CAMPINAS

Arquitetos criticam falhas no planejamento da rodoviária

Terminal deveria ter sido dimensionado para comportar o aumento natural do fluxo de pessoas a longo prazo e poderia estar integrado a um terminal de ônibus urbanos

Cecília Polycarpo
25/06/2015 às 05:00.
Atualizado em 28/04/2022 às 15:44
Local escolhido para fazer a rodoviária é inadequado: a área seria pequena para um empreendimento do porte do terminal (Elcio Alves)

Local escolhido para fazer a rodoviária é inadequado: a área seria pequena para um empreendimento do porte do terminal (Elcio Alves)

Os gargalos da Rodoviária de Campinas levaram arquitetos e urbanistas consultados pelo Correio a criticar o projeto e o local escolhidos para o terminal, que foi inaugurado em 2008. O prédio foi encomendado pelo ex-prefeito cassado Hélio de Oliveira Santos (PDT) e construído pela Concessionária do Terminal Rodoviário de Campinas (CTRC). O grupo é formado pelas empresas Equipav e Socicam, responsáveis pela administração do terminal e obra, respectivamente. Para os arquitetos, o Terminal Rodoviário Ramos de Azevedo deveria ter sido dimensionado para comportar o aumento natural do fluxo de pessoas a longo prazo e poderia estar integrado a um terminal de ônibus urbanos. A integração facilitaria o deslocamento de quem usa a rodoviária. Hoje, esses passageiros têm dificuldade para ir e vir de regiões mais distantes da cidade devido ao número restrito de linhas do transporte coletivo municipal no local. Eles também consideram pequenas as áreas reservadas aos táxis e ao embarque e desembarque. Os mesmos problemas estruturais foram apontados em recentes reportagens feitas pelo Correio. Em matéria publicada na quarta-feira (24), os taxistas pedem uma cobertura na rampa de acesso à portaria do terminal.Para o arquiteto e urbanista Fábio Bernils, o local escolhido para fazer a rodoviária é inadequado: a área seria pequena para um empreendimento do porte do terminal. Bernils ressaltou ainda que o arquiteto responsável fez o melhor que pode para adequar o equipamento à área. "O Ricardo Badaró fez diversos estudos até chegar nessa solução. Mas o local foi realmente mal escolhido". A melhor proposta, segundo Bernils, seria uma rodoviária descentralizada ou até dois terminais, como ocorre em São Paulo. Ônibus de outras cidades, como de Mogi Mirim, de acordo com ele, precisam dar uma volta grande para chegar até o terminal. "Os problemas com a fila dos táxis, que atrapalha o trânsito e o tumulto na área de embarque e desembarque são consequências do espaço apertado" . Como solução paliativa ao problema dos táxis, Bernils citou uma cobertura na rampa. "Mas não sei se arquitetonicamente a cobertura ficaria boa. Talvez o melhor mesmo seria encontrar um outro local para os motoristas". Outro arquiteto e urbanista de Campinas, João Verde afirmou que o problema do calor no ponto de táxi é uma consequência do terreno escolhido para implantar a rodoviária. "A rampa está virada para o lado oeste, onde está o sol da tarde. Não sei se há uma possibilidade de mudança" .ViárioO arquiteto Fábio Muzetti teve contato com o projeto da rodoviária quando ele foi finalizado e defende a construção. No entanto, ele afirmou que o projeto viário que se seguiria depois da inauguração, com alargamento de ruas e mudanças no trânsito, não foi implantado. "Por isso há tanto congestionamento e o gargalo no ponto de táxis. É um privilégio chegar em uma rodoviária no Centro da cidade, mas o passageiro não consegue sair de lá facilmente. Faltam linhas de ônibus". Ele critica também o tamanho dos elevadores, pequenos para passageiros e malas, e afirmou que a rodoviária deveria ter alguma área separada de parada rápida.SondagemO Correio fez uma sondagem em maio que apontou gargalos estruturais da rodoviária. Os problemas apontados por passageiros forma os mesmos dos especialistas. Além da dificuldade de conexão com o sistema de ônibus urbano, eles citaram a falta de espaço para todos os táxis autorizados, a confusão no embarque nos carros, a distância, falta de segurança e o preço elevado do estacionamento e número reduzido de guichês para compra de passagens (que provoca filas em horários de pico e na venda para cidades mais procuradas). Empresa de capital aberto que administra 150 rodoviárias e aeroportos no Brasil e no Exterior, a Socicam também é responsável pela manutenção de todo o terminal campineiro, dentro da CTRC. A administração, no entanto, é alvo de críticas frequentes. Escadas rolantes, elevadores e catracas de acesso às plataformas de embarque têm quebrado sucessivamente, e atrapalhado a vida de quem viaja. Os usuários reclamam também das dimensões das escadas rolantes, que são estreitas, e da dificuldade de acesso de acompanhantes às plataformas de embarque. Catracas restringem o espaço apenas a quem vai viajar, o que dificulta idosos, por exemplo, serem auxiliados por familiares.A rodoviária de Campinas recebe cerca de 10 mil passageiros por dia e foi terceirizada. A obra foi bancada pela CTRC que, como contrapartida, ficou encarregada de administrar o local por 30 anos. A principal fonte de receita da concessionária é a taxa de embarque, que custa hoje R$ 5,75 e é paga por todos os passageiros que embarcam no local. Em um cálculo simples, a empresa receberia R$ 57,5 mil por dia só com as taxas pagas pelos passageiros, o que daria cerca de R$ 1,750 milhão por mês. Além disso, a concessionária recebe pelos aluguéis das lojas do terminal e pela cobrança do estacionamento.Outro ladoEm nota, a Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec), informou que o terminal foi planejado em "gestões anteriores". Ainda segunda a Emdec, "compete à Administração Municipal solucionar eventuais problemas que possam surgir, a fim de não prejudicar a população de Campinas, nem os usuários do local". O Correio entrou em contato com o prefeito Hélio de Oliveira Santos (PDT) para comentar o projeto da rodoviária, mas ele não respondeu até o fechamento da matéria, às 19h de ontem. Anteontem, a Socicam foi procurada para comentar a possibilidade de se construir uma cobettura na rampa, mas não comentou o assunto.Desde setembro do ano passado, o Correio publica matérias relatando os problemas recorrentes na rodoviária. Apenas as escadas rolantes quebraram três vezes neste ano. Em abril, uma deles ficou uma semana sem funcionar. As falhas levaram a Prefeitura a abrir um processo administrativo para penalizar a rodoviária por descaso na administração, no dia 18 de maio. A Socicam entregou a defesa, e a Emdec, responsável por gerir o contrato de concessão, deve analisar o documento. A empresa dará parecer à Secretaria de Assuntos Jurídicos sobre os argumentos apresentados, antes de a Pasta aplicar ou não a penalidade. O conteúdo da defesa não foi divulgado e a Emdec não respondeu quando a análise ficará pronta.O que foi feitoManutenção das escadas rolantes e do elevadorContrato com uma nova empresa para o serviço de manutençãoConserto do forroO que não feitoProjeto de cobertura de passarela do estacionamentoRecuperação do asfalto da rua dE acesso exclusivo dos ônibus intermunicipais e da rodoviáriaSinalização para organizar a fila de táxi e passageiros no ponto dos taxistasCobetura da rampa dos taxistas para protegê-los do solColaborou Milene Moreto/ AAN

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