EXEMPLO POSITIVO

Bióloga cria mutirão para limpeza das margens do Ribeirão Piçarrão

Morando há 20 anos próximo ao local, Marina Prado Melchior se inspirou no seu trabalho voluntário em uma ONG e iniciou ação de proteção ambiental em Campinas

Bruno Luporini/[email protected]
18/01/2025 às 08:11.
Atualizado em 18/01/2025 às 08:11
Marina Prado Belchior contou que mesmo com a sujeira os voluntários se impressionaram com a beleza do trecho que recebeu a primeira ação; ela lamentou o fato de muitas pessoas tratarem o Piçarrão como um lugar para despejar resíduos (Kamá Ribeiro)

Marina Prado Belchior contou que mesmo com a sujeira os voluntários se impressionaram com a beleza do trecho que recebeu a primeira ação; ela lamentou o fato de muitas pessoas tratarem o Piçarrão como um lugar para despejar resíduos (Kamá Ribeiro)

A ação individual de limpeza e recuperação de áreas verdes dentro da cidade pode fazer a diferença entre um local com convívio harmônico com a natureza ou degradado ambientalmente. Esse é o trabalho que a bióloga Marina Prado Melchior começou a realizar em Campinas. Inspirada por sua participação como voluntária na organização não governamental Sea Shepherd, entidade que protege a fauna e flora marinha, Marina decidiu que seria muito importante trazer as ações para Campinas. O foco inicial é a limpeza das margens do Ribeirão Piçarrão, que possui cerca de 22 quilômetros de extensão até desaguar no rio Capivari e que cruza 23 bairros da metrópole. “Está tudo interligado. O que fazemos aqui, em uma cidade que está a três horas do litoral, impacta lá também”, pontuou.

O primeiro mutirão de limpeza ocorreu no sábado, 11 de janeiro. O local escolhido foi a margem do Piçarrão na avenida Padre Manoel da Nóbrega, altura da Pedreira Jardim Garcia. A escolha do ponto ocorreu por ser uma parte não canalizada do ribeirão. “Temos uma parte mais natural neste trecho, com as pedras e vegetação ciliar”. Marina organizou o recrutamento da equipe de voluntários. Utilizando as redes da Sea Shepherd e as contas pessoais das redes sociais, ela conseguiu 33 inscritos. No dia da ação, 21 compareceram. “É um ótimo começo, pois esse é o número de pessoas que normalmente comparecem nas ações realizadas em Ilha Bela”. Em três horas de trabalho a equipe conseguiu retirar mais de 120 quilos de lixo do Piçarrão. “Não conseguimos pesar tudo, porque era muito lixo”. O grupo encontrou diversos tipos de objetos, como embalagens de plástico, garrafas de vidro, lixo doméstico, móveis, descarte de material de construção, uma árvore de natal e até um colchão de casal. 

Ao final do trabalho foram pesados 1.073 itens, resultando na retirada de 324 plásticos moles e duros, 280 itens de papel, 54 objetos de uso único (descartáveis), 87 garrafas pet, 81 tampas de plástico, 27 garrafas de vidro, 35 pedaços de tecido e 11 bitucas de cigarro. “Quando terminou a ação alguns voluntários se sentiram um pouco frustrados, com uma sensação de que deveriam pegar mais resíduos”, contou Marina. No entanto, muitos dos materiais não retirados são de difícil manejo, como pedras de concreto, blocos de asfalto e fios de fibra óptica. “Provavelmente quem deixou esses fios foi o próprio funcionário da empresa. É uma questão de falta de responsabilidade e conscientização”, reclamou. Segundo a bióloga, além de todo o lixo retirado, um fato que chamou a atenção é que a 600 metros do local existe instalado um ecoponto da Prefeitura. “Existem vários ecopontos na cidade, com horários flexíveis e abertos aos finais de semana, mas algumas pessoas preferem vir até a beira do rio para jogar um colchão de casal.” 

A próxima ação está marcada para ocorrer em dois meses, com o Piçarrão como foco do trabalho voluntário. Marina explicou que o ribeirão é muito presente na vida do campineiro, cortando vários bairros da cidade, mas muitas pessoas tratam o Piçarrão como um córrego, fruto de esgoto e descarte de resíduos industriais. “É um ribeirão, que está descuidado e esquecido, por isso o escolhemos.” 

O objetivo é conciliar a limpeza do rio em conjunto com a divulgação das ações para que mais pessoas se engajem no projeto, criando a noção de pertencimento com o ecossistema da cidade. No mesmo dia em que fizeram o primeiro mutirão, os voluntários do grupo plantaram três mudas, uma de ipê, uma de pitangueira e a última de araçá-vermelho. 

Para ela, a conscientização é uma das etapas mais importantes. “Por que essas pessoas estão acordando no sábado de manhã para pegar o lixo do ribeirão? Porque ele faz parte das nossas vidas e precisa ser preservado”, refletiu. Tal noção de pertencimento faz parte da sua vida, pois Marina mora com a família há mais de 20 anos às margens do Piçarrão. Ela mencionou que no trecho onde ocorreu a primeira limpeza, os voluntários se impressionaram com a beleza do local. “Apesar do lixo, muitos disseram que parecia um ponto turístico.” 

A iniciativa também chamou atenção de outras pessoas preocupadas com a conservação ambiental urbana. Marina destacou que enquanto estava organizando a ação, recebeu apoio de pessoas que já conheciam o trabalho da Sea Shepherd e de outras que se interessaram e quiseram fazer parte da iniciativa. Depois da ação, a bióloga está recebendo contatos de pessoas que realizam trabalhos similares na cidade. “Um grupo maior está se formando na cidade”, projetou. 

O primeiro apoio aconteceu dentro de casa. Camila Prado Melchior, irmã de Marina, é engenheira ambiental e sócia de uma empresa de consultoria ambiental em Campinas. “Quando ela me contou do projeto eu disse que precisaria ter um braço na área de educação ambiental”, revelou. O objetivo é incluir a experiência desse e dos próximos mutirões de limpeza em palestras oferecidas pela consultoria. A ideia é apresentar para empresas, indústrias e escolas a importância que as ações no Piçarrão têm para a formação de uma sociedade mais consciente e atenta às transformações climáticas. “Agora temos dados e podemos levar mais informações que podem fazer total diferença para as pessoas que desconhecem esse tipo de trabalho.” 

Camila ressaltou que, além dos números, mostrar as vivências e o trabalho realizado é uma forma de atrair mais pessoas para a iniciativa. “No próximo mutirão, daqui dois meses, essa pessoa, que ainda não dava atenção para as causas ambientais, pode se sensibilizar a aparecer para ajudar em nosso trabalho.” 

De acordo com Marina, quem tiver interesse em participar de ações futuras pode contatá-la por meio de seu instagram, @marmelchior

SEA SHEPHERD 

A entidade foi fundada em 1977 pelo capitão canadense Paul Watson, que também foi um dos idealizadores do Greenpeace. No Brasil, a Sea Shepherd se estabeleceu em 1999, com a missão de proteger a vida oceânica e lutar contra a destruição de habitats marinhos. Um dos principais projetos é a Campanha Ondas Limpas, atuando com ações de limpezas de praias, áreas costeiras e rios em todo o território nacional. A ONG atua também com a promoção da educação ambiental em escolas e eventos da organização, com o foco na conscientização sobre o consumo e descarte responsável.

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