MOBILIDADE URBANA

Atrasos e histórias marcam linha mais longa da cidade

Somando ida e volta, o itinerário da linha 266 percorre cerca de 65 quilômetros

Bruno Luporini/[email protected]
16/03/2025 às 08:09.
Atualizado em 16/03/2025 às 08:09
Todos os dias em Campinas, cerca de 445 mil pessoas embarcam nos mais de mil ônibus que circulam pelas 233 linhas (Rodrigo Zanotto)

Todos os dias em Campinas, cerca de 445 mil pessoas embarcam nos mais de mil ônibus que circulam pelas 233 linhas (Rodrigo Zanotto)

O deslocamento urbano movimenta diariamente milhares de campineiros. São pessoas que se deslocam para o trabalho, estudo, consultas médicas, passeio, compras e lazer. Dentro desse universo, o transporte público exerce papel crucial para garantir o direito de ir e vir. De acordo com a Prefeitura Municipal, são cerca de 445 mil pessoas que entram nos mais de mil ônibus que circulam pelas 233 linhas todos os dias.

Uma dessas linhas se destaca pela distância percorrida. É a linha 266, que sai do Parque São Jorge, com destino ao Hospital de Clínicas da Unicamp. Somando a ida e a volta, o itinerário percorre cerca de 65 quilómetros, com passagem por pontos importantes da cidade como o Terminal Padre Anchieta, Amarais, Shopping D. Pedro, passando ainda por dentro da PUC-Campinas e Unicamp. A linha tem uma extensão de 32,98 km, quase a mesma que separa, por exemplo, Campinas de Itatiba e trecho de percurso pela rodovia Dom Pedro I (SP-065).

Para averiguar como é fazer uma viagem na linha, a reportagem do Correio Popular foi até o ponto de partida, localizado na rua Reginaldo Aparecido da Silva Furlan, em frente à entrada do Condomínio Parque das Veredas, próximo da divisa com Hortolândia. O ponto de ônibus é coberto e conta com a sombra de algumas árvores. Defronte, um galinheiro quebra o silêncio junto com o fluxo de caminhões de serviços. No local também existe um restaurante que serve de apoio aos motoristas.

A equipe esperava a partida do veículo às 9h45, porém, ele não apareceu no horário. Outro ônibus, da linha 252, parou e seus ocupantes perguntaram por qual ônibus o repórter e o fotógrafo aguardavam. Ao saber que era a linha 266 ele respondeu: "Tem que ter um pouco de paciência, mas daqui a pouco ele passa", disse.

Foi mais de uma hora de espera, até que o ônibus cinza, com capacidade para 25 pessoas sentadas e 30 em pé, apareceu para iniciar a viagem das 10h55. Como ar condicionado ligado, para amenizar o calor que fazia, o motorista Carlos, há oito anos operando no itinerário, recebeu a equipe cordialmente. No segundo ponto de parada, oito pessoas esperavam para embarcar.

Uma delas é a funcionária da Unicamp, Taciany Simões, 22. Há um ano ela utiliza a linha diariamente para ir até a universidade e, assim como a reportagem, também aguardava pelo carro das 9h45. "Ele sempre atrasa cerca de 10 a 15 minutos, e, algumas vezes como hoje, nem passou". Ela sugeriu que sejam colocados mais carros na linha, reduzindo o tempo de espera e diminuindo a lotação, frequente em horários de pico. "É uma rota muito boa e, graças a ela, preciso pegar apenas um ônibus e não dois". Dessa forma, Taciany poderia voltar também como 266, pois ela optou, na hora de retornar para casa, por utilizar o fretado da Unicamp. "Ele volta muito lotado à tarde, por isso, como eu trabalho na universidade, prefiro utilizar o fretado". 

Já para o estudante de Ciências Sociais, André da Silva, 18, tanto a ida quanto a volta da Unicamp são feitas diariamente com o 266. A rotina começou há três semanas e o universitário ainda está se adaptando. "As viagens são muito cansativas, especialmente quando tem esses atrasos como hoje, o ideal mesmo seria se eu morasse em Barão Geraldo", refletiu André, enquanto arrumava os fones de ouvido e ajeitava a mochila com os materiais de estudo.

