A biblioteca do Centro de Memória da Unicamp (CMU) fecha as portas no dia 23, porque não há funcionários para trabalhar no atendimento ao público
Estudante lê comunidado afixado pela direção do CMU informando sobre o fechamento da unidade: universidade busca uma solução alternativa (Leandro Torres)
A biblioteca do Centro de Memória da Unicamp (CMU) fecha as portas no dia 23, porque não há funcionários para trabalhar no atendimento ao público. Desde 2015, o departamento perdeu nove funcionários. Só duas bibliotecárias se mantinham na ativa até o começo da semana, mas uma se aposentou e outra — que entra em licença-prêmio — também está prestes a encerrar a carreira. Até o final de semana, serão atendidas apenas demandas pontuais. Na segunda, não haverá atendimento. A Reitoria se movimenta para sugerir uma solução alternativa a tempo. A crise provocada pela falta de reposição de funcionários se arrasta. A situação financeira delicada, provocada pela queda na arredação de impostos que mantêm as universidades públicas, acabou adiando a organização de concursos públicos para a contratação de novos funcionários. As duas bibliotecárias trabalhavam há mais de 30 anos no CMU. Faziam a gestão do acervo, com a catalogação e a recepção dos pesquisadores (centenas) que buscavam o departamento em busca de documentos e fotografias. Para se ter uma ideia do tamanho do prejuízo, basta a informação de que a repartição preserva todos os jornais editados em Campinas, de 1850 até hoje. A hemeroteca é composta por nada menos que 75 mil itens. A biblioteca — que hoje leva o nome do professor José Roberto do Amaral Lapa — é considerada um espaço de referência. Mas a suspensão temporária do atendimento ao público não ameaça o acervo. Seguem trabalhando os técnicos que fazem a restauração e preservação dos documentos. O mais preocupante é que não existe estimativa para a retomada dos serviços ao público. “Não basta trazer bibliotecários de outro setor. Existe todo um processo de formação: o funcionário recebe treinamento especial do departamento, passa a conhecer o acervo e as técnicas de arquivamento”, explicou o professor Jefferson de Lima Picanço, diretor-adjunto do CMU, em entrevista à imprensa. “Não dá pra dizer quando vamos reabrir.” Nota da Reitoria vê decisão do gestor como inadequada Em nota, a Unicamp esclarece, primeiramente, que “a decisão anunciada é de exclusiva responsabilidade da administração do CMU”. A Reitoria considera a medida inadequada do ponto de vista acadêmico e desnecessária do ponto de vista administrativo. “Como parte integrante do Sistema de Bibliotecas da Unicamp (SBU), existem inúmeras outras alternativas para a disponibilização pública do acervo”, completa, informando ainda que a contratação de mais funcionários, como é de conhecimento público, é inviável neste momento devido ao déficit orçamentário, que em 2018, deverá chegar a R$ 240 milhões. “A Reitoria buscará junto ao SBU outras alternativas para a solução da disponibilização pública do acerco”, encerra o texto. ACERVO DOADO DEU ORIGEM A CONJUNTO A biblioteca do Centro de Memória da Unicamp foi fundada em 1986, a partir do acervo doado pelo pesquisador João Falchi Trinca, que era o dono de um dos mais completos conjuntos bibliográficos sobre Campinas. No dia 25 de agosto de 2000, a biblioteca ganhou o nome do professor José Roberto do Amaral Lapa (um dos seus idealizadores), falecido poucos meses antes. Voltada para área de ciências humanas e especializada em história regional, a biblioteca reúne mais de 11 mil livros publicados a partir de 1771; jornais e revistas datadas desde a segunda metade do século 19; mapoteca com plantas de Campinas e outras regiões do Estado; partituras do maestro Carlos Gomes e outros materiais impressos. Além de garantir o acesso da população em geral ao acervo, a biblioteca promove projetos de pesquisa e extensão, exposições e eventos culturais.