CONFUSÃO

Ato pelo direito da mulher termina na delegacia

Estudante de 29 anos é detida pela polícia acusada de pichação na região central e provoca revolta de manifestantes

Alenita Ramirez
09/03/2018 às 22:21.
Atualizado em 22/04/2022 às 16:57
Movimentação na delegacia após a detenção da jovem, que foi liberada (Divulgação)

Movimentação na delegacia após a detenção da jovem, que foi liberada (Divulgação)

O ato em defesa do direito das mulheres organizado por diversos coletivos, entidades e lideranças e que seria realizada no Centro de Campinas, quinta-feira à noite, no Dia Internacional da Mulher, acabou na delegacia, com uma estudante de 29 anos detida e uma mulher de 60 anos supostamente agredida pela Polícia Militar (PM). A confusão começou depois que policiais militares que faziam a cobertura do evento teria flagrado um casal pichando portas de um estabelecimento comercial com os dizeres “Diga à violência não”. Durante a abordagem, segundo consta no boletim de ocorrência registrado no plantão do 1º Distrito Policial (DP), o rapaz correu e a estudante, como não percebeu a chegada dos policiais, foi detida. Inconformados, os manifestantes que estavam por perto, protestaram e deu-se início a um tumulto. “A PM abordou de forma truculenta, fechando cerco e colocando a estudante contra a parede. Acusou ela de pichar a parede, mas os manifestantes falaram que não era ela. Houve um empurra-empurra e mulheres manifestantes levaram soco, uma senhora de 60 anos teve o celular arrancado da mão pela polícia, que a empurrou e ela caiu e desmaiou e os policiais não fizeram nada. Houve muitas denúncias de agressão, mas ninguém quis fazer registro”, contou a advogada Cristiane Anizeti, integrante do Coletivo 15 de Outubro, que participava do ato e acompanhou a estudante. A estudante foi ouvida pela polícia e liberada em seguida. Ela foi relacionada como “averiguada”. A confusão aconteceu a duas quadras do Largo do Rosário, onde houve a concentração. Cerca de 200 manifestantes fariam uma caminhada pela Avenida Francisco Glicério, com faixas e cartazes em prol da luta dos direitos da mulher. “Quando percebemos a confusão, tentamos identificar o comandante da PM para conversar, mas não achamos. A PM foi muito truculenta. Disseram que acharam um spray lilás na mochila da estudante e realmente usamos spray para fazer as faixas, mas a frase pichada era nas cores laranja, branco e vermelho, ou seja não era a cor que ela estava. A minha tese, a pichação não aconteceu durante o ato, mas anteriormente. É muito lamentável a PM tentar tirar uma manifestante com acusações infundadas. Fez com que o ato mudasse a rota e desviasse até o 1º DP”, disse Cristiane. O grupo ocupou a delegacia e com o grito de guerra “Não acabou, tem que acabar, queremos o fim da Polícia Militar” ficou na recepção até ser orientado a esperar do lado de fora. Parte do grupo permaneceu na Rua Sebastião de Souza à espera de uma definição. “Quando os manifestantes chegaram na delegacia, havia outras vítimas para fazer boletins de ocorrência. Mãe com crianças pequenas, uma mulher com uma filha deficiente ficaram assustadas. Sem contar que havia um cartaz roxo e escrito em preto que ‘Deus é travesti’. Achei um absurdo. É legítimo o ato, mas não deveriam ter feito o que fizeram. A PM realmente agiu errado, mas não precisava de toda aquela algazarra”, disse um servidor público que estava no local. Outro lado A assessoria de imprensa da PM foi procurada no final da tarde de sexta-feira, mas devido ao horário, a corporação disse que apuraria as informações com detalhes e responderia em momento oportuno. “Infelizmente, por conta do tempo exíguo para levantamento de todos os dados, não poderemos informar com detalhes todos os dados sobre os casos apontados pela reportagem”, frisou.

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