ACORDO REALIZADO

Área cedida pela União terá projeto de bem-estar animal

Espaço ao lado do Jóquei centralizará vários serviços, incluindo o Samu Animal

Luis Eduardo de Sousa/ [email protected]
23/04/2024 às 08:57.
Atualizado em 23/04/2024 às 08:57
O atendimento aos animais feridos realizado no Bosque dos Jequitibás, como este gavião atingido por um disparo em uma de suas asas, será transferido para novas instalações (Kamá Ribeiro)

O atendimento aos animais feridos realizado no Bosque dos Jequitibás, como este gavião atingido por um disparo em uma de suas asas, será transferido para novas instalações (Kamá Ribeiro)

A União transferiu, na última quinta-feira (18), um terreno localizado no km 100 da Rodovia Anhanguera (SP-330), ao lado do Jóquei Clube, ao município de Campinas. A área, com cerca de 28 mil metros quadrados, será a sede do Centro de Integração Animal (CIA), projetado para se tornar um dos maiores centros de bem-estar animal do Brasil. A Secretaria do Clima, Meio Ambiente e Sustentabilidade de Campinas deve lançar, nos próximos meses, uma licitação para a construção do espaço. 

Segundo o projeto, o CIA terá quatro mil metros quadrados de edificações, incluindo o Samu Animal, uma clínica veterinária, um espaço para recuperação de animais silvestres, área de adoção, espaço para tratamento de animais domésticos, um aviário e instalações para animais de grande porte, além da sede administrativa do Departamento de Bem-Estar Animal (DPBEA).

O investimento para a construção do centro está estimado em R$ 5 milhões, financiados pelo Fundo Municipal de Recuperação, Manutenção e Preservação do Meio Ambiente (Proamb). O projeto foi concluído em 2019, mas aguardava a cessão do terreno para ser implementado.

O secretário de Clima, Meio Ambiente e Sustentabilidade, Rogério Menezes, afirmou que o progresso foi possível graças à mudança no Ministério da Agricultura, que era o proprietário do terreno. Menezes destacou que o sinal verde para o avanço do CIA representa a maior conquista da pasta nos últimos anos.

"Apresentamos o projeto à União em 2019, pois Campinas precisava de um espaço desse porte há anos, devido ao tamanho da cidade, da região e à quantidade de casos de animais necessitados. No entanto, esse espaço não poderia ser construído em qualquer lugar; precisava estar localizado com acesso às principais rodovias para atender ao Samu Animal, além de ser uma área ampla, com vegetação e que atendesse à comunidade local, ou seja, aos bairros vizinhos. A conquista é, sem dúvida, uma vitória", declarou Menezes, ressaltando que os recursos para a construção já estavam garantidos desde o início do projeto.

"Não haverá, no Brasil, com essas dimensões e características, um espaço similar a esse, dada a quantidade de serviços oferecidos no local", complementou o secretário.

Com a conclusão do CIA, o Departamento de Proteção e Bem-Estar Animal deve ser transferido para o local. Adicionalmente, o espaço também será responsável pelas instalações, tratamento e adoção de animais domésticos. Por fim, será criado primeiro Centro de Recuperação de Animais Silvestres (CRAS), que prestará atendimento aos animais feridos, atropelados, vítimas de caça ou contrabando. Atualmente, esse atendimento é realizado no Bosque dos Jequitibás.

No espaço também há projeção para construção de um "pracão" (espaço para lazer de cães), um piquete (para animais de rebanho), um lago, além de um almoxarifado, um auditório, vestiários e refeitório para os servidores.

