GM trabalha em barreira sanitária montada pela Prefeitura na Avenida Gessy Lever, no limite entre Campinas e Valinhos: rotas de fuga (Diogo Zacarias/ Correio Popular)
O sistema de barreiras sanitárias adotado ontem em Campinas mostrou pouca eficácia no combate à covid-19. A medida - vista como uma das principais da Prefeitura - não apresentou o resultado desejado porque o cinturão montado para inibir a circulação de veículos na cidade durou pouco tempo e foi realizada em apenas quatro pontos.
As barreiras ocorreram entre 8h e 12h30, liberando a entrada de veículos durante o restante do dia, da noite e da madrugada e sem fiscalização alguma. Além disso, os veículos que transitavam pelas quatro vias escolhidas na ação podiam desviar antes em alguns acessos alternativos existentes, sem ter que passar obrigatoriamente pelas barreiras.
A quantidade de locais também foi insuficiente. A ação realizada pela Guarda Municipal ocorreu na avenida Prestes Maia (entrada pelo trevo das rodovias Anhanguera e Santos Dumont); na avenida Engenheiro Francisco de Paula Souza (entrada pela rodovia Magalhães Teixeira, altura de Valinhos); avenida Lix da Cunha, (pelo trevo da Bosch na rodovia Anhanguera); e avenida Engenheiro Miguel Noel Nascentes Burnier (entrada pelo trevo das rodovias D.Pedro e Ademar de Barros, sentido Mogi Mirim-Campinas).
A fiscalização feita, por exemplo, na avenida Engenheiro Miguel Noel Nascentes Burnier, próximo à Lagoa do Taquaral, sentido Mogi Mirim - Campinas, deixou de abordar boa parte dos veículos que entraram em Campinas pelo trevo rodoviário e que acessaram a região da CPFL. Na fiscalização da avenida Engenheiro Francisco de Paula Souza, por exemplo, os veículos podiam acessar antes da barreira outros bairros da região como o Jardim Von Zuben e Jardim São Vicente.
Vale lembrar que Campinas conta com muitos outros pontos de entrada ao longo das rodovias Anhanguera, Bandeirantes, Santos Dumont, Ademar de Barros, Magalhães Teixeira e D.Pedro; além dos acessos alternativos nos distritos de Sousas, Joaquim Egídio, Campo Grande, Ouro Verde, Nova Aparecida e Barão Geraldo. Quatro locais de fiscalização por dia são insuficientes para fazer a cobertura em sua totalidade.
[INTERTITULO]Dados oficiais
[/INTERTITULO]Neste primeiro dia da operação com barreiras sanitárias em quatro pontos, 263 veículos foram abordados por agentes de segurança. A operação contou com integrantes da Guarda Municipal (GM), Polícia Civil e Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec).
Com entradas desprotegidas e poucas horas de funcionamento, barreiras
A finalidade foi conter a circulação de pessoas de fora da cidade, porque os feriados prolongados em outros municípios podem atrair mais visitantes. As pessoas paradas nas barreiras são questionadas se seu deslocamento é mesmo essencial e orientadas a evitar transitar. Penalidades não estão aplicadas.
De acordo com a Prefeitura, os motoristas abordados alegaram, em sua maioria, que estavam em deslocamento para o trabalho. Três pessoas disseram estar a caminho de consultas médicas. Nesse primeiro dia, apenas veículos com placas da capital do Estado e de outras cidades da Grande São Paulo foram abordados.
A medida será retomada ao longo dos próximos dias, sem aviso de locais e horários. A Prefeitura, por meio de sua assessoria, informou que a estratégia planejada prevê o elemento surpresa no trânsito para tentar obter os resultados de conscientização da população.
Segundo a Prefeitura, a Guarda Municipal tem um efetivo que atua em diversas frentes e não há como fazer o dia todo em todos os pontos de entrada. Atua nas ações contra pancadões e festas; toque de recolher e comércio.
Região
Ao contrário do que ocorreu em Campinas, cinco municípios demonstraram ontem uma ação mais efetiva na formação de barreiras: Jaguariúna, Valinhos, Hortolândia, Santa Bárbara d'Oeste e Sumaré. Nestes locais as barreiras foram realizadas em maior quantidade e em um período de tempo maior.
Liminar
O Tribunal de Justiça (TJ) do Estado de São Paulo concedeu um Habeas Corpus, em caráter preventivo, para qualquer pessoa que sofrer ameaça ou se sentir ameaçado de sofrer violência ou coação em relação a liberdade de locomoção. A liminar foi pedida pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo. Alega violação do direito de ir e vir por causa do toque de recolher a partir de 20 horas.
A Secretaria Municipal de Justiça de Campinas confirmou que a Prefeitura Municipal foi intimada da decisão e vai recorrer, já que entende que o decreto municipal está amparado em entendimentos recentes do Supremo Tribunal Federal sobre o tema.