Além das atividades lúdicas com os animais e Mata Atlântica, equipes da Prefeitura de Campinas levam conhecimento ambiental a crianças e adultos
A iniciativa reúne ações que aproximam o público de temas como biologia animal, zoonoses, conservação de espécies e preservação ambiental, promovendo o contato direto com o conhecimento científico de forma acessível e interativa; atividade ambiental é gratuita e existe desde 2019 (Kamá Ribeiro)
Difundir conhecimento sobre o meio ambiente e aproximar os visitantes das atividades realizadas no Bosque dos Jequitibás são alguns dos objetivos do Bosque Interativo, atividade ambiental gratuita e voltada para todas as idades, realizada desde 2019 por uma equipe multissetorial da Prefeitura de Campinas. Além de poder ter contato com alguns dos animais abrigados no local, os participantes recebem informações sobre temas importantes, como o tráfico de animais, a importância de espaços, como o próprio Bosque, na conservação da fauna e flora, e a reabilitação e tratamento de animais silvestres.
As atividades do Bosque Interativo acontecem ao redor do chafariz próximo da entrada principal do parque. A iniciativa reúne ações que aproximam o público de temas como biologia animal, zoonoses, conservação de espécies e preservação ambiental, promovendo o contato direto com o conhecimento científico de forma acessível e interativa. Durante as atividades, os visitantes também podem conhecer de perto animais taxidermizados, técnica de preservação que mantém a aparência dos animais, e entender esse processo.
Um dos idealizadores do Bosque Interativo é o biólogo Felipe Brocanelli. Ele trabalha no Museu de História Natural, localizado no interior do parque, e explicou que a ação foi pensada originalmente como uma forma de aproximar as pessoas do que é realizado no local. “O programa também serve para mostrar o quanto a gente está inserido em um contexto ambiental. Muitas dessas pessoas não têm noção sobre isso. O Bosque dos Jequitibás está dentro de um fragmento de Mata Atlântica, um dos biomas mais devastados do Brasil. E as pessoas muitas vezes nem dão atenção para isso. Nós do programa chamamos a atenção para essas características, falamos de como todos nós temos uma relação muito forte com a natureza, com os animais, com as plantas, com os seres vivos de forma geral. E lembramos que tudo isso está conectado, deixando claro que todos nós podemos ser afetados, enquanto sociedade, se tivermos o desequilíbrio desse bioma”, comentou.
No começo do ano, a atividade, que era mensal, passou a acontecer a cada dois meses, resultado do aumento da quantidade de frequentadores. A decisão foi tomada para evitar qualquer estresse nos animais. “Tivemos um aumento na divulgação do programa e isso resultou em mais pessoas participando do Bosque Interativo. Resolvemos reduzir a frequência do evento para algo bimestral, mas destaco que os participantes têm a chance de aprender de forma lúdica e sensorial, fortalecendo a relação entre humanos e outros seres vivos e despertando a consciência sobre a importância do cuidado com o meio ambiente, além da desmistificação do medo. O visitante pode tocar em uma serpente, um lagarto, e aí podemos tirar esse medo intrínseco que está naturalmente nessas pessoas. Aproveitamos para abordar a importância ecológica desses animais, reforçando que não podemos matá-los, e também os motivos pelos quais eles precisam ser preservados.”
APRENDIZADO
Luiz Gustavo Bonatto Rufino mora na região do Taquaral e levou o filho Joaquim, de 5 anos de idade, na edição do Bosque Interativo realizada em 30 de maio. Ele ficou sabendo do evento pelas redes sociais. Rufino comentou que o espaço está diferente da época em que era criança e concordou com a importância desse tipo de atividade para toda a população de Campinas. “Meu filho ficou muito empolgado com tudo que foi mostrado por aqui hoje. Está até difícil segurá-lo perto de mim (risos)”, relatou.
