Trecho ligaria as vias Ruy Rodriguez e Amoreiras e desafogaria trânsito no Parque Linear do Capivari
Uma avenida de 1,5 quilômetro de extensão que consumiu R$ 15 milhões em investimentos, mas não leva a lugar algum, intriga moradores e motoristas da região do Parque Linear do Capivari, em Campinas. A via de mão dupla tem asfalto em bom estado, mas termina repentinamente em frente a um galpão industrial na Vila Mingone. Com mais 200 metros, ela ligaria as avenidas Ruy Rodriguez e Amoreiras, e ajudaria a desafogar o trânsito na região. Para a obra ser concluída, a Prefeitura precisa fazer desapropriações. Sem previsão para que isso ocorra, hoje a via é usada apenas como pista de bicicleta e de corrida para a população do entorno.
A construção é fruto de uma parceria público-privada da Administração com sete empresários para revitalizar a região e atrair investimentos de grandes companhias para o entorno. A avenida seria a espinha dorsal do projeto, e deveria ligar a Rodovia Santos Dumont (SP-75) ao trevo da Bosch, na estrada Campinas-Monte Mor (SP-101), passando pelas avenidas Amoreiras e John Boyd Dunlop. A obra foi prevista em lei complementar municipal de 2004, no governo Izalene Tiene (PT) e iniciada na gestão Hélio de Oliveira Santos (PDT), mas está paralisada há dois anos. Até agora, somente os empresários arcaram com os custos.
Um dos investidores de Campinas, o empresário Maurício Mingone, afirmou que os trabalhos emperraram quando a Administração precisou fazer desapropriações para continuar a avenida. A crise política, logo em seguida, estagnou de vez o processo, que voltou a ser analisado este ano pela Secretaria de Planejamento Urbano. “O prejuízo não é somente para os empresários, que investiram de boa-fé esperando a contrapartida da Prefeitura. Toda a população perde sem a avenida, que iria trazer desenvolvimento para a região”, disse.
O arquiteto do projeto, Alfredo Ulson, disse ainda que o texto da lei que deu condições para criar a via é inconsistente e causa insegurança jurídica para investimentos na região. Segundo ele, o prefeito cassado decidiu que seria melhor começar a avenida para depois resolver as questões burocráticas. “Ele firmou um compromisso com os empresários e estabeleceu as condições para o investimento, mas depois o que se viu foi a inércia da Prefeitura para fazer as desapropriações”, disse.
Um dos imóveis que deve ser demolido para a continuação da via é o galpão industrial, que hoje é sublocado pela Enotec. A empresa é uma terceirizada da Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento (Sanasa) para fazer a despoluição de um trecho do Rio Capivari e a rede de esgoto local. O encarregado de transporte Enio Moreira, que mora há 23 anos com a família em uma casa que também precisa ser desapropriada, disse que a Administração nunca entrou em contato para negociar o imóvel. “Nós sempre escutamos boatos de que a área seria desapropriada, mas ninguém nos procura. E esse boato existe há mais de 10 anos”, contou.
Planejamento
O secretário de Planejamento e Desenvolvimento Urbano de Campinas, Ulysses Semeghini, informou que a pasta realizou neste ano um levantamento para que as desapropriações sejam feitas o mais rápido possível e que o estudo já foi encaminhado para a Secretaria de Negócios Jurídicos. “O trabalho é muito complexo, mas acreditamos que o sistema viário é muito importante para a região e estamos trabalhando da melhor forma possível, inclusive para evitar que a obra volte a embargar”, disse.
População
Enquanto perdura o impasse, a população da Vila União e da Vila Mingone continua sofrendo com o trânsito da região. A analista financeira Marcela Mazuki, de 28 anos, moradora de uma casa próxima à avenida inacabada, disse que a via aliviaria o trânsito da Amoreiras. “Hoje, para chegar até a Ruy Rodriguez, tenho que dar uma volta imensa, sendo que moro a menos de 600 metros da avenida”, disse. O militar Genésio David Telles, utiliza a via para praticar corrida. “Mas queria mesmo poder trafegar de carro na avenida pronta. Para a população da Vila União, onde moro, seria uma mão na roda para cortar caminho”.