Foram 6.124 registros no ano passado, aumento de 9% sobre 2020, mas ainda muito abaixo da pré-pandemia
Cerimônia de casamento coletivo realizado ontem em Campinas abrangeu 13 casais, com direito à festa (Gustavo Tilio)
Após a forte queda de 25% em apenas um ano, devido à pandemia da covid-19, o número de casamentos em cartórios voltou a crescer em Campinas. Com 7.557 registros em 2019, as celebrações caíram para 5.621 em 2020, primeiro ano da pandemia. No ano passado, os casamentos também tiveram queda de 19% em comparação à pré-pandemia, mas já houve sinais de retomada, atingindo 6.124 — um aumento de 8,94% em relação a 2020. Na última segunda-feira (25), 13 casais que aguardaram anos para oficializar a união participaram de um casamento coletivo no Jardim Capivari.
Os dados são da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), que avalia que o aumento no número de casamentos no segundo semestre do ano passado coincide com o fim da segunda onda do coronavírus e à redução das medidas de distanciamento social. Antes, com a proibição de eventos, impedindo os casais de compartilharem o momento importante de suas vidas junto com parentes e amigos, muitos optaram por adiar os matrimônios, à espera da melhoria do cenário pandêmico.
Apesar do crescimento verificado em 2021 — com 6.124 casamentos —, o número ainda é baixo comparado aos anos anteriores. Somente em 2005, a quantidade de matrimônios (6.043) foi tão pequena como na pandemia.
A psicóloga, com especialização em família, Ananda Ribeiro de Fátima, entende que o principal fator é a segurança. A pandemia, segundo ela, trouxe muitas dúvidas sobre tudo que envolvia a vida da população, e se sentir seguro, sem medo da doença, é o que deu a possibilidade da retomada da vida normal, o que inclui a realização das cerimônias de casamento.
Na RMC
A Região Metropolitana de Campinas (RMC) seguiu o mesmo nível de queda constatado na cidade: redução de quase 26% nos casamentos de 2020 (17.678) em comparação a 2019 (20.203). Já o crescimento de matrimônios verificado no ano passado em relação a 2020 foi maior: de 18,12% na RMC, enquanto em Campinas foi de 8,94%. Entre janeiro e dezembro do ano passado, foram contabilizados 17.678 casamentos nos 20 municípios que compõem a RMC, enquanto que em 2020, 14.966. Esse aumento registrado na RMC no ano passado é, inclusive, maior do ocorrido no Estado de São Paulo, que ficou em 17,5%.
Em 2021, os meses que mais registraram casamentos nas 20 cidades foram outubro, novembro e dezembro e as faixas etárias que mais selaram a união são de 25 a 29 anos e 30 a 34 anos. Campinas foi, disparado, o município com o maior número de casamentos: 6.124, seguido por Sumaré (1.556 casamentos), Indaiatuba (1.400), Hortolândia (1.329) e Santa Bárbara (1.216). "Tradicionalmente, a sazonalidade dos casamentos indica que os últimos quatro meses do ano são preferidos para o início da união e, em 2021, esse período concentrou 41% do total de eventos registrados", diz a Fundação.
Casamento coletivo
Um projeto social realizado em uma ocupação no bairro Jardim Capivari pