SOLIDARIEDADE

Boa ação gera corrente do bem em Barão Geraldo

Onze meses após reforma de ponto de ônibus, local serviu de inspiração para um outro local

Cecília Polycarpo
19/03/2014 às 05:00.
Atualizado em 24/04/2022 às 18:01

Em abril do ano passado, o professor da Unicamp Ahmed Atia El Dash, de 73 anos, reformou um ponto de ônibus na Avenida Luiz de Tela, em Barão Geraldo, Campinas, com a esperança de que a ação mudasse a vida das pessoas e provocasse uma “corrente do bem”. Dez meses depois, ficou provado que gentileza gera gentileza. A ação serviu de inspiração para outro morador do distrito, o paisagista Roberto Momberg, transformar mais um ponto, na Rua Bortolo Martins, no Guará, em uma “sala de espera”.   As pessoas que vão e voltam de transporte coletivo ao distrito disseram que se sentem prestigiadas ao esperarem pelo veículo em um lugar agradável, com água potável, lixeira e sombra. “Basta olhar para o outro de forma diferente, que ele responde da mesma forma”, resumiu Momberg.   Enquete   Antes de replicar a ideia de El Dash, o paisagista fez uma enquete com moradores e trabalhadores da rua para ver o que eles achavam da iniciativa. “Eles disseram que o pessoal não ia conservar o local. Mas, depois de um mês e meio, ninguém depredou nada.”      Momberg remodelou o ponto de ônibus com restos de materiais usados em suas obras. A cobertura estendida do ponto, com telha de amianto, foi colocada para proteger melhor os passageiros da chuva e do sol. A lixeira foi improvisada com uma peça de uma máquina de lavar roupas antiga e o depósito de bituca de cigarros são garrafas PETs cortadas. Um grande pilão velho foi transformado em pia para a torneira de água potável e os copos de plástico são repostos diariamente.   Paisagismo   Mas o que chama atenção mesmo no local é o paisagismo. Momberg, que é formado em engenharia agrícola na Unicamp, plantou as espécies pleomele e íris amarela aos fundos da cobertura. Colocou também pedrinhas brancas, para delimitar o canteiro. Em um quadro de cortiça, os usuários podem ver todos os horários dos ônibus e quais linhas passam no ponto. “O pessoal também pode deixar recados de imóveis e objetos à venda, vagas de emprego, cachorros perdidos. Enfim, o que quiserem.”   O paisagista varre o ponto todos os dias, mas afirma que não há muita sujeira. A maior parte dos detritos é de bituca de cigarro, que usuários insistem em jogar no chão. Segundo ele, o gasto com o local foi mínimo, pois todos os objetos foram reaproveitados.   Quem passa pelo ponto quase todos os dias foi surpreendido pela reforma. “Ficou perfeito. A sombra para a galera que pega ônibus de dia ficou maior. Além de tudo, tem a torneira para se refrescar. Uso a água também para dar para minha cachorra, quando passeio com ela”, disse o morador do bairro Pedro Henrique Mendes Lopes, de 25 anos, que pega ônibus no local. “É bom saber que ainda existem pessoas assim, que se preocupam com o próximo sem esperar nada em troca”, disse a empregada doméstica Lucimara da Silva, de 34 anos.   Satisfação   Foto: Gustavo Tilio/Especial para a AAN Ponto da Avenida Dr. Luiz de Tella está bem conservado após quase um ano A notícia de que outro ponto de ônibus havia sido transformado em “sala de espera” em Barão Geraldo alegrou Ahmed Atia El Dash. “Era esse o objetivo. É uma semente que agora está dando frutos. É algo que me deixa muito feliz”, disse. O ponto mantido pelo professor continua impecável, com jornal do dia, revistas e água potável. Além disso, o local virou ponto de troca de objetos entre moradores e trabalhadores do bairro, segundo El Dash. “O pessoal deixa DVDs, livros, gravadores... Até máquinas de xerox já deixaram. Quem quiser, pega. Virou um local de exercício da cidadania”, disse o professor.   Ainda segundo ele, várias pessoas ajudam a cuidar do ponto. Usuária do local, a empregada doméstica Maria Luiza Bolonhese, de 60 anos, disse que todos os dias uma senhora vai até o ponto com bucha e detergente para lavar a pia. “Acho incrível como todo mundo cuida daqui. Quando reformaram, eu mesma achei que não ia durar. Mas continua muito bom. Eu faço o que posso para deixar tudo ajeitadinho também”, disse. A também empregada doméstica Rosana Selvino, de 43 anos, se disse contente por o local não ser alvo de vândalos. “Um lugar assim tem que preservar. O ponto de ônibus é de todo mundo.” 

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