TRAÇADO POLÊMICO

Aumenta a pressão por linha do Trem-Bala em Campinas

Ciesp e os deputados Jonas Donizette e Carlos Sampaio reforçam o movimento

Ronnie Romanini/ [email protected]
25/02/2023 às 09:33.
Atualizado em 25/02/2023 às 09:33
Os dormentes da estrada de ferro no Pátio Ferroviário aguardam a chegada do prometido Trem Intercidades (TIC), enquanto o Trem-Bala torna-se um sonho cada vez mais distante (Kamá Ribeiro)

Os dormentes da estrada de ferro no Pátio Ferroviário aguardam a chegada do prometido Trem Intercidades (TIC), enquanto o Trem-Bala torna-se um sonho cada vez mais distante (Kamá Ribeiro)

A exclusão de Campinas do traçado do novo projeto para a implementação do Trem de Alta Velocidade (TAV), ou Trem-Bala, mobilizou mais setores da sociedade após as críticas feitas pelo prefeito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos), e de Jaguariúna, Gustavo Reis (MDB), que também é presidente do Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Campinas (CD-RMC), grupo que conta com os 20 prefeitos da RMC. O diretor titular da regional do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp-Campinas), José Henrique Toledo Corrêa, apontou que a TAV Brasil, empresa que recebeu a autorização da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) para dar início à construção e exploração do projeto, precisaria explicar de forma pública e transparente o motivo da região estar ausente do que o Ciesp classifica como um "importante projeto".

"O Trem de Alta Velocidade é, sem dúvida, importante para uma cidade do porte de Campinas e também vai beneficiar toda a RMC e o interior de São Paulo. Portanto, é importante que esse modal tenha ligação com o aeroporto de Viracopos, que, por todas as razões que sabemos, vai ampliar o desenvolvimento econômico de toda a nossa região (...) é fundamental que a empresa que está à frente do projeto explique, de maneira clara, como uma metrópole regional tão importante como Campinas - a segunda maior do Estado, não está contemplada com uma estação, como São Paulo e São José dos Campos", afirmou Corrêa. 

A empresa TAV Brasil ainda não explicou as razões da exclusão de Campinas do projeto e informou que fornecerá mais detalhes após a assinatura de contrato com a ANTT, ainda sem data para ocorrer. A concessionária Aeroportos Brasil Viracopos foi procurada e não quis comentar o assunto, mas afirmou que a melhora que os moradores da região teriam na qualidade do transporte com o Trem de Alta Velocidade é um fato.

O Ciesp-Campinas lembrou que a necessidade de uma ligação rápida de toda a região, contemplando Viracopos, é uma defesa de muito tempo da entidade. "Nos alinhamos a todas iniciativas nesse sentido e participamos ativamente, enquanto representantes da indústria regional, de todas as iniciativas que foram feitas ao longo das últimas décadas." 

Deputados se manifestam e prometem mobilização O ex-prefeito de Campinas, Jonas Donizette (PSBSP), também deputado federal e um dos vice-líderes do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), informou que pediu uma audiência com o ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), para tratar do assunto. "Acho inadmissível. Quando esse projeto começou, a grande viabilidade comercial era o trecho Campinas-São Paulo. O trecho São PauloRio de Janeiro não tem a viabilidade comercial que tem o trecho de Campinas-SP, então eu vou lutar para que aquele trajeto permaneça". 

Jonas explicou que foram os estudos feitos à época que mostraram que o trecho paulista do Trem de Alta Velocidade sustentaria o projeto pelo fluxo de demanda. 

O deputado federal Carlos Sampaio (PSDB-SP) disse que estará ao lado do prefeito Dário Saadi na luta pela inclusão do município na proposta aprovada. "Na segunda-feira, pela manhã, estarei em Brasília e vou me inteirar do parecer da ANTT para saber qual a razão de Campinas não ter sido contemplada no projeto, porém, desde já, me coloco à disposição do Dário para agendar uma reunião junto ao governo do Estado ao Ministério da Infraestrutura." 