Perguntado sobre o que gostou mais, Joaquim apontou para aranhas que foram expostas pela organização do Bosque Interativo. “Eu gostei mais das aranhas. Até já desenhei algumas delas, e também já desenhei borboletas e abelhas.”
Lizzy, de 7 anos de idade, mora na Vila União e também foi uma das visitantes da última edição do Bosque Interativo. Ela foi levada ao local pela mãe e pela avó. A garota respondeu à reportagem com muita animação quando foi perguntada se estava gostando da experiência. “Assisto a muitos vídeos de animais e aprendo bastante. Aqui estou aprendendo muito mais.”
Gisele Otávio, mãe de Lizzy, explicou que a menina ficou muito animada quando soube que visitaria o Bosque Interativo. Na visão de Gisele, o aprendizado obtido é algo que a garota levará para o resto da vida. “Não somente para ela, mas também para nós adultos. Vimos muitas coisas aqui, como a importância das borboletas para o meio ambiente. É uma vivência muito importante a que tivemos aqui hoje.”
SIGNIFICATIVO
Na avaliação de Márcia Calamari, diretora do Departamento Técnico Ambiental, da Secretaria de Serviços Públicos de Campinas, o Bosque dos Jequitibás é muito significativo para a cidade, e não apenas por ser um fragmento florestal remanescente inserido dentro da malha urbana do município. “É um local que abriga uma flora com espécies endêmicas desse fragmento de Mata Atlântica e uma fauna muito diversa. São espécies importantes para o equilíbrio desse bioma. Fora que ele é utilizado para uma série de atividades estratégicas, como a reabilitação de animais vítimas de maus-tratos, apreendidos pela Polícia Ambiental. Lá eles são tratados, curados e alguns conseguem ser reintroduzidos na natureza”, detalhou.
O espaço ainda proporciona uma aproximação entre membros da própria família, principalmente as que possuem crianças menores, uma vez que há atividades mais lúdicas para crianças e também outras que agradam a um público mais adulto. No Bosque dos Jequitibás há um zoológico, há a possibilidade de se contemplar a mata, e em uma temperatura agradável. “Esses pontos que citei são muito presentes no Bosque, além de ser usado como espaço de lazer para pessoas que demandam atividades físicas, como pessoas mais velhas”, constatou a diretora.
SOBRE A ATIVIDADE
O Bosque Interativo é organizado em conjunto pelas equipes do Bosque dos Jequitibás, da Secretaria de Serviços Públicos; do complexo de museus, da Secretaria de Cultura e Turismo; e da Unidade de Vigilância de Zoonoses (UVZ), da Secretaria de Saúde. Segundo a organização do evento, outras entidades também colaboram esporadicamente com a iniciativa, com a participação de integrantes da Polícia Militar Ambiental, de alguns grupos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), como o Laboratório de Borboletas. Esses parceiros eventuais realizam atividades como a observação de espécimes via microscópios, feita por representantes do Laboratório de Evolução de Organismos Meiofaunais da universidade.
Além disso, outras ações também são feitas com parceiros de fora do poder público em algumas edições, como a participação de uma profissional que conta histórias para crianças com foco na educação ambiental, além de uma equipe de pessoas que abordam a temática da depressão, conversando com os visitantes e dialogando sobre esse tipo de doença.
HISTÓRIA
Criado em 1884 e adquirido pelo município em 1915, o Bosque dos Jequitibás é um dos espaços de lazer e preservação mais tradicionais de Campinas. Com mais de 100 mil metros quadrados de área verde, o parque abriga cerca de 250 animais entre mamíferos, aves e répteis, além de museus, aquário, teatro infantil, lanchonetes e áreas de recreação. Ele recebe, segundo a Prefeitura, um milhão de pessoas por ano.
O espaço é tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc).
O Bosque dos Jequitibás fica na Rua Coronel Quirino, 2 – Bosque. O funcionamento é de terça a domingo, das 6h às 18h, com entrada gratuita. Já a próxima edição do Bosque Interativo está marcada para o dia 26 de julho, das 9h às 15h.
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