A classe política brasileira, com as exceções de praxe, segue seu périplo na rabeira da avaliação e da reputação públicas. Os escândalos que tungaram o erário nos últimos anos continuam muito vivos na memória do eleitor. O gigantismo da máquina que sustenta, de forma geral, os poderes da República é inversamente proporcional ao interesse do cidadão, ou seja, gasta-se muito para manter uma estrutura que devolve aquém do esperado. Salários, verbas de auxílio, mordomias e penduricalhos agregados aos holerites são um câncer nacional. A pandemia impôs uma situação de aperto de gastos para todos os poderes, diante da queda brutal de receita por conta do fechamento das atividadse econômicas e pela necessidade urgente de garantir dotação para a Saúde, sufocada com a altíssima demanda do novo coronavírus. Sensíveis a esse momento, algumas lideranças no Brasil abriram mão de parte do salário e outras conduziram processos em suas casas legislativas para diminuição dos custos. Uma boa iniciativa foi tomada pela Assembleia Legislativa de São Paulo. O projeto que reduziu os vencimentos dos deputados estaduais e funcionários comissionados foi aprovado no dia 30 de abril. Com a aprovação, a Mesa Diretora da Casa promete doar R$ 320 milhões ao governo do Estado para o combate à pandemia da Covid-19 e outras medidas administrativas emergenciais. O projeto previa também a redução escalonada de 10% a 20% do salários e benefícios dos funcionários de cargos comissionados, dependendo da faixa salarial deles, mas a Justiça barrou essa parte após reação sindical. Campinas poderia dar o exemplo também, mas nem todos os vereadores quiseram abrir mão de seus salários. Por conta disso, conforme mostrou a coluna Xeque-Mate, do Correio, a ideia naufragou. Duas propostas estavam na mesa: vereador Paulo Galterio, do PL, com redução de 40% nos subsídios, e Filipe Marchesi, do PSB, que sugeria corte de 30%. A Presidência do Legislativo levou o assunto para a área jurídica da Casa, que deu parecer apontando que a medida seria inviável, observando que, caso quisessem, cada parlamentar poderia doar, individualmente, parte dos vencimentos como doação. O salário de cada vereador em Campinas é de R$ 10 mil. Na verdade, se a Casa tivesse mesmo interesse e engajamento no tema, um projeto de resolução já teria sido apresentado, votado e aprovado. A devolução do chamado duodécimo (R$ 6,8 milhões) à Prefeitura para uso no combate à pandemia é bem-vinda, mas muito protocolar. Faltou sensibilidade aos vereadores. Ainda há tempo.