Terreno localizado no km 100 da Rodovia Anhanguera, ao lado do Jóquei Clube, cedido pela União; área, com cerca de 28 mil metros quadrados, será a sede do Centro de Integração Animal (CIA), projetado para se tornar um dos maiores centros de bem-estar animal do Brasil (Kamá Ribeiro)

Terreno localizado no km 100 da Rodovia Anhanguera, ao lado do Jóquei Clube, cedido pela União; área, com cerca de 28 mil metros quadrados, será a sede do Centro de Integração Animal (CIA), projetado para se tornar um dos maiores centros de bem-estar animal do Brasil (Kamá Ribeiro)

RECONHECIMENTO

Durante a oficialização da cessão da área, realizada em evento da Frente Nacional de Prefeitas e Prefeitos (FNP), na quinta-feira (18), a ministra de Gestão e Inovação em Serviços Públicos, Esther Deweck, ressaltou a iniciativa de Campinas para outros gestores municipais. A Pasta, que era a então responsável pelo terreno, cedeu após negociação com município por uma área adjacente ao Parque do Café, no Taquaral, onde o Ministério da Agricultura mantém atividades administrativas há muitos anos e onde deseja permanecer.

"É gostoso ver quando se destina um bem da União para projetos incríveis, como é o caso desse de Campinas, voltado para a causa animal", frisou a ministra Deweck.

Segundo Menezes, a troca de governo também foi crucial para que a cessão saísse. O secretário disse que a antiga gestão do Ministério demonstrava pouco interesse em agilizar o processo, que é burocrático, o que aconteceu somente após a posse do atual governo. "Foi toda uma tratativa para que a gente pudesse obter essa conquista. Além de atender essa demanda do Ministério da Agricultura, tivemos, também, que apresentar o projeto sólido, justificar o uso do espaço para que se tornasse possível. Campinas já é referência nacional em assunto de bemestar animal, um das poucas cidades que têm Samu Animal, Consultório Veterinário Móvel e Castramóvel", complementou Menezes.

"Lutamos muito para conseguir essa transferência, para dar o próximo passo da proteção animal em Campinas, deste que será o maior equipamento da América Latina de proteção e bem-estar animal", afirma o diretor do DPBEA, Vagner Bellini.

Para o especialista na causa animal e presidente da Associação dos Amigos dos Animais de Nova Odessa (AAANO), Carlos Pinotti, o projeto é positivo, uma vez que institui mais estrutura disponível para atuar no segmento. Ele ressalta, no entanto, que as políticas públicas precisam focar na prevenção, para evitar que os espaços fiquem, cada vez mais, lotados.

"De forma geral, as políticas públicas voltadas à causa animal precisam ser ampliadas, estudadas, intensificadas e efetivadas. A gente tem que pensar na prevenção, conscientização e não só recolhimento de animais. Por isso que temos abrigos hoje lotados, com animais que passam a vida inteira dentro de uma baia, e isso não é vida, é uma prisão", disse.

"Na efetivação de políticas públicas há pouca punição aos que maltratam e cometem crimes. É necessário aumentar a punição para que outras pessoas não cometam os mesmos crimes, identificar os animais para que, quando recolhidos, se chegue até o dono e entenda o porquê de ter acontecido. Pensar em só recolher vai ser sempre isso e o animal vai ficar lá até morrer", complementou.

Cidade terá centro de bem-estar animal em área cedida pela União (Kamá Ribeiro)

Cidade terá centro de bem-estar animal em área cedida pela União (Kamá Ribeiro)

Para Pinotti, a conscientização precisa surgir por meio de três frentes, que seriam primordiais de serem praticadas por qualquer município para a boa efetivação de uma política pública voltada aos animais.

"A construção do espaço é, deveras, muito importante. Campinas já é uma cidade referência nas práticas de bem-estar animal. O que precisa manter, todavia, é a conscientização pelas três vias: punição, educação e controle de natalidade. Punição para coibir, educação para que se ensine nas escolas a importância do cuidado com o animal, que se informe sobre a adoção e a obrigação de manter o animal a vida toda e, enfim, a castração, para evitar que os animais se proliferem descontroladamente de modo a exigir mais que o próprio poder público tem de estrutura para atender", enfatizou.

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