EMPRESAS

Aumentam as indústrias na região de Campinas com queda de produção e faturamento

Sondagem do Ciesp-Campinas compara desempenho entre março/abril e maio

Edimarcio A. Monteiro
25/05/2022 às 09:16.
Atualizado em 25/05/2022 às 09:16
Levantamento mostra que 32% das empresas reduziram os estoques de produtos finais para comprometer um valor menor de recursos e, assim, não afetar o fluxo do capital de giro (Kamá Ribeiro)

Levantamento mostra que 32% das empresas reduziram os estoques de produtos finais para comprometer um valor menor de recursos e, assim, não afetar o fluxo do capital de giro (Kamá Ribeiro)

O número de indústrias que registraram queda no volume de produção e no faturamento aumentou sensivelmente em apenas um mês, na região de Campinas. Quase dobrou a quantidade de empresas que precisaram reduzir a produção: de 29% em março e abril para 45% este mês. A queda no faturamento — que atingia 35% das empresas da região em março/abril — agora afeta 55% delas. É o que revela a Sondagem Industrial Mensal divulgada na terça-feira (24) pelo Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) Campinas, que conta com 494 empresas associadas, distribuídas em 19 municípios da região. Apesar da queda no desempenho, o diretor titular do Ciesp-Campinas, José Henrique Toledo Corrêa. afirma que o quadro “não é tão negativo”, pois a maioria das empresas (55%) manteve a produção em relação ao mês anterior (32%) ou aumentou (23%). Quanto ao faturamento, a maioria (55%) teve realmente queda, pois apenas 18% conseguiram aumentar seus ganhos e outros 27% permaneceram estáveis em maio. 

Em março/abril, 42% das empresas que participaram da sondagem disseram ter aumentado o volume de produção, 29% mantiverem-no estável, enquanto outros 29% diminuíram. Em relação ao faturamento, naquele período anterior, 53% tiveram aumento, 12% ficaram estáveis e 35% tinham sofrido diminuição. As empresas associadas do Ciesp tiveram um faturamento conjunto de R$ 41,52 bilhões ao ano e empregam quase 100 mil colaboradores.

Avaliação da entidade

Para Corrêa, o quadro mostrado pelo novo balanço “não é tão complicado, tão ruim assim”. Isso porque, outros resultados da sondagem mostram uma situação estável em maio, como 68% mantiveram o número de funcionários, 9% contrataram e 23% diminuíram os postos de trabalho. No período março/abril, 35% demitiram, 53% mantiveram o nível de empregos e 12% aumentaram. Além disso, 50% mantiveram a margem de lucro, 14% aumentaram e 36% tiveram queda.

“A gente sente que os dados atuais são reflexos da inflação mundial, do pós-pandemia e ações que estão atrapalhando o nosso dia a dia”, afirma o diretor-regional do Ciesp. Entre essas ações, ele cita os aumentos dos juros e dos combustíveis. A Selic, que é a taxa básica de juros, passou para 12,75% ao ano este mês, o décimo aumento seguido. Já os combustíveis tiveram reajuste de 18,8% nas distribuidoras somente no mês de março.

Outros dados

A sondagem de maio mostra ainda que 95% das empresas registram o mesmo volume de inadimplência e 5% diminuíram. Quanto ao endividamento, 36% “diminuíram como estratégia para redução de risco (exposição financeira)”, 59% ficaram estáveis e 5% diminuíram graças ao desempenho positivo no faturamento. 

O levantamento do Ciesp mostra ainda que 27% das empresas operam com 80,1% a 100% da capacidade produtiva, 23% entre 70,1% e 80%, 14% de 50,1% a 70% e 36% entre 0 a 50%.

Quanto aos custos de produção, 64% enfrentaram aumentos com matérias-primas, componentes ou peças, 36% tiveram queda ou permaneceram inalterados. 

Além disso, 69% das empresas registraram alta nas despesas com energia elétrica, água e transporte, 22% não tiveram variação e 9% diminuíram. 

A sondagem mostrou também que 32% das empresas reduziram os estoques de produtos finais, 36% mantiveram e 18% aumentaram. De acordo Corrêa, a diminuição de estoques é reflexo da decisão das empresas de comprometer um valor menor para não afetar o fluxo do capital de giro. 

A sondagem do Ciesp mostra ainda que 54% das empresas não pretendem realizar investimentos para aumentar a capacidade produtiva nos próximos 12 meses, 23% atualizarão o maquinário existente e o mesmo índice ampliará o número de máquinas. 

Para o diretor regional, esse panorama não está relacionado ao momento eleitoral que o País atravessa e considera que não há risco de um retrocesso institucional. Ele avalia que o risco que o País corre é de “retrocesso político” e diz que é preciso que “a Justiça prevaleça”, mas o que há são “decisões monocráticas do Judiciário, interferindo tanto no Executivo quanto no Legislativo”, 

O levantamento mostra ainda que 59% das empresas consideram fundamental e obrigatório o aumento da oferta de crédito e juros mais baixos para a retomada do crescimento industrial. Outros 27% consideram importante e 14% consideram que isso não interfere. 

Guerra

A pesquisa do Ciesp aponta ainda que 50% das empresas consideram que os efeitos econômicos da pandemia de covid-19 e da guerra entre a Rússia e a Ucrânia causarão recuo na globalização; 36%, aumento; 14% não têm avaliação.

O diretor regional considera que a doença e o conflito causam até agora reflexos na produção por causa da falta de itens essenciais para produção e aumento no preço das commodities. 

Para ele, os países precisam montar estratégias para reduzir a dependência de produtos, como é o caso de chips fabricados principalmente nos países asiáticos. Corrêa considera que isso pode ser uma oportunidade para investimentos em novas fábricas, o que resultaria no aumento da oferta de empregos.

A pesquisa mostra que 90% consideram que a desindustrialização do País é um problema grave e precisa de ações para ser revertida e 10% não têm uma avaliação sobre o tema. 

Para evitar o fechamento de empresas, o diretor do Ciesp defende a redução do chamado custo Brasil, que são dificuldades estruturais, burocráticas, trabalhistas e econômicas que atrapalham o crescimento do País, influenciam negativamente o ambiente de negócios e encarecem os produtos nacionais.

Comércio exterior 

A pesquisa do Ciesp mostra que, em abril, as exportações das empresas da região totalizaram R$ 294,2 milhões, 18% a mais do que o mesmo mês de 2021. No acumulado de janeiro a abril, as vendas ao exterior totalizam R$ 1,09 bilhão, alta de 26,9% em comparação a igual período do ano passado. Já as importações cresceram 21,7% em abril, chegando a R$ 979,9 milhões. No primeiro quadrimestre, o acumulado é de R$ 3,99 bilhões – 18,6% a mais do que os R$ 3,37 bilhões dos primeiros quatro meses de 2021.

O diretor de Comércio Exterior do Ciesp-Campinas, Anselmo Riso, considera que o aumento nas exportações é resultado de conquistas de novos mercados pelas empresas. Os principais produtos exportados pela região são máquinas, caldeiras, produtos plásticos e químicos orgânicos. Entre os importados, prevalecem as máquinas, aparelhos e materiais elétricos. 

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