Gustavo Reis e Dário criticam exclusão de Campinas 

Na quinta-feira, o prefeito de Jaguariúna, Gustavo Reis, disse que procuraria a ANTT para agendar uma reunião e tratar da não inclusão de Campinas no traçado do empreendimento, já que o porte da RMC justifica que ela seja contemplada no novo projeto.

"É um absurdo a Região Metropolitana de Campinas, que é a segunda maior do Estado e que tem uma população maior que a do Uruguai, ficar de fora desse projeto do Trem-Bala. Como presidente do Conselho de Desenvolvimento da RMC, vou procurar a diretoria da ANTT para a realização de uma reunião em que vamos pedir a inclusão de Campinas. Esse projeto é um desejo antigo de Campinas e região e trará maior mobilidade para as pessoas e mais desenvolvimento para a RMC, que já tem o Aeroporto Internacional de Viracopos como importante modal de transporte de passageiros e de cargas", opinou o presidente do CD-RMC. 

Dário mencionou que procuraria os deputados eleitos pela região para mobilizar forças e reverter a decisão. Ao mesmo tempo, ressaltou os esforços da Administração Municipal junto ao Governo do Estado de São Paulo para a implantação do Trem Intercidades (TIC), ligando Campinas a São Paulo. O edital de licitação do TIC deve ser publicado ainda neste semestre, de acordo com a previsão do Estado. A avaliação é que no curto e médio prazo, o TIC é o projeto mais viável e que beneficiaria milhares de pessoas que transitam diretamente entre Campinas e São Paulo. "É um projeto que conta com total apoio e entusiasmo do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos)". 

Jonas Donizette também lembrou do TIC ao afirmar que um projeto não pode inviabilizar o outro, e que o próprio governador de São Paulo deveria se preocupar com o tema. "O que não pode acontecer é o que ocorreu da outra vez: São Paulo abrir mão do projeto do TIC para esperar sair o TAV. Isso não pode acontecer", alertou o deputado do PSB. Há uma expectativa de que o governo estadual publique um edital para o Trem Intercidades no próximo mês. O leilão aconteceria ainda este ano, no segundo semestre. A estimativa é a de que a viagem entre Campinas e São Paulo seja feita em 64 minutos. Serão R$ 10 bilhões investidos, com o governo estadual fazendo um aporte de R$ 7 bilhões. 

Projeto anterior e o atual 

No início do desenvolvimento do projeto anterior, em 2009, havia a expectativa de que o Trem de Alta Velocidade ligasse Campinas ao Rio de Janeiro, passando por São Paulo. Uma das hipóteses era que Campinas pudesse ter uma linha construída no canteiro central da Rodovia dos Bandeirantes. Campinas teria uma estação em Viracopos e ligaria à sua área ferroviária da região Central ao aeroporto. Entretanto, não houve a adesão esperada dos interessados no leilão. Houve uma determinação da ANTT em 2012 de que o TAV teria que ser finalizado e entregue até o final do primeiro semestre de 2020, o que não aconteceu por diversos motivos, como a divergência entre os valores estimados pelo Governo Federal e pelas empresas e também a crise política e econômica da década passada. 

Agora, o cronograma para a implantação do novo empreendimento, considerando que ele realmente comece este ano, prevê o início das operações ferroviárias para junho de 2032. A obra teria 378km, com a ferrovia tendo a velocidade máxima projetada de 350 km/h e o trem podendo superar os 300 km/h. Ainda são necessárias algumas etapas até a concretização. A aprovação não garante por si só que o empreendimento seja concluído. Outra diferença é que este projeto é um investimento privado e a autorização para construção e exploração do TAV por parte da ANTT tem um período de vigência de 99 anos. O modelo de operação tem o objetivo de viabilizar investimentos do setor privado na construção de ferrovias sem que, para isso, haja a necessidade de se realizar leilão e pagamentos de outorga. 

A ANTT fará o acompanhamento dos projetos em todas as autorizações, mas as obrigações de obtenção dos licenciamentos junto aos órgãos competentes, o desenvolvimento dos projetos de engenharia e de viabilidade socioambiental, a busca de financiamento e a definição das etapas da obra serão de responsabilidade da empresa, segundo o governo federal.

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