LEUCEMIA

Artigo detalha ineficácia de medicamento chinês

Campineiro comprova presença de proteínas contaminantes

Rogério Verzignasse
16/03/2018 às 07:30.
Atualizado em 23/04/2022 às 06:30
O pesquisador Andrés Yunes, doutor em genética e biologia molecular, no Centro Infantil Boldrini (Dominique Torquato/AAN)

O pesquisador Andrés Yunes, doutor em genética e biologia molecular, no Centro Infantil Boldrini (Dominique Torquato/AAN)

O medicamento chinês importado pelo governo federal para o tratamento de crianças com leucemia tem apenas 30% da eficácia do alemão Aginasa, mundialmente reconhecido como eficiente e ministrado a pacientes do Centro Infantil Boldrini. O Ministério da Saúde optou por uma alternativa mais barata, e acabou distribuindo na rede pública uma droga com proteínas contaminantes, que reduzem o efeito dos antibióticos. A denúncia é de Andrés Yunes, doutor em genética e biologia molecular, que desde 1989 integra a equipe de especialistas do hospital campineiro. Para garantir o tratamento eficaz das crianças com leucemia, o hospital decidiu manter uma campanha pública para a arrecadação de recursos junto a colaboradores fiéis. O Boldrini precisa arrecadar R$ 500 mil a cada quatro meses para a assistência aos 70 pacientes que, anualmente, procuram por tratamento na instituição. “Não podemos colocar a vida das crianças em risco”, afirma o especialista. O detalhe é que 70% de todas as crianças assistidas pelo Boldrini são atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e não pagam pelo tratamento. A crítica severa à estratégia do governo federal não se reduz a reportagens em veículos de comunicação no Brasil. Yunes publicou na quarta-feira um artigo disponibilizado na íntegra no site da EBioMedicine, respeitada revista científica inglesa. Ele tenta chamar a atenção da comunidade internacional para o fato, e abastecer com subsídios possíveis ações judiciais em defesa de pessoas hipoteticamente prejudicadas pelo uso da droga chinesa. O L-asparaginase (nome do princípio ativo) é um medicamento primário essencial no tratamento da leucemia linfoide aguda (LLA), câncer mais comum na infância, que só no Brasil atinge cerca de três mil novas crianças a cada ano. Trata-se do princípio ativo usado tanto do Leuginase (nome comercial do remédio chinês) como no reconhecido alemão Aginasa. A falta de estudos clínicos e escassez de informações de segurança fornecidas pelo distribuidor do medicamento da China geraram o debate sobre as questões de segurança e eficácia da droga. No artigo publicado na revista inglesa, Yunes dá detalhes de seus estudos sobre a pureza, a biodisponibilidade e a imunogenicidade do Leuginase. As análises comprovaram a existência de 12 proteínas contaminantes, enquanto seu biossimilar apresenta apenas uma ou duas. Testes O chinês Leuginase também é mais imunogênico do que o similar. Testes realizados em ratos indicaram que os animais, na maioria dos casos, deixaram de responder à ação do princípio ativo, após o consumo do produto chinês, fabricado pelo laboratório Beijing SL Pharmaceutical. O resultado do estudo foi criticado pelo governo federal, sob a alegação de que a pesquisa feita com camundongos não pode ser extrapolada a humanos. Também explica que a deficiência apontada exclusivamente pelo Boldrini carece do respaldo de outras entidades científicas. O hospital O Centro Infantil Boldrini atua há 40 anos no cuidado a crianças e adolescentes com câncer e doenças do sangue. Atualmente, o Boldrini trata cerca de 10 mil pacientes de diversas cidades brasileiras e alguns de países da América Latina. Um dos centros médicos mais avançados do País, o Boldrini reúne alta tecnologia em diagnóstico e tratamento clínico especializado, comparáveis ao Primeiro Mundo, disponibilidade de leitos e atendimento humanitário às crianças portadoras dessas doenças. Mais informações podem ser obtidas no site www.boldrini.org.br.

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