EM EVENTO EM CAMPINAS

Atacarejos serão o futuro do setor supermercadista no País

Previsão foi feita na abertura da Convenção da Associação Brasileira de Supermercados

Edimarcio A. Monteiro [email protected]
20/09/2022 às 17:09.
Atualizado em 20/09/2022 às 17:09
Duas das maiores redes do país anunciaram investimentos para converter hipermercados em atacarejos; setor também projeta expansão das vendas on-line nos próximos anos (Rodrigo Zanotto)

Duas das maiores redes do país anunciaram investimentos para converter hipermercados em atacarejos; setor também projeta expansão das vendas on-line nos próximos anos (Rodrigo Zanotto)

O futuro do setor supermercadista no Brasil passa pela substituição dos hipermercados por atacarejos e expansão das vendas online. A afirmação foi feita ontem pelo vice-presidente de Ativos Setoriais da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Rodrigo Cantusio Segurado, ao participar da abertura da convenção nacional do setor, realizada em Campinas. Duas das maiores empresas do setor no País, que são controladas por grupos franceses, já anunciaram investimentos em lojas que atuam no atacado, mas também atendem clientes do varejo.

Uma delas iniciou, este ano, investimentos de R$ 5,2 bilhões na conversão de seus 71 hipermercados no Brasil — dos quais três em Campinas — em atacarejos. A outra rede de hipermercados anunciou, no mês passado, investimentos de R$ 2 bilhões no País, focando na abertura de 20 novas unidades nesse formato e em lojas de vizinhança (supermercados em bairros), mas não revelou quantas serão.

Outro dado que mostra essa tendência é que das 163 novas lojas programadas para este ano no País, praticamente a metade é de atacarejos — 80 no total —, enquanto 83 serão de supermercados, de acordo com a entidade do setor.

“O hipermercado está morrendo como formato”, disse o empresário. Para ele, o futuro das lojas físicas passa pela adoção de modelos mais enxutos nos bairros para atender a áreas menores. De acordo com o vice-presidente da Abras, as mudanças no segmento são determinadas pelos clientes. “O formato a ser adotado é definido pelo consumidor, que hoje busca menores preços e novos serviços”, explica.

Segundo o vice-presidente da Abras, os atacarejos têm um modelo mais enxuto, menos sofisticado e um giro de mercadorias capaz de oferecer preços menores ao consumidor final. Com isso, têm uma rentabilidade melhor, com margem de lucro entre 5% e 8%, contra 3% dos hipermercados.

Atualmente, o setor supermercadista nacional fatura R$ 611 bilhões por ano, o equivalente a 7,3% do Produto Interno Bruto (PIB), sendo formado por 92 mil lojas, que geram 3 milhões de empregos direitos e indiretos e atendem 28 milhões de clientes por dia.

A convenção em Campinas reúne em torno de 1.200 empresários e executivos de supermercados, que representam 90% do faturamento do setor. Entre eles, o empresário Abílio Diniz, que também foi um dos palestrantes.

Negócios

Rodrigo Cantusio Segurado também vê espaço para o aumento das vendas online. Após registrarem aumento exponencial de 900% entre março de 2020 e julho de 2021, segundo levantamento de uma empresa de tecnologia para varejo, por causa do isolamento social provocado pela covid-19, as compras virtuais voltaram ao patamar pré-pandemia.

Atualmente, representam entre 1% e 5% do faturamento no Brasil, contra 51% na China e 25% nos Estados Unidos. Para garantir preços mais atrativos, o vice-presidente da Abras defende que as empresas devem fazer uso do ecossistema supermercadista, dispensando a contratação de terceiros. Isso pode ser feito, por exemplo, usando cartão de crédito e financiamento do setor (em vez de recorrer ao mercado financeiro), marketplaces (espaços virtuais que reúnem várias lojas de comércio eletrônico) e novas tecnologias.

Convenção da Abras reúne cerca de 1.200 empresários e executivos de supermercados, dentre os quais o empresário Abilio Diniz (Rodrigo Zanotto)

Convenção da Abras reúne cerca de 1.200 empresários e executivos de supermercados, dentre os quais o empresário Abilio Diniz (Rodrigo Zanotto)

Reivindicações

Na abertura da convenção, o presidente da Abras, João Galassi, também apresentou reivindicações do setor ao Congresso Nacional para melhorar o ambiente de negócios. Entre elas, a mudança da lei que trata das multas aplicadas pelos serviços de proteção ao consumidor, os Procons, atualmente baseadas no valor do produto e faturamento da empresa. Para o empresário, a dosimetria da autuação tem de ser alterada para não afetar a saúde financeira dos autuados.

