Segundo o sindicato da categoria, a defasagem do número de funcionários e o aumento da população prejudicam a pontualidade das entregas
Zelador de condomínio no Cambuí, Aparecido do Valle diz que o atraso nas correspondências foi constante durante 2015 naquela região (Dominique Torquato)
O atraso na entrega de correspondências através dos Correios começou a se tornar comum nos últimos meses em várias regiões de Campinas, independentemente de paralisações ou problemas com assaltos, situações que marcaram a atuação da empresa pública ao longo dos últimos dois anos. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores em Correios, Telégrafos e Similares de Campinas e Região (SintectCas), a defasagem do número de funcionários e o aumento da população prejudicam a pontualidade. “A empresa está em um patamar de mudar os prazos e alternar as distribuições entre os bairros”, disse o diretor sindical Fábio Rogério Xavier. Moradores ouvidos pela reportagem relatam inclusive que houve aumento no prazo de entrega de encomendas. Condomínios da Avenida Professora Dea Ehrhardt Carvalho, no Gramado, bairro nobre da cidade, enfrentam problemas com as correspondências há cerca de cinco meses, segundo moradores. “Demoram para chegar. Tem vez que ficam um mês sem vir e quando vêm, vêm em malotes”, relata um porteiro, que recebeu a última leva de correspondências na semana passada. Em outra portaria, as reclamações por atrasos são diárias. “O gerente chegou a ligar nos Correios e disseram que estão sem funcionários e estão tentando agilizar o máximo possível”, contou uma funcionária. Na Vila Industrial, moradores sentem o atraso desde o início deste ano. “Minhas faturas estão chegando todas atrasadas, algumas uma semana depois da data de vencimento”, lamenta a aposentada Lorene Dornellas, de 55 anos. A dona de casa Irene Silva, de 72 anos, sentiu grande diferença no trabalho dos Correios nos últimos meses. “Estava esperando uma encomenda do Paraná agora em fevereiro e chegou dez dias depois. Da outra vez, no início de janeiro, veio em dois dias. A correspondência vinha todo dia e desde o início do ano passa a cada dois ou três dias.” A aposentada Zilda Zakia, de 63 anos, sentiu o problema no Chácara Primavera. “Desde que teve aquela greve longa do ano passado passei a receber a fatura atrasada”, afirmou ela, que acaba recorrendo a segunda via das contas pela internet. No Cambuí, o zelador Aparecido do Valle, de 65 anos, explica que a correspondência voltou a ficar em dia desde o início do ano, depois de um 2015 de atrasos. “Tinha dia que não vinha, porque não tinha funcionários.” Até mesmo na Rua Barão de Jaguara, no Centro de Campinas, aconteceu o atraso de correspondências nos últimos dois meses. “O pessoal passa na portaria reclamando”, comenta o porteiro Diógenes de Oliveira Santos, de 26 anos, que trabalha em um condomínio empresarial. Ele também notou o aumento no tempo de entrega de encomendas. “Encomendas de outros países demoram de um mês e meio a dois meses para chegar. Quando é perto, demora um mês. Dobrou o tempo de espera do ano passado para cá.” Foto: Dominique Torquato Na Vila Industrial, Lorena Dornellas teve prejuízos com contas que chegaram após a data do vencimento Criminalidade Desde janeiro de 2014, muitos moradores de Campinas, Sumaré e Jundiaí sofrem com a restrição de entrega de encomendas em 73 áreas consideradas de risco conforme o número de crimes registrados. O Jardim Nova América, em Campinas, é uma das áreas. De acordo com o presidente da associação de moradores do bairro, o assistente administrativo Filipe Marquesi, de 24 anos, a região inteira precisa tirar encomenda direto no Centro de Distribuição Domiciliária do Jardim do Lago, inclusive ele buscou um presente de casamento na unidade há duas semanas. Segundo o sindicato da categoria, apenas um concurso resolverá o problema dos atrasos, já que o último aconteceu em 2011, com menor expressividade, e de 2008 para cá, contando aposentadorias e demissões voluntárias, e levando em consideração o aumento populacional, o déficit nas 83 cidades representadas é de 700 trabalhadores — atualmente são 4 mil ao todo. “Seria o suficiente para restabelecer o serviço que hoje não é prestado, que é o cumprimento dos prazos. Se os moradores estão sendo prejudicados, devem procurar o Procon para que também ajudem a restabelecer o serviço”, ressalta o diretor Fábio Xavier. A direção dos Correios foi procurada pela reportagem para se manifestar sobre os problemas relatados, por meio de sua assessoria de imprensa. No entanto ninguém retornou contato até o fechamento desta edição. Empresa enfrentou quatro greves nos últimos 2 anos Nos últimos dois anos, foram quatro paralisações nos Correios. A mais recente aconteceu por conta do atraso do pagamento do plano de saúde no último dia 18, com duração de um dia e adesão de ao menos 70% dos trabalhadores em 11 cidades da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Em setembro do ano passado foram 13 dias de greve que garantiram aumento linear dos salários em R$ 150,00 e, a partir do início deste ano, gratificação incorporada ao rendimento de 50% — 25% em agosto e 25% em janeiro do ano que vem, além de reajuste de 9,56% sobre vale-alimentação, vale-cesta, reembolso creche/babá e auxílio para os empregados que têm filho com deficiência. No entanto, uma solução para o déficit de trabalhadores não foi dada. Cinco meses antes, as agências dos Correios em Barão Geraldo e Sousas ficaram sem funcionar por cinco dias após assaltos. Durante o período, os moradores dos distritos de Sousas e Joaquim Egídio precisaram usar as agências na Avenida José de Souza Campos para retirar ou enviar encomendas. Na época, os moradores do bairro Santa Terezinha, no distrito de Ouro Verde, já reclamavam do atraso de correspondências por pelo menos seis meses. A sobrecarga de trabalho foi motivo de paralisação de quase dois dias em março de 2015, que contou inclusive com passeata nas ruas do Centro. A mobilização foi motivada após a demissão de 435 funcionários terceirizados ocorrida no início do ano — segundo os Correios foram 247 —, o que exigiu mutirões para o escoamento das encomendas e cartas aos fins de semana. A diminuição de trabalhadores levou atraso nas entregas de correspondências em bairros como Vila Georgina, Nova Europa e Taquaral, além dos distritos do Ouro Verde e Campo Grande. Entre as 20 cidades da região, as mais afetadas foram Nova Odessa e Jaguariúna, que não conseguiam receber correspondências nem nos postos de distribuição. Entre fevereiro e março de 2014, aconteceu a mais longa greve do biênio, considerada ilegal pelo Ministério Público do Trabalho. Os trabalhadores reivindicavam a manutenção do convênio médico, a realização das entregas no período da manhã e o cumprimento do plano de carreiras. A mobilização acabou em 13 de março, mas as entregas de cartas e encomendas só foram totalmente restabelecidas ao longo de abril, com mutirões e horas extras.