Lago completamente coberto pela espécie encanta, mas ?esconde? lado nocivo ao meio ambiente
A chegada da estação mais quente no ano, o Verão, mudou completamente o cenário do lago do Parque das Águas, no bairro Jambeiro, em Campinas. As flores-de l-ótus, que começaram a florescer em dezembro, agora tomam as águas do lago e serão presença marcante até ao final do mês de março. Neste período, elas se tornam a principal atração do espaço, já que inúmeros visitantes vão ao local apenas para contemplar e fotografar a espécie, considerada uma planta sagrada em toda a Ásia. É também um símbolo de elevação espiritual, e, além de atrair os visitantes ao parque, atrai uma série de pássaros, das mais variadas estirpes. Apesar da beleza encantadora, especialistas ouvidos pelo Correio Popular alertam que a planta pode ser nociva ao meio ambiente e que, se não for bem cuidada, pode trazer prejuízos que vão muito além da questão estética. “No mundo natural, tem uma série de espécies que a gente costuma chamar de ‘espécies invasoras’, porque quando são replantadas em outros locais podem se alastrar e entrar em competição com outras variedades que são nativas. É o caso da flor- de-lótus, uma planta que fica suspensa na superfície da água e que tende a se espalhar pelo espelho d’água”, explica o ecólogo Vinícius Zorzi. Em média, as flores-de-lótus duram cerca de cinco dias e as mudas florescem várias vezes durante os meses do Verão. No Outono e no Inverno, as plantas entram em uma espécie de ‘hibernação’ e quando voltam a florescer, liberam um cheiro leve e agradável. Uma curiosidade é o fato de as pétalas de suas flores não caírem, ficando apenas secas, caracterizando-se como um caso raro na natureza. Apesar disso, Zorzi alerta que o crescimento de plantas desta natureza precisam ser controladas para não entrarem em conflito com as demais espécies nativas da região. “É preciso realizar o manejo da flor e isso não é complicado. Basicamente, você precisa de um barquinho para entrar na água, remar, cortar a parte posterior da planta (que fica na superfície) e remover a flor”, explicou. “Outra possibilidade é confinamento da planta dentro de um espaço na superfície do lago, para fazer com que ela não fique se espalhando facilmente”, complementa. De acordo com Rita de Cássia Violin Pietrobom, bióloga e docente do curso de ciências biológicas da PUC-Campinas, a flor-de-lótus tem uma reprodução muito agressiva, o que a torna um problema se não for bem monitorada. “É uma planta que compete por espaço, nutrientes e luz com as nativas. Se não for bem manejada pode causar o desaparecimento de variedades nativas e até causar danos ao meio ambiente, como a morte de organismos vivos como peixes, por exemplo.” Para Rita, o motivo de muitos brasileiros desconhecerem a característica nociva da flor ocorre porque o defeito da planta acaba sendo subestimado pela sua beleza e simbologia. “É uma flor que emerge da lama e sem apresentar manchas. Por esse motivo é considerada, nas regiões onde é nativa, como um sinal de pureza. Todo esse simbolismo fez com que ela fosse trazida para o Brasil e - por ser muito bonita e ter todo esse significado - seu lado negativo acaba sendo ‘maquiado’” , afirma.