CAMPINAS

Bairro esquecido paga IPTU de 'rico'

Cercado por condomínios, morador do Santa Cândida e Parque dos Pomares vive o abandono

Felipe Tonon
11/04/2013 às 07:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 20:57
Kátia Cilene de Oliveira passa na Rua Anthero Crystino no Fazenda Santa Cândida, onde mora há 12 anos (Elcio Alves/ AAN )

Kátia Cilene de Oliveira passa na Rua Anthero Crystino no Fazenda Santa Cândida, onde mora há 12 anos (Elcio Alves/ AAN )

Fazenda Santa Cândida e Parque dos Pomares são bairros de Campinas que estão em regiões consideradas “valorizadas” na cidade. Às margens das rodovias Campinas-Mogi (SP-340) e Dom Pedro I (SP-065), os moradores vivem cercados de luxo, em meio aos inúmeros condomínios de alto padrão nas duas regiões. Mas todas as vantagens de morar em locais como esses ficam dos muros dos condomínios para dentro.

Nos dois bairros, não há ruas asfaltadas e nem rede de esgoto. Infraestrutura básica que é pleiteada há décadas. Os moradores falam em abandono e pedem ação do poder público. Apesar da falta de recursos, o valor do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) é alto. No Parque dos Pomares, por exemplo, a tarifa é a mesma de imóveis localizados nos bairros próximos, que possuem toda a infraestrutura.

O presidente da Associação de Moradores do Parque dos Pomares, Claiton Bueno Mateus, resumiu a situação do bairro. “São sete quilômetros e meio de ruas a serem pavimentadas. Não tem esgoto, drenagem, nada. Zero de infraestrutura. A energia elétrica e o fornecimento de água foram custeadas pelos moradores”, disse. O Parque dos Pomares fica próximo ao condomínio Alphaville.

Desde que assumiu o posto de representante do bairro, Mateus acumula documentos que comprovam que apenas para um condomínio fechado foi pedido contrapartida que iria beneficiar o Parque dos Pomares. “Só um tinha contrapartida obrigatória, que era a pavimentação de seis ruas. Mais de 20 loteamentos foram lançados e apenas um com contrapartida”, reclamou. Mesmo assim, nenhuma rua do bairro foi asfaltada. “Se era um dos únicos que tinha contrapartida por que não foi feito nada? Não é só da nossa região, na cidade como um todo. Aquele que tem contrapartida a Prefeitura não consegue fazer cumprir, é um abandono”, criticou.

Na semana passada, o Secretário de Infraestrutura, Carlos Santoro, e técnicos da Secretaria de Urbanismo estiveram no bairro. “Apresentamos os problemas de saneamento, a buraqueira nas ruas, e nos deram três opções para solucionar os problemas”, disse Claiton.

Além do Plano Comunitário de Pavimentação, onde os moradores arcam com 70% dos custos do asfalto e a Prefeitura 30%, o secretário teria garantido a inclusão do bairro para receber recursos da terceira etapa do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC 3), do governo federal, no entanto, na melhor das hipóteses, o dinheiro seria liberado apenas no ano que vem.

Os moradores agradeceram a presença do secretário e dos técnicos, mas não aprovaram o resultado da reunião.

“É recomeçarmos quase da estaca zero. É triste. Sabemos que a Prefeitura já teve condições de fazer tudo, tinha projetos, mas fomos passados para trás”.

Para o representante do bairro, todos os esforços dos moradores, que hoje são 1,5 mil, já foram feitos. “O que falta é uma decisão interna da Prefeitura; vontade política”, resumiu Mateus. “A gente vive um drama. O Parque dos Pomares é cercado por condomínios de alto padrão, estamos ilhados, como a favela no meio do Morumbi, em São Paulo. Cercado por infraestrutura. Pagamos IPTU e não temos nenhum desconto por causa da falta de infraestrutura”, disse.

Santa Cândida

O pedreiro Ozana Reis de Carvalho, de 46 anos, mora há 15 anos no Parque Rural Fazenda Santa Cândida. Sem água, asfalto nem esgoto, Carvalho fez um poço do outro lado da rua e tem esperanças de mudanças. “Mudou o prefeito e vamos ver se agora muda. Aqui tudo está parado”, disse o morador, sentado em uma pilha de tijolos e olhando o movimento de carros da SP-340, que dá acesso à Rodovia Dom Pedro I.

“Aqui é abandonado de tudo. A prioridade é o asfalto e esgoto. Não tem nada. O ônibus entra no bairro, mas de duas em duas horas e sempre foi assim”, disse a diarista Kátia Cilene de Oliveira, de 39 anos, que mora há 12 anos no bairro.

“Essa rua estava pior, meu marido que colocou concreto pra tentar melhorar”, disse, apontando para a rua onde mora, a Anthero Crystino. “Eu acho que esse bairro foi esquecido”, disse.

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