A tarefa visa recompor 9,5 mil quilômetros quadrados de florestas devastadas, que representam 62% das bacias
Trecho do Rio Atibaia, em Campinas: as matas ciliares funcionam como um filtro natural, segurando a terra e os agroquímicos (Matheus Pereira/Especial para a AAN)
As Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) precisão investir R$ 38,2 milhões até 2028 para suprir a demanda florestal existente nas 72 cidades onde vivem 5,52 milhões de pessoas. A tarefa visa recompor 9,5 mil quilômetros quadrados de florestas devastadas, que representam 62% das bacias. Atualmente, cerca de 20% das Bacias PCJ são ocupadas por vegetação nativa, mas 64% das áreas de proteção permanente (APPs) não têm cobertura florestal, o que equivale a mil quilômetros quadrados, área maior do que Campinas. A informação integra a nova revisão do Plano Diretor para Recomposição Florestal, aprovado pelos Comitês PCJ, na última quinta-feira. O plano é instrumento estratégico para conservação dos recursos hídricos com a priorização e elaboração de planos locais de recomposição florestal visando a aproximação de metas propostas à realidade. Ele traça o horizonte de 2028 com base com o que será possível arrecadar com a cobrança pelo uso da água dos rios federais existentes nas bacias para financiar ações de reflorestamento e também de monitoramento na região de Campinas. Embora seja grande a falta de mata ciliar nas APPs, elas se constituem, no entanto, a maior classe de uso do solo presente nessas áreas. Em 36,31% já existem vegetação. As áreas de campo e pastagem formam 25,6%, seguida por área urbanizada, com 8,54%. O plano chama a atenção para a necessidade de incentivo aos proprietários rurais na recomposição florestal, sejam em áreas determinadas ou não. Estas ações, segundo o documento, beneficiam a biodiversidade e auxiliam o produtor que deixa de usar a área comercialmente. Papel essencial A floresta tem papel essencial na prevenção de secas, pois reabastece os lençóis freáticos e impede a erosão do solo e o assoreamento de rios, entre outros benefícios. Um estudo do Consórcio PCJ aponta que cada hectare de mata consegue infiltrar 3 milhões de litros de água e isso faz uma diferença grande na garantia do abastecimento. As matas ciliares funcionam como um filtro natural. Seguram a terra, os agroquímicos e adubos que na sua ausência acabam nos mananciais. Essas matas também funcionam como grandes esponjas que absorvem a água quando chove e vão soltando-a lentamente nos mananciais durante vários dias. Essa água retida vai para o lençol freático que abastece as nascentes, bicas e poços. Biodiversidade Elas também reduzem o assoreamento e a força das águas que chegam aos rios, lagos e represas, o que mantém sua qualidade ao impedir a entrada de poluentes para o meio aquático. Além disso, formam corredores que contribuem para a conservação da biodiversidade, fornecendo alimento e abrigo para a fauna, constituindo barreiras naturais contra a disseminação de pragas e doenças da agricultura e, durante seu crescimento, absorvem e fixam dióxido de carbono, um dos principais gases responsáveis pelas mudanças climáticas. Área que serve agricultura domina demanda O Plano Diretor para Recomposição Florestal, aprovado pelos Comitês PCJ, revela ainda que na maior parte da demanda florestal total, a classe que se destaca é de campo, ou seja, pastagens, que ocupa 35% do total, seguida por áreas de lavouras específicas de cana-de-açúcar com aproximadamente 27%. Entretanto, se somadas as áreas de cana-de-açúcar, silvicultura, lavoura temporária e lavoura permanente totalizam aproximadamente 53% de toda a área da demanda florestal, evidenciando que mais da metade desta demanda encontra-se em áreas de agricultura já consolidada. Ausência de vegetação não é o único problema das Bacias PCJ, segundo o estudo. Há deficiência de dados, tanto quantitativos quanto qualitativos, há problemas de erosão, conservação do solo e recomposição das APPs e principalmente na falta de conservação dos fragmentos florestais já existentes. Companhia recupera solo e mata ciliar no Jundiaí e Jaguari A Ambev recuperou, no ano passado, 85 hectares de solo e mata ciliar no entorno dos rios Jundiaí e Jaguari, que integram as Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ). A ação ajuda na preservação e recuperação hídrica da região. Desde 2010, a cervejaria atua junto às ONGs WWF-Brasil e The Nature Conservancy (TNC) no Projeto Bacias, que tem como objetivo recuperar e preservar importantes bacias hidrográficas do País. Além dos 85 hectares de restauração ecológica atingidos em 2017, o projeto conjunto entre a Cervejaria Ambev e a TNC já validou mais 80 hectares para recuperação em Jaguariúna. Desses, em 70 hectares os plantios já foram iniciados, informa a cervejaria, que tem na água a sua principal matéria-prima. Ainda na região, na sub-bacia do Rio Camanducaia mais de 20 proprietários rurais já manifestaram seu interesse em participar do projeto e da restauração ecológica em suas propriedades. Em Jundiaí, já foram validados com os proprietários rurais 12 hectares para a recuperação, e o trabalho de plantio e restauração da vegetação deve começar nos próximos meses. “A conservação do solo e da vegetação na região das bacias é fundamental para combatermos o risco hídrico e garantirmos a disponibilidade da água. Por meio de um trabalho conjunto entre nós, organizações sociais e prefeituras locais, temos certeza que conseguiremos atingir resultados cada vez melhores sobre essa questão”, afirma Filipe Barolo, gerente de sustentabilidade da Cervejaria Ambev. Atualmente, são desenvolvidas iniciativas em cinco bacias: Gama (DF), Jaguariúna (SP), Jundiaí (SP) e na região do Rio Guandu (RJ), juntamente com a TNC, e em Sete Lagoas (MG), com a WWF. Após esse primeira análise detalhada são feitas parcerias com agricultores e produtores rurais que moram no entorno das bacias, que incluem informações sobre técnicas de conservação, educação ambiental, restauração ecológica e PSA (pagamento por serviços ambientais). Em março deste ano, a Cervejaria Ambev anunciou novas metas ambientais que quer atingir até 2025. Uma delas se relaciona diretamente à questão hídrica: melhorar a disponibilidade e qualidade da água para 100% das comunidades em áreas de alto estresse hídrico com as quais a cervejaria se relaciona. As demais metas incluem iniciativas como garantir que 100% da eletricidade comprada seja de fontes renováveis, que 100% dos agricultores parceiros possam desenvolver plantio sustentável e que 100% de seus produtos sejam feitos em embalagens retornáveis ou majoritariamente produzidos com conteúdo reciclado.