Após reportagem, idoso é localizado pela família

Uma foto publicada pelo Correio na semana passada resolveu um mistério que já durava quatro anos na Secretaria Municipal de Cidadania, Assistência e Inclusão Social, em Campinas. Primeiro personagem retratado pela série de reportagens Identidade Perdida, um homem que era identificado apenas como João Noel — nome inventado com base no pouco que ele falava — foi reconhecido pela família, que mora em Sumaré. Na última terça-feira, dois irmãos estiveram na Casa do Idoso para um reencontro emocionante. A família apresentou documentos que comprovam que aquele senhor, na verdade, chama-se Noel Alves da Silva e que tem 59 anos.

Segundo informações dos parentes, ele trabalhava como pedreiro, teve um grave acidente de trabalho — um traumatismo craniano que comprometeu a sua capacidade neurológica — e foi obrigado a se aposentar por invalidez. Anos depois, após a morte da companheira, Noel desapareceu sem deixar pistas. Tudo leva a crer que seus problemas mentais o impediram de voltar. No dia 14 de abril de 2009, ele surgiu no Serviço de Atendimento ao Migrante, Itinerante e Mendicante (Samim), onde foi abrigado inicialmente.

“Ele continuará vivendo na Casa do Idoso porque os irmãos não têm como recebê-lo em suas casas. Mas, para nós, o fato da família ter nos procurado e mostrado interesse em restabelecer o vínculo já é uma grande conquista. Ficamos muito felizes de que o seo Noel tenha reencontrado a sua história”, comemora Kátia Rose Gonçalves da Silva, coordenadora setorial de proteção social especial para a população adulta em situação de rua da Prefeitura de Campinas. “Foi uma grande notícia para todos nós. Ficamos muito felizes com o que aconteceu depois de tanto tempo”, reforça Inês Jesus Rodrigues Cussolim, assistente social e chefe de setor no Samim, que também foi uma lutadora na busca por informações sobre Noel.

Além da alegria de voltar a ser alguém com documentos e família, a novidade também vai facilitar, e muito, o lado cidadão de Noel em outras áreas. Com a aposentadoria por invalidez, ele já recebia uma quantia mensal, que agora poderá voltar a ajudá-lo em suas necessidades. A identificação oficial possibilitou até que a Prefeitura descobri-se que Noel já tem um prontuário médico no Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Nós já tínhamos mandado ele para consultas na Unicamp, mas sem documentos sempre foi difícil. Eles mantinham lá um prontuário provisório. Agora, com a localização do prontuário oficial, ele terá acesso com mais facilidade”, explica Kátia.

Por um bom motivo, agora os integrantes da Secretaria Municipal de Cidadania, Assistência e Inclusão Social vão acionar o Ministério Público (MP) para cancelar o pedido de certidão tardia para Noel. Um papel que a tão sonhada visita de seus irmãos tornou inútil a partir de agora.

Abraço

Avesso a qualquer contato físico, Noel nunca permitiu que ninguém o tocasse, tanto no Samim quanto na Casa do Idoso. Sempre se mostrava incomodado com a aproximação. Na manhã do encontro com os irmãos, porém, mesmo sem conseguir falar, seus gestos mostraram que o momento era especial. Depois de quatro anos arredio, finalmente se deixou abraçar por aquele que ele reconheceu como alguém da sua família. Do total de nove irmãos, seis já faleceram. Só restaram Noel e os dois que finalmente surgiram.

Os parentes não permitiram fotos do encontro ou quiseram dar entrevistas. Mas, segundo os funcionários da Casa do Idoso, os dois irmãos mostraram um grande interesse em não perder mais contato com Noel. Já há a promessa de novas visitas. Gerações mais novas e até o enteado do ex-pedreiro também demostraram vontade de visitá-lo.