SEMEANDO IDEIAS

Ativista de Campinas desperta consciência ecológica com árvore frutífera

Da primeira muda plantada por ele aos 16 anos surgiu a ideia de montar projeto

Thiago Rovêdo
04/06/2022 às 10:10.
Atualizado em 04/06/2022 às 10:10
Crianças moradoras do Parque Oziel e Jardim Monte Cristo participam do projeto de plantio de árvores frutíferas e demonstram grande entusiasmo e envolvimento com o trabalho desenvolvido no bairro (Kamá Ribeiro)

Crianças moradoras do Parque Oziel e Jardim Monte Cristo participam do projeto de plantio de árvores frutíferas e demonstram grande entusiasmo e envolvimento com o trabalho desenvolvido no bairro (Kamá Ribeiro)

Luan José Tierri de Sousa tinha apenas 16 anos quando manteve o primeiro contato com atividades sociais - plantou uma árvore em um projeto da escola. Quatorze anos depois - em 2020 -, ele fundou a sua própria entidade que trabalha em prol de um objetivo: plantar árvores frutíferas em comunidades carentes ou com pouca estrutura de Campinas. Nesses dois anos, foram desenvolvidas três ações em diferentes pontos do município por meio da Reviva Planet Green.

No dia 6 de abril deste ano, Luan esteve reunido com um grupo de voluntários, além de moradores e crianças do bairro Vila 31 de Março, para plantar 15 árvores frutíferas em uma área pública do local. O trabalho do grupo, porém, não se resume a chegar, cavar um buraco na terra, jogar a semente e esperar a natureza cuidar do restante. Há todo um manejo prévio e subsequente para que o plantio realmente dê certo.

Luan explicou que, antes da plantação, primeiro é preciso entender melhor o tipo de solo da região, de forma a escolher as árvores frutíferas mais adequadas às condições oferecidas no espaço do plantio. Há frutíferas que se desenvolvem bem em solos ricos e férteis, outras espécies se adaptam melhor a solos mais arenosos.

"Eu faço uma análise dos locais que entendo ser promissores. Também temos consultoria de engenharia ambiental, biólogos que ajudam a entender quando plantar, qual plantar, o espaçamento. Também precisamos fazer a preparação do solo. Há toda uma revitalização do espaço que vai muito além do plantio", explicou.

Luan José Tierri de Sousa prepara o solo para plantar árvores frutíferas, tendo ao fundo o Jd. Monte Cristo (Kamá Ribeiro)

Luan José Tierri de Sousa prepara o solo para plantar árvores frutíferas, tendo ao fundo o Jd. Monte Cristo (Kamá Ribeiro)

Todas essas ideias surgiram quando Luan era ainda adolescente. Por ter boas notas na escola, foi escolhido para participar de um projeto de responsabilidade social. Tratava-se da ação de uma empresa da região que fazia o plantio de mudas com a participação de alunos de unidades educacionais. Luan explicou que, até hoje, visita o local onde plantou a primeira árvore de sua vida.

"Fui escolhido por conta de minhas notas. Realizei o plantio que, por sinal, foi até aqui próximo de casa e tive a oportunidade de acompanhar o crescimento dessa árvore. Sempre que posso, vou lá sentar e ver o pôr do Sol e acompanho o crescimento dela. Há até mesmo uma forma online de identificá-la, saber a espécie e coisas assim", comentou.

Luan explicou que, em 2015, iniciou um negócio de produção de cachorro quente e chegou a ter seis lojas - cinco em Campinas e uma em Florianópolis, em Santa Catarina. Com o início da pandemia e as restrições que a acompanharam, foi obrigado a fechar praticamente todos os estabelecimentos. Apesar da conturbação, foi nessa época que surgiu a ideia de criar o Reviva.

"Com a pandemia, começou a cair o faturamento, precisei ir fechando as lojas e, no final, fiquei com apenas duas. Eram muitas restrições e não tinha como mantê-las. 

Durante esse período, nas visitas à minha árvore, ficava pensando porque ela não dava fruta. Também pensei por que não existe nenhum projeto do poder público, por exemplo, que plante árvores que deem frutas", lembrou.

O primeiro passo dado por Luan foi ir atrás de regiões menos desenvolvidas da cidade, que envolvessem não somente uma população mais vulnerável, mas que também não tivesse tanto contato com a natureza ou que houvesse degradação ambiental. Na sequência, ele foi em busca de parceiros para financiar o projeto e, por fim, angariou voluntários.

"Conhecia uma ONG no Oziel, falei do meu projeto e desenvolvi a primeira ação. Conseguimos plantar 45 árvores e hoje cerca de 35 estão vivas. Depois disso, procurei o Poder Público, que se comprometeu a me ajudar. Depois fui ao Centro de Compostagem, que também me ofereceu apoio e me dá o composto. Fui no viveiro municipal de Campinas e também consigo sementes. Como lá é limitado por CPF, os voluntários vão lá e pegam e conseguimos bastante com isso", contou.

Após esta ação, Luan conta que outras duas já ocorreram. No dia 20 de fevereiro deste ano, houve uma corrida de rua em Campinas e como parte das comemorações, houve o plantio de 60 árvores no parque do Instituto Biológico. A mais recente ação foi na Vila 31 de Março, com 15 árvores plantadas.

Luan diz que hoje faz sempre uma análise prévia dos locais que entende que possam ser promissores. Depois, como sempre se trata de área pública, procura a Prefeitura para saber se há projetos em andamento ou planos futuros para o terreno que irá receber as árvores. Ele avaliou que seu trabalho, juntamente com voluntários e moradores locais, pode sim ajudar a mudar uma parte, mesmo que pequena, do mundo.

"As crianças que participam gostam muito. Trabalham mais que os adultos. Eles não aguentam nem o peso do balde de terra, mas fazem de tudo para ajudar. Também vejo a questão de pertencimento, porque os moradores, a criança, eles vão cuidar para que a árvore floresça. Para sempre aquele plantio vai fazer parte da vida dela", disse.

Com 12 anos, a moradora do Parque Oziel, Fernanda da Lima Silva, já tem uma árvore próxima da sua casa que ela se orgulha de ter sido plantada durante o projeto. "Foi bem legal participar no dia e até hoje a gente fica de olho, para ver se estão crescendo direito ou também para ninguém tirar as plantas de lá. Eu gostei de saber que também ajudei um pouco o meio ambiente", disse.

Voluntária no projeto desde fevereiro deste ano, Renata Coelho, que também é embaixadora do lixo zero em Campinas, contou que começou a fazer parte do projeto após um encontro casual com Luan e que desde então participou de todos os plantios.

"Eu tenho um projeto que chama Juntos pela Natureza e tenho um grupo que anda junto comigo. Estávamos fazendo uma visita na Usina Verde e encontrei o Luan lá, falando que ele ia fazer um projeto de plantar árvores no Instituto Biológico. Achamos incrível este projeto", contou.

Renata explicou que tenta participar, junto com outro grupo de voluntários, de todos os eventos promovidos pela Reviva Planet Green. "Todo o plantio que o Luan vai, nós procuramos ir. Depois deste primeiro, fomos até uma praça no Parque Oziel, levamos muda e ajudamos no plantio", disse.

A embaixadora considera que o projeto incentiva ainda mais as pessoas a cuidarem do meio ambiente. "Acho importante, porque o plantio de árvores dá o exemplo e quanto mais gente tiver esse exemplo, melhor. O Luan mostra que é possível, mostra ali na prática que o plantio de árvores é importante para o futuro do planeta", afirmou.

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