Sentado no meio do veículo, estava o passageiro Ezequias Almeida, 51. Ele trabalha como fiscal de loja no shopping há três anos, por isso precisa utilizar a linha para ir ao trabalho todos os dias, incluindo os finais de semana. Porém, Ezequias prefere voltar utilizando dois ônibus, um para o centro e outro para o bairro Parque Santa Bárbara, onde mora. "Isso porque na volta no final da tarde, ele vem muito lotado e a volta é muito longa, por isso compensa pegar outras linhas". O fiscal considera que o ônibus está em boas condições e o ar condicionado é um alento para os dias mais quentes. Mas para melhorar, ele concordou com Taciany, deveria ter mais carros na linha. "O atraso é o principal problema, especialmente aos finais de semana. Quando atrasa muito tenho que ir de Uber, que é um gasto a mais no orçamento".

Já dentro da Vila Padre Anchieta, embarcou a funcionária da PUC-Campinas, Eliana Gama, 53. Ela contou que a linha é muito útil tanto para funcionários quanto para alunos da universidade, uma vez que a linha entra no Campus I, parando no ponto da Biblioteca Central. "Esse foi um pleito nosso e há um ano e meio, depois que fizemos um abaixo-assinado, conseguimos que a linha entrasse no Campus". Segundo ela, essa conquista melhorou significativamente a agilidade para quem trabalha e estuda na PUC. "Assim não é mais preciso se deslocar a pé de fora do Campus, e, no mesmo ponto em que ele para, conseguimos pegar o ônibus interno, que desce para as faculdades de Direito e Educação Física".

Uma hora e quinze minutos depois, Carlos estacionou o veículo no Hospital de Clínicas, cumprimentou a reportagem que descia do veículo e sorridente exclamou: "Agora tem a volta". Durante o trajeto, cerca de 50 pessoas utilizaram a linha. A maioria era composta por estudantes universitários e funcionários do shopping. Havia também quem utilizava o 266 para se deslocar pela região de Barão Geraldo. Como relatou a estagiária em Pedagogia Bruna Silva, 23. Ela embarcou na Biblioteca da PUC rumo ao trabalho em Barão Geraldo. "Eu normalmente pego a linha 329, mas o que passar primeiro me ajuda, pois as duas linhas passam onde preciso descer".

O tempo total de ciclo da linha, em dias úteis, nos horários de pico, é de cerca de 135 minutos (ida e volta); sendo 70 minutos de ida e 66 minutos de volta. Em dias úteis, a linha atua com quatro veículos, com intervalos de 34 minutos nos horários de pico e dois carros nos demais horários. Também em dias úteis, as partidas do Residencial Veredas ocorrem entre 4h50 e 22h40. E as partidas da rua Vital Brasil (Unicamp) ocorrem entre 6h e 23h50.

Questionada sobre os pedidos dos passageiros ouvidos pela reportagem, a Emdec informou que possui poucas reclamações sobre lotação na linha. E realiza pesquisa de carregamento constantemente, quando chega algo. Os níveis de carregamento da linha, nos horários de pico, estão dentro do patamar aceitável. Pelas pesquisas, não ocorre nenhuma viagem com carregamento máximo.

As reclamações sobre a linha 266, que mais chegam à Emdec são por conta do não cumprimento dos horários. A autarquia explicou que muitas vezes o trânsito lento na rodovia, em grande parte do dia, por conta do fluxo intenso de veículos, impacta na operação e cumprimento de horário da linha.

A linha 266 recebe fiscalização da Emdec, pelo menos, duas vezes na semana. O ponto inicial da linha 266 é junto com as linhas 251, 252, 256 e 257, no Parque São Jorge. Ele fica na última rua que divide Campinas com Hortolândia. E, muitos moradores da cidade vizinha, utilizam a linha para deslocamento até a Unicamp.

Por fim, a Emdec afirmou que continuará monitorando a operação da linha. E realizará ajustes na operação, se forem necessários.

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