ESTIGMA

Banco nega financiamento à mulher curada de câncer

Aline Mourão Baptista Bertaco pretende ir à Justiça contra o banco Santander por danos morais

Fabiana Marchezi
correiopontocom@rac.com.br
16/11/2013 às 18:21.
Atualizado em 26/04/2022 às 14:34

Quatro anos depois de vencer um câncer de mama, a gerente de operações Aline Mourão Baptista, de 34 anos, luta contra a decepção de ter um financiamento imobiliário negado por um banco, em razão da doença. “Estou curada há quatro anos, mas a recusa do banco me abalou muito. Parece que acham que eu não vou viver para pagar o financiamento. É muito frustrante pensar que não vou poder ter meu imóvel por causa de uma doença que já está superada”, diz Aline.A gerente conta que entrou com pedido de financiamento no banco Santander em setembro, e que estava praticamente tudo certo, mas faltava o aval da seguradora, que acabou não aceitando “o risco” pelo histórico de câncer. A resposta negativa chegou no dia 15 de outubro. A jovem contou que ficou arrasada. “Fiquei chocada com o retorno da instituição. Abalada, mesmo. Já levo uma vida normal há anos, tenho um cargo de muita responsabilidade, trabalho muito, sou honesta, pago tudo em dia. Fiquei muito decepcionada. Sou muito engajada na luta contra o câncer de mama. Já até participei de um documentário chamado Mulheres de Peito, faço palestras. Sou muito ativista nessa causa. Por isso a resposta do banco me deixou muito triste. Eu gostaria muito de ter o meu imóvel.” Hoje, Aline mora em um apartamento que pertence à sua família.O câncer de Aline foi descoberto durante um auto-exame no chuveiro. “Percebi um nódulo na axila, um carocinho, e achei estranho. Fui à ginecologista, fiz mamografia e descobri o câncer.” Contou. A luta de Aline contra a doença começou na semana seguinte, quando passou por uma mastectomia radical. “Tive de reconstituir a mama direita, coloquei prótese e dois meses depois iniciei a quimioterapia. Quando você recebe o diagnóstico é um choque. Por si só, já é um tabu e você acha que não vai sobreviver, mas depois vai ficando mais tranquila e mais segura.” Um ano após o início do tratamento, em 2009, a jovem estava curada e recebeu alta médica.Agora, a gerente de operações Aline Mourão Baptista Bertaco pretende ir à Justiça contra o banco Santander por danos morais. Ela já fez contato com a advogada Karina Salmen, de São Paulo, e foi informada de que mesmo com a lei não obrigando a seguradora a contratar, sendo assim possível que haja recusa, a negativa deve vir pautada de algum fundamento que não seja a declaração de doença preexistente.Segundo a advogada, no caso de Aline, a situação é ainda pior porque a jovem já está curada da doença. “Não há fundamento plausível para que a proposta não seja aceita. A conduta da seguradora foi realmente abusiva e imbuída de ilegalidade, sendo plenamente combatível por ação judicial.”Responsável por 22% dos casos de câncer do País, o câncer de mama afeta anualmente 53 mil mulheres e causa mais de 12 mil mortes por ano. O último levantamento do Instituto Nacional de Câncer (Inca), órgão do Ministério da Saúde, mostra que somente em 2010, 12.705 mulheres morreram no País em função da doença.Prevenção e conscientização estão entre as tentativas de redução da mortalidade do câncer mais incidente entre a população feminina brasileira. De acordo com o Inca, a distribuição regional do câncer no País é bastante desigual. De acordo com os dados, em 2010 a região Sudeste liderou o número de mortes, com 6.641 casos. Em segundo lugar aparece o Nordeste, com 2.633 casos, seguido do Sul, com 2.300 casos. ‘Vida normal’ é importante para sucesso de tratamentoEnfrentar o diagnóstico de câncer de mama não é uma tarefa fácil para nenhuma mulher. Lidar com a retirada da mama e sessões de quimioterapia podem prejudicar a autoestima, fazendo com que ela tenha depressão e outros problemas psicológicos nocivos a essa fase do tratamento. “Nunca é demais pontuar o quão importante é a autoestima às pessoas em tratamento. Com isso, elas tendem a manterem-se mais confiantes. Entregando-se menos à doença e levando a vida na maior normalidade possível, o que é muito positivo para o tratamento”, explica o oncologista e quimioterapeuta Ubirajara José Lassance Cunha da Silva. Procurada pela reportagem, o Santander informou, em nota, que “irá reavaliar a proposta da cliente Aline Mourão Baptista e poderá apresentar novas condições para continuidade do processo de aprovação da operação de crédito imobiliário, que, conforme a legislação vigente, somente pode ser concluído mediante a apresentação de seguro.” 

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