Retomada das atividades sociais exige conjunto de regras individuais indispensáveis ao coletivo
Confinada por seis meses, a população começa a sair de casa não apenas para cumprir as tarefas essenciais, mas também em busca de lazer e diversão (Leandro Ferreira/AAN)
O Ministério da Saúde publicou, na última semana, uma portaria com orientações para a retomada de atividades no contexto da pandemia do novo coronavírus. A norma consolida recomendações e acrescenta outras para “prevenção, controle e mitigação da transmissão da Covid-19”. Porém, confinados por seis meses, as pessoas estão sedentas pela vida social. Restaurantes, bares, academias, confraternizações e baladinhas começam a ganhar espaço nas agendas, mas especialistas alertam que todo cuidado é pouco na retomada das atividades. As indicações do Ministério da Saúde , contudo, não tiram a prerrogativa dos estados e municípios de definir as medidas de distanciamento social, mas servem como complemento. Representantes do ministério declararam que cada autoridade local de saúde deve considerar o avanço da pandemia, a capacidade de resposta do sistema de saúde e as características socioeconômicas de cada território. A publicação destaca a importância de ações: distanciamento social, mas afirma que a retomada das atividades e o convívio social são também fatores de promoção da saúde mental, "uma vez que o confinamento, o medo do adoecimento e da perda de pessoas próximas, a incerteza sobre o futuro, o desemprego e a diminuição da renda, são efeitos colaterais da pandemia pelo SARS-COV-2 e têm produzido adoecimento mental". De acordo com a norma, a abertura deve ser feita de forma “segura, gradativa, planejada, regionalizada, monitorada e dinâmica, considerando as especificidades de cada setor e dos territórios, de forma a preservar a saúde e a vida das pessoas”. Distanciamento social A portaria destaca, entre as recomendações, que governos e prefeituras mantenham distância de pelo menos um metro em ambientes internos e externos. Mas coloca exceções “em razão das especificidades da atividade”, sem detalhar que aspectos seriam estes, bem como para quem precisa de cuidados especiais, como idosos, crianças e pessoas com deficiência. É proposto também que governos demarquem e organizem locais para filas de espera de modo a assegurar o distanciamento. As atividades que permitirem agendamento devem utilizar este sistema adotando recursos online para a marcação. As autoridades locais devem procurar também flexibilizar horários de modo a evitar a concentração de pessoas em determinados momentos do dia em espaços públicos. Devem ser demarcadas também áreas proibidas para a circulação e sinalizadas as capacidades máxima de pessoas de cada ambiente. Já as confraternizações particulares devem contar com o número reduzido de pessoas, que depende do tamanho do espaço. Apesar de não definir o número, especialistas garantem que não podem haver aglomerações, principalmente em lugares fechados, e o distanciamento prudente e o uso de máscaras são imprescindíveis. Outra dica importante é jamais compartilhar copos, pratos e talheres. Dê preferência sempre aos descartáveis. Os alimentos também devem ser individuais. Esqueça as porções para compartilhar nos botecos. Se pedir uma porção grande, distribua em pratinhos individuais, para cada um manusear apenas o que for comer. Já na hora de comungar a fé, evite igrejas, templos e terreiros cheios. Use máscara, álcool em gel e sente em bancos separados. Muitas igrejas estão definindo um banco para cada família, porém devem ter bancos vazios na frente e atrás do móvel ocupado. Nada de abraços, beijos e apertos de mãos. Esqueça a água benta, geralmente colocada para uso coletivo. Empresas Para os setores econômicos, o Ministério da Saúde recomenda a elaboração de protocolos próprios considerando o risco de cada atividade, os ambientes, os processos produtivos e as dinâmicas de trabalhadores, consumidores e população em geral. Também devem ser elaborados planos de ação de abertura, que contenham também as formas de recuo, se houver necessidade de restrição maior em função do crescimento dos casos da covid-19. Conforme as diretrizes, empresas devem divulgar aos trabalhadores e consumidores orientações de prevenção. São listados cuidados de higiene dentro das firmas, como disponibilizar álcool em gel, estimular uso de máscaras e incentivar lavagem das mãos antes e após colocação das máscaras e ao manipular produtos que serão comercializados para terceiros. Na entrada das empresas devem ser implantados sistemas de triagem, como a medição de temperatura dos trabalhadores. Pessoas com aumento de temperatura e sintomas devem ser instadas a não adentrarem os locais de trabalho. As direções de firmas e instituições devem acompanhar casos suspeitos, incluindo monitoramento de quem teve contato com a pessoa. O texto também defende que os processos de trabalho sejam reorganizados, incluindo trabalho remoto. Essas mudanças devem funcionar especialmente para quem convive com pessoas no grupo de risco, como idosos ou cidadãos com doenças crônicas.População Para os cidadãos, a portaria lista cuidados já apresentados antes por autoridades de saúde, como higienização das mãos com água e sabão ou com álcool em gel 70%, uso das máscaras em todos os ambientes, evitar tocar olhos, nariz e boca, bem como nas próprias máscaras, cobrir nariz e boca ao espirrar, não compartilhar objetos de uso pessoal, manter distância de pelo menos um metro de outras pessoas e evitar situações de aglomeração. Como já divulgado pelo Ministério da Saúde, as pessoas que perceberem sintomas da covid-19 - como febre, dor de garganta ou coriza, tosse e falta de ar – devem buscar atendimento médico, ficar em isolamento durante 14 dias e evitar contato com outras pessoas. No transporte individual, a portaria recomenda higienizar o veículo e manter as janelas abertas. Quem depende de transporte coletivo deve manter o distanciamento social, evitando aglomerações. Os responsáveis pelos meios de transporte devem adaptar a capacidade máxima e distância mínima entre passageiros. O amor não pode esperar O contador Diego Henrique Adolpho e a empresária Yasmine Souza estavam planejando se casar em julho deste ano. A cerimônia estava organizada, igreja reservada, mas a pandemia fez com que os noivos optassem por adiar a cerimônia religiosa e a festa que tanto sonham em fazer. “Resolvemos mudar a data para dezembro de 2021 porque queremos estar perto da nossa família, dos nossos amigos, queremos que as nossas avós possam participar com segurança. Acreditamos que o casamento é um momento de celebrar o amor, a união e queremos partilhar esse sonho com quem amamos”, conta Yasmine. Mas, mesmo assim, o casal resolveu manter a data do casamento no civil. O único detalhe é que presencialmente só estiveram presentes os pais e os irmãos. Mas, isso não impediu que tios, primos, amigos assistissem a cerimônia pela plataforma zoom. “Mesmo não estando perto sentimos o carinho de todo mundo que parou um tempo na sua casa, no trabalho, até no carro para assistir nosso casamento no civil. Nossos tios e avós contaram que se emocionaram bastante mesmo não podendo abraçar, estar perto fisicamente”, conta Diego. Ele ainda complementa: “Só tiramos a máscara mesmo na hora do beijo”, diz. Yasmine lembra que muita gente questionou se eles realmente iriam se casar no meio de uma pandemia. “Muita gente quer esquecer 2020, mas, nós escolhemos lembrar deste ano! Lembrar que mesmo em meio ao caos, é possível contemplar o amor de verdade. Apesar da cerimônia religiosa e festa ter ficado para 2021, decidimos que a pandemia não iria nos paralisar em nenhum sentido. Seguimos assim! Positivos, esperançosos e, agora, ainda mais unidos!”, conta Yasmine.