. O espaço que ele tem tido é o espaço do medo das pessoas, do atraso. Ele faz populismo em cima de violência e de cadáver. Nós vamos enfrentar e o povo brasileiro vai saber superar isso, não tenho dúvida. Nós vamos virar esse jogo. Como vai governar com todas as medidas adotadas pelo presidente Temer? Nossa primeira medida, em 1 de janeiro, será apresentar um plebiscito para a sociedade brasileira e o Congresso para revogar as medidas do Michel Temer. Uma delas é a emenda constitucional 95, que congelou investimentos por 20 anos. Ela não tem paralelo em lugar nenhum no mundo. Nenhum país colocou na sua constituição a obrigatoriedade de um congelamento de gastos por 20 anos. Não é congelar gasto, mas congelar o futuro. A medida é um teto para o futuro do País. Se valer por cinco anos, acaba o Sistema Único de Saúde (SUS) e a educação pública. É a destruição da capacidade de investimento do Estado brasileiro. Nós vamos revogar esse descalabro.

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