Ao receber o pedido, o presidente da Frente Parlamentar pelo Brasil Competitivo, deputado federal Alexis Fonteyne (Novo-SP), defendeu a alteração. “A aplicação de multas desproporcionais se transforma em custo e tem duas consequências: quebra a empresa ou é repassada para o consumidor”, disse. Galassi também defendeu autorização para que os supermercados possam vender medicamentos que não precisem de prescrição médica. Segundo ele, é um meio de universalizar o acesso ao produto.

O presidente da Abras defendeu ainda alterações no mercado de cartões de crédito como forma de reduzir as taxas de serviço. Ele citou que a mudança já foi feita com os cartões de alimentação, por meio da lei 14.442, sancionada este mês. Outra reivindicação foi a redução de impostos estaduais que incidem sobre a cesta básica de alimentos, assim como ocorreu com os tributos federais.

Para Galassi, o setor atravessa um “bom momento”, com aumento nas vendas de 2,57% entre janeiro e julho deste ano. Em relação a junho, a alta foi de 7,75%, de acordo com estudo do Departamento de Economia e Pesquisa da Abras.

O presidente da entidade ressalta que a tendência é otimista para os próximos meses diante do quadro macroeconômico. A expectativa é de continuidade de crescimento do consumo diante do aumento de R$ 400 para R$ 600 do Auxílio Brasil (antigo Bolsa Família), antecipação do 13º salário dos aposentados e pensionistas, saque extraordinário do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), restituição do Imposto de Renda, redução de impostos/tributos (energia e combustíveis) e recuo da taxa de desemprego, que fechou o trimestre de maio a julho em 9,1%. No mesmo período de 2021, era de 13,7%.

Presidenciáveis

A Convenção Nacional da Abras será encerrada hoje com a participação de dois candidatos à Presidência da República, Jair Bolsonaro, que busca a reeleição, e Ciro Gomes (PDT), que serão submetidos a uma sabatina pelos participantes. O convite foi feito aos quatro melhores colocados nas pesquisas de intenção de votos, mas Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Simone Tebet (MDB) não poderão participar por compromissos assumidos anteriormente.

Eles apontaram a possibilidade de participação de seus vices na chapa, Geraldo Alckmin (PSB) e a senadora Mara Gabrilli (PSDB), respectivamente. Porém, a entidade supermercadista justificou que era necessário manter a isonomia em relação aos outros dois que confirmaram presença.

Bolsonaro, que está em Nova York (EUA) para a abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), fará uma participação virtual às 14 horas. Ciro Gomes participará presencialmente às 11h30.

Durante a convenção, Galassi chegou a brincar sobre os questionamentos que sofre ao aparecer em fotos nas redes sociais com os candidatos a presidente. “Eles perguntam se pode. Claro que pode, eu sou comerciante, nós somos comerciantes”, afirmou. “É muito importante que as entidades de classe participem da agenda política do País, subsidiando os Poderes com informações e conhecimentos técnicos que deem subsídios para a tomada de decisões que gerem avanços concretos”, defendeu.

“É por isso que precisamos dialogar com todos aqueles que, daqui a poucos meses, representarão a população brasileira nos âmbitos estadual e federal”, completou.

Em um comunicado ao setor, Galassi também se manifestou a respeito das eleições em outubro. “Registro aqui o meu desejo para que todo o processo eleitoral ocorra de forma ética, equilibrada, harmoniosa e com muito respeito aos valores republicanos necessários à sustentação de um Estado de direito”, afirmou.

Campinas

Na abertura da Convenção da Abras, o prefeito Dário Saadi (Republicanos) ressaltou o cenário de Campinas como atrativo para receber investimentos do setor. Entre os aspectos positivos: a população de aproximadamente 1,2 milhão de habitantes; ser a 10ª cidade mais rica do País; sua posição estratégica no Estado — cinco das maiores rodovias brasileiras cruzam o município, conta com o Aeroporto Internacional de Viracopos e está a apenas 172 km do Porto de Santos.

Ele apontou também a redução de impostos municipais e a agilidade na aprovação de projetos como quesitos que tornam a cidade atrativa para receber novos supermercados e centros de distribuição.

Uma rede de supermercados, que é a maior do interior paulista e a 15ª do País em faturamento, de acordo com o ranking da Abras, inaugurou duas novas lojas em Campinas, chegando ao total de quatro. As novas filiais, no Jardim do Lago e na Vila Itapura, geraram 400 novos empregos. A quinta unidade está em construção no bairro Taquaral e criará mais 200 postos de trabalho. A rede conta hoje com 53 lojas em 17 municípios paulistas e emprega cerca de 10 mil pessoas.

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