MUDANÇA

Batismo do MIS abre polêmica na Cultura

Mudança de nome, aprovada por unanimidade na Câmara, desperta críticas

Agência Anhanguera de Notícias
24/04/2013 às 09:36.
Atualizado em 25/04/2022 às 19:03
Fachada do Palácio dos Azulejos, na Rua Regente Feijó, no Centro, que desde 2004 é a sede do Museu da Imagem e do Som de Campinas (Janaína Maciel/ AAN)

Fachada do Palácio dos Azulejos, na Rua Regente Feijó, no Centro, que desde 2004 é a sede do Museu da Imagem e do Som de Campinas (Janaína Maciel/ AAN)

Delma Medeiros

Marita Siqueira

O projeto de lei que muda o nome do Museu da Imagem e do Som de Campinas (MIS) para MIS Campinas João Zinclar, aprovado por unanimidade pelos vereadores de Campinas e que está à espera da sanção do prefeito Jonas Donizette (PSB), desagrada a várias pessoas envolvidas direta ou indiretamente com o MIS, a começar pela equipe do museu. “Não vemos sentido em acrescentar um nome a um prédio que já tem dois nomes (Centro Cultural Magalhães Teixeira e Palácio dos Azulejos Antonio da Costa Santos). O João Zinclar era parceiro do MIS, foi um profissional importante que merece ser reverenciado. Mas o museu é representativo de vários segmentos ligados à imagem, som e artes em geral. Se fosse pensar em acrescentar um nome teria que ser do Hércules Florence”, diz a coordenadora do MIS, Adriana Verri Maciel. “Temos muitos personagens importantes na área de imagens como o fotógrafo V8, ou os fundadores do MIS, Henrique de Oliveira Júnior e Days Peixoto, para citar alguns. Fechar num nome só não é o objetivo do MIS, que é plural”, reforça. Zinclar morreu no início deste ano em um acidente de trânsito.

A historiadora Dayz Peixoto concorda com Adriana que, se tivesse de dar outro nome ao MIS — o que acha totalmente desnecessário —, teria de ser Hércules Florence, um ícone reconhecido mundialmente como o criador da fotografia. “Parece que os vereadores não têm o que fazer para ficarem se preocupando com coisas já tão bem resolvidas. O MIS já tem nome e como todos os museus da imagem e do som do País, é denominado pela cidade de origem”, diz Days. “Não conheci o rapaz que querem homenagear. Mas independentemente do mérito que ele tenha, o único nome aceitável é o de Florence, que não se limitava à fotografia, mas atuava em várias artes, como é a proposta do MIS”, afirma.

“Não tenho nada contra a pessoa indicada, sei apenas que era fotógrafo. Não se trata, portanto, de vetar um nome, mas de discutir uma questão mais ampla do papel desempenhado pelo MIS, cuja missão envolve amplo espectro das atividades que têm a ver com história, cultura e memória da região”, avalia o professor de física, astrônomo e escritor Rodolpho Caniato, que diz que gostaria de ver a Câmara Municipal envolvida na discussão de problemas concretos da cidade.

O autor do projeto, vereador Gustavo Petta (PCdoB), diz que não se trata de alteração do nome MIS, mas de uma maneira de agregar valor a ele. “Continuará sendo Museu da Imagem do Som. Proponho que se acrescente João Zinclar como uma homenagem justa e merecida a esse fotógrafo de Campinas que tinha sensibilidade apurada quanto às questões sociais e era colaborador do museu. Ele militava pelo espaço. Eu nunca proporia um nome que não tivesse um forte valor agregado”, diz. Independentemente da sanção ou do veto, o vereador afirma que trabalha juntamente com o Secretaria de Cultura para que o museu abrigue o acervo de Zinclar de aproximadamente 10 mil fotos.

Para Adriana Verri Maciel, apenas dar o nome é uma homenagem que acaba por ser esquecida. “Temos vários grandes fotógrafos e o João é mais um deles. Mas o museu tem que guardar a memória de todos os personagens importantes”, afirma. Adriana adianta que o MIS propõe denominar como João Zinclar a sala de exposições temporárias do museu. “Também estamos preparando para agosto, mês da fotografia e do aniversário do João, uma exposição de obras e um documentário com depoimentos dele.” Segundo Adriana, uma funcionária do MIS já fez contato com a família do fotógrafo para saber do acervo e orientar sobre como preservá-lo.

“Mais importante do que dar nome ao museu, é preservar a memória de João e proporcionar a divulgação de sua obra e trajetória de vida”, afirma o historiador do MIS, Orestes Toledo. “Incluir o nome dele não pode ser encarado como exclusão dos demais artistas da cidades”, ressalta.

Neutralidade

O secretário de Cultura Ney Carrasco diz que o projeto de lei chegou até a pasta, mas que ele não foi informado sobre a mobilização para que não seja sancionado. Ele também disse que não vai se manifestar “nem contra nem a favor”. “O que for decidido será acatado. Acho que as pessoas que são contra a mudança do nome devem se manifestar claramente como grupo, inclusive a equipe do MIS. Não posso publicamente me manifestar. Trata-se de uma homenagem a um fotógrafo importante, a quem prezava e admirava. Seria deselegante me colocar sobre esse assunto. Acato o que for decidido”, afirma Carrasco.

O projeto

O projeto de lei número 37/1 processo 212356, de autoria do vereador Gustavo Petta (PCdoB), que muda o nome do MIS para Museu da Imagem e do Som João Zinclar, foi aprovado por unanimidade pelo Legislativo campineiro em 1º de abril. O projeto está com o Executivo, que tem até a próxima sexta-feira, dia 26, para sancionar ou vetar o projeto.

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