O estudo faz parte da tese de doutorado do aluno João Gabriel Motta, bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
Uma pesquisa do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp realizada na Província Mineral dos Carajás descobriu que as áreas favoráveis para a existência de depósitos minerais naquela região da Amazônia são mais amplas do que se imaginava, o que significa uma expansão dos terrenos que podem conter depósitos de cobre ainda desconhecidos. O estudo faz parte da tese de doutorado do aluno João Gabriel Motta, bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em um projeto coordenado pelo Professor Carlos Roberto de Souza Filho, financiado também pelo CNPq. A pesquisa utilizou dados de gravidade de satélite para revelar a extensão da crosta terrestre formada há bilhões de anos na Amazônia. O estudo, realizado na Província Mineral dos Carajás, teve a missão de compreender o contexto em que certos tipos de depósitos se formaram e tem implicações importantes para a prospecção de cobre, metal considerado estratégico devido a sua aplicação na indústria atual e futura de carros elétricos. O artigo com os resultados obtidos foi publicado no periódico Scientific Reports, pertencente ao grupo Nature, e contou ainda com a autoria dos Professores Emmanuel John M. Carranza e Carla Braitenberg, respectivamente das Universidades de KwalaZulu-Natal (África do Sul) e Trieste (Itália). Para a realização da análise, os cientistas utilizaram dados de duas missões de satélites disponibilizados gratuitamente pelo Gravity Observation Combination Version 05 — um modelo de representação da gravidade terrestre composto por informações obtidas pela Agência Espacial Europeia (dados GOCE), pela Administração Nacional do Espaço e da Aeronáutica (Nasa) e Agência Espacial alemã (dados GRACE). Esses dados foram processados para a obtenção da Anomalia Bouguer Completa — um produto que possibilita a interpretação da estrutura da Terra a respeito da possível densidade dos materiais presentes e sua disposição na crosta. Posteriormente, os resultados foram validados com a interpretação conjunta de dados de magnetismo e gravidade adquiridos por plataformas aerotransportadas e de estudos sismológicos terrestres, além de informações sobre a idade de cristalização das rochas e do material dos quais são formadas. A pesquisa revelou que a macro-estrutura geológica da região estudada é mais complexa do que pensava. Por exemplo, os terrenos localizados ao norte de Carajás, embora apresentem características distintas de terrenos vizinhos na perspectiva de superfície, compartilham atributos em maior profundidade ao longo da crosta e no manto litosférico. Com base nessas observações, os autores propõem novos limites para os terrenos da região de Carajás, confrontando 40 anos de geologia isotópica desenvolvida naquela área. "Em uma ótica prática, as nossas evidências e interpretações possibilitaram estender as áreas favoráveis para a existência de depósitos de cobre na Província Mineral de Carajás", afirma João Motta. Ineditismo Os autores explicam que a inovação do trabalho foi integrar dados gravimétricos e magnetométricos de várias fontes e validar observações extraídas de dados geofísicos orbitais, distribuídos gratuitamente e com cobertura global. A gravimetria orbital, em particular, revelou informações geológicas inéditas desde a superfície até grandes profundidades da crosta. "A gravimetria é uma ferramenta geralmente utilizada para a exploração geológica, mas com dados terrestres ou adquiridos por plataformas aerotransportadas. Embora já tenha sido utilizada para análise de regiões que hospedam depósitos minerais, os resultados até então eram restritos a análises em escala continental. Nosso estudo expandiu essa noção, focando, talvez pela primeira vez, na associação entre estruturas profundas e depósitos minerais", afirma o professor Carlos Roberto. Professor coordena missão brasileira em convenção O professor do Instituto de Geociências da Unicamp, Roberto Perez Xavier, coordenou a participação de uma missão brasileira na convenção anual da PDAC (em português, Associação de Prospectores e Desenvolvedores do Canadá), em Toronto, entre os dias 3 e 6 deste mês. Esse é o maior evento de exploração mineral e mineração do mundo, em que são apresentadas e debatidas as tendências, perspectivas e desafios. O PDAC 2019 teve mais de 25 mil participantes de mais de 130 países. Xavier é diretor executivo da Agência para o Desenvolvimento Tecnológico da Indústria Mineral Brasileira (Adimb). No evento foi apresentada uma nova plataforma gratuita de consulta de informações geológicas que vai colaborar com a transparência do setor. A plataforma foi desenvolvida pela empresa jazida.com em parceria com a Adimb e é destinada a universitários, engenheiros, geólogos, mineradores, garimpeiros e advogados interessados na gestão de processos minerários e licenças ambientais. Segundo Xavier, a participação do Brasil no evento foi extremamente positiva. “Mostrou a investidores internacionais o grande potencial mineral do País”, disse. Além disso, durante a convenção, autoridades governamentais do Brasil e do Canadá debateram avanços para a mineração sustentável, tendo Brumadinho em pauta. Xavier também participou de um encontro que reuniu o ministro Bento Albuquerque; a cônsul geral do Brasil em Toronto, Ana Leila Beltrame; o secretário parlamentar do Ministério de Recursos Naturais do Canadá, Paul Lefebvre; a cônsul geral do Canadá no Rio, Evelyne Columbe, além de representantes de diversas empresas que atuam no País.