INSATISFAÇÃO POPULAR

Ato defende o SUS e condena terceirização da rede pública

Protesto realizado em frente à UPA São José marca o Dia Mundial da Saúde

Ronnie Romanini
08/04/2022 às 09:43.
Atualizado em 08/04/2022 às 09:43
Manifestantes exibem cartazes em protesto contra a terceirização dos serviços de saúde da rede municipal, em ato realizado ontem pela manhã em frente à UPA São José (Kamá Ribeiro)

Manifestantes exibem cartazes em protesto contra a terceirização dos serviços de saúde da rede municipal, em ato realizado ontem pela manhã em frente à UPA São José (Kamá Ribeiro)

No Dia Mundial da Saúde celebrado ontem, um ato em defesa da saúde da população campineira aconteceu pela manhã em frente à UPA São José. População, lideranças comunitárias, conselheiros de saúde e vereadores estiveram presentes e discursaram com críticas à terceirização de serviços nos hospitais e UPAs geridos pela Rede Mário Gatti de Urgência, Emergência e Hospitalar e em defesa do SUS. O local foi escolhido por ser um ponto de preocupação. Os usuários acreditam que a UPA está sucateada, com superlotação, falta de profissionais e até alimentação para pacientes que ficam internados. Ainda há o aumento na procura pela unidade depois de muita demanda represada nos dois anos desde o início da pandemia. 

O fechamento da UPA Centro, em 2016, também teria levado mais moradores a procurar a São José. Para a maioria dos que discursaram, esse é um reflexo de uma política pública voltada a beneficiar empresas e empresários - e não a população. Em suas falas, muitos insinuaram que todo esse processo de sucateamento pode ter um propósito: levar a população a acreditar que os serviços não estão bons e que terceirizar seria a solução. Para embasar os argumentos contrários, eles citaram o imbróglio envolvendo a contratação da Organização Social que faria a gestão da UPA Campo Grande. 

A empresa originalmente contratada, a OS Instituto Saúde e Cidadania (Isac), foi desclassificada após as suspeitas de irregularidade. A segunda colocada foi acionada, a Associação Beneficiente Cisne. Pouco após assumir a gestão, o contrato foi suspenso por uma liminar revogada dias depois. O motivo da revogação foi que o contrato já estava em andamento e, de acordo com a decisão, a suspensão seria prejudicial dada a relevância dos serviços prestados que já haviam começado. 

"Nós denunciamos o processo de contratação que foi no mínimo controverso. Contrataram a primeira colocada cheia de processos na justiça e ela não conseguiu ficar por causa disso. A segunda colocada também é cheia de processos e é a que está comandando hoje a UPA Campo Grande. O jeito que se fez esse edital para contratar a empresa foi de acordo com quem fizesse a proposta mais barata. Quem coloca o cuidado da sua vida para alguém que vai trabalhar com o esquema mais barato? Isso não se sustenta. Tem que melhorar as condições de trabalho, de funcionamento, humanizar o atendimento e não entregar para empresa privada, porque a maneira que se faz isso em Campinas é a pior possível.", afirmou a presidente do CMS, Nayara Oliveira. 

Nayara ainda criticou a gestão da Rede Mário Gatti que teria planos de terceirizar a gestão de todas as UPAs. "A UPA é um lugar que a população precisa encontrar atendimento de qualidade. O que temos visto em Campinas, especialmente depois que a Rede Mário Gatti assumiu a gestão a partir de 2018, foi um prejuízo dos serviços que foram sendo sucateados, destruídos, massacrados, inclusive os trabalhadores. E temos a informação - em cima de conversas inclusive com a direção da própria Rede Mário Gatti - de que a ideia é privatizar todas as UPAs de Campinas." 

Outro manifestante e conselheiro municipal de saúde que foi aos microfones foi Lúcio Rodrigues. Ele também é coordenador do Movimento Popular de Saúde (MOPS). Usuário da UPA São José, ele relatou alguns problemas existentes. "Eu estive aqui há dois dias e só tinha um banheiro, homem e mulher usando um único, mas de determinado horário de ontem (quarta-feira) para cá os dois foram liberados. Temos também problemas de fluxo de pacientes. Quando chega alguém falando que está sintomático ele não tem espaço físico separado, continua no meio das demais pessoas que estão lá para outro tipo de consulta. Outra questão é a das pessoas internadas. Uma boa parte delas, por muitas vezes, não tem alimentação. São informações que conseguimos aí dentro. Não dá para permanecer da forma que está. Serviço público precisa ter gestão e condições, a primeira dela é ter trabalhadores e funcionários públicos. Sabemos que muitas vezes uma mãe chega e tem clínico, mas não tem pediatra, ou tem pediatra, mas não tem clínico. É muito comum as pessoas chegarem, baterem a porta na cara e terem que ir para outra unidade de saúde e isso não concordamos, não aceitamos e vamos cobrar desse governo." 

O ato foi convocado pelo Conselho Municipal de Saúde (CMS), Movimento Popular de Saúde (MOPS), Frente Pela Vida em Defesa do SUS e pela subsede de Campinas da Central Única dos Trabalhadores de São Paulo (CUT-SP). 

Rede Mário Gatti 

Ainda na quarta-feira, antes do protesto, a Rede negou a falta de alimentação para os internados e disse que o serviço é prestado por uma empresa contratada, "que fornece as refeições conforme as necessidades dos pacientes e nos horários previstos". Em relação à suspeita de que mais terceirizações estão por vir, a Rede informou que "não há estudo sendo feito para que isso ocorra e que a lei de criação da Rede Mário Gatti é clara ao estabelecer que a gestão da unidade é prerrogativa da Rede". 

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por