Agência anuncia que veículos de Campinas não serão cobrados pelos pórticos em trechos urbanos
A Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp) anunciou, no começo da noite de ontem, que criará isenção para veículos com placas de Campinas no sistema de cobrança de pedágio Ponto a Ponto, em pórticos instalados em trechos das rodovias que cortam a cidade. O novo modelo cobra os motoristas pelo trecho percorrido e foi anunciado no final do ano passado pelo governo do Estado. A liberação vale no “trecho urbano” onde o Estado implantou praças do sistema na Rodovia Santos Dumont (SP-75) — Km 70,6 da via, próximo à entrada do Jardim Itatinga, e no Km 66,7, a cerca de 100 metros do acesso ao Aeroporto Internacional de Viracopos. A mudança no plano do governo evitará que moradores da cidade, que utilizam a rodovia como via de acesso entre bairros e para chegar ao aeroporto, passem a pagar pedágio quase que diariamente, se quisessem usar a nova modalidade. O usuário que optasse pelo sistema gastaria R$ 4,40 para ir e voltar do terminal aeroportuário, por exemplo.
A decisão foi tomada após o tema ser fortemente explorado durante a campanha eleitoral em Campinas. O candidato apoiado pelo governo estadual, Jonas Donizette (PSB), foi incessantemente atacado por seus adversários desde o início do pleito devido à instalação dos pórticos e pela falta de explicação de como esse novo modelo funcionaria.
Pelo modelo inicial do Ponto a Ponto, um grande número de motoristas que hoje não pagam para trafegar na rodovia, e que fazem deslocamentos curtos (não se deslocam para Indaiatuba, por exemplo), poderia ter de pagar pedágio pelo trecho trafegado. A intenção do Estado quando anunciou o novo sistema era fazer o teste na Santos Dumont e depois implantar o modelo nas demais rodovias. O que acarretou na insatisfação de motoristas da cidade — que é cortada por ao menos seis grandes rodovias. Na região de Campinas, as rodovias são utilizadas como verdadeiras vias urbanas.
A agência informou que as tags que serão instaladas nos veículos com placas da cidade serão programadas para não serem ativadas neste trecho, deixando, assim, a circulação livre. Apenas veículos com placas de Campinas ficarão isentos. O órgão do governo ainda não tem previsão de quando o sistema começará a ser implantado nos veículos da cidade. A liberação também funcionará para outras rodovias que cortam trechos urbanos de Campinas e que receberem os pórticos do novo modelo.
Para o cientista político e diretor da Faculdade de Ciências Sociais da PUC-Campinas, Pedro Rocha Lemos, o tema cobrança de pedágio tem apelo forte, pois atinge diretamente o cotidiano das pessoas que moram e trabalham às margens dessas vias. “O tema é de fundamental importância no processo eleitoral. Acaba sendo usado como estratégia que afeta o candidato adversário, que é aliado do governo estadual — que projetou o novo sistema. O apelo é muito grande e acaba refletindo na opinião do eleitor. Acredito que não foi uma boa hora de divulgação”, afirmou.
Carlos Alberto Bandeira Guimarães, especialista em Transportes e professor do Departamento de Geotecnia e Transportes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), afirmou que o novo modelo de cobrança de pedágio não deve ser confundido com pedágio urbano. “É diferente do de Londres, na Europa, onde houve uma restrição de circulação. Quem quiser circular no Centro, por exemplo, paga. Aqui não. A intenção é pagar pelo percurso que usou, que acredito ser mais justo. Porém, não concordo cobrar das pessoas que utilizam essa via em trecho urbano, que moram à beira dessas rodovias”, disse. O professor afirmou que o Estado tem as ferramentas para criar isenções. “Com a tecnologia existente nesses tags, é muito fácil criar um sistema que impede a cobrança de moradores da cidade ao passarem nesses pórticos.”
Tema dominou a disputa na campanha eleitoral
A cobrança de pedágio em trecho urbano de rodovias se tornou um tema emblemático na campanha eleitoral de Campinas. O assunto vai entrar para a história como um dos fatores que mais provocaram ataques e mudanças de cenário entre os candidatos Jonas Donizette (PSB) e Marcio Pochmann (PT), que disputam o pleito no segundo turno.
Os dois prefeituráveis travaram uma acirrada discussão sobre a implantação do novo sistema. Durante toda a campanha eleitoral, o candidato pessebista, que tem apoio do governador Geraldo Alckmin (PSDB) — autor da proposta de criação do Ponto a Ponto —, foi atacado pelos adversários.
Enquanto era atacado, Jonas insistia em afirmar que não haveria cobrança de pedágio urbano na cidade. Porém, nunca tinha explicado como isso ocorreria.
O assunto é polêmico em toda a Região Metropolitana de Campinas (RMC), porque as 19 cidades do bloco vivem o dilema de serem cortadas pelas principais rodovias do Estado de São Paulo. São, ao todo, 23 praças.
Nesta semana surgiu um fato novo. A campanha de Jonas passou a informar que foi a presidente Dilma Rousseff quem autorizou, em janeiro deste ano, o início da cobrança do pedágio urbano para tentar de alguma forma afetar a campanha do candidato adversário dizendo que o partido dela, o PT, é a favor deste tipo de cobrança.
A lei sancionada pela presidente permite ao município criar zonas de cobrança dentro da cidade para que as pessoas passem a priorizar o transporte coletivo. Em São Paulo, houve tentativa de criar este modelo nas marginais para diminuir o tráfego e o congestionamento.
Disputa
Jonas iniciou a disputa como líder isolado nas pesquisas de intenção de votos. A sua chapa majoritária é dividida com o PSDB. O pessebista passou a defender sua candidatura com o discurso principal de que mantém uma proximidade com as duas esferas do poder público, os governos estadual e federal. Porém, ao longo da disputa, a proximidade de Jonas com o governador passou a ser alvo dos adversários.
O PT, de Pochmann, fez diversas referências à cobrança da tarifa durante os debates e nos encontros entre os prefeituráveis. No primeiro turno, Pochmann ainda contava com o apoio do então concorrente, o prefeito Pedro Serafim (PDT), que também criticava a instalação do pedágio Ponto a Ponto e afirmava que a cobrança “era iminente”.
Alckmin chegou a vir a Campinas por duas vezes para desmentir a implantação do sistema de maneira onerosa aos moradores da cidade.Esta semana, já no primeiro debate do segundo turno, mais uma vez os candidatos voltaram a trocar alfinetadas tendo como foco o mesmo assunto. O conflito se estendeu e tomou conta do horário eleitoral na TV e no rádio e também nas redes sociais.
O candidato pessebista afirma que houve uma tentativa de confundir o eleitor com o discurso de cobrança de pedágio na cidade. “Pedágio urbano não existe e nem vai existir”, disse o candidato. Jonas não soube avaliar se o tema tem prejudicado sua campanha. O petista afirmou que o governo estadual foi precipitado ao implantar os pórticos sem consultar o município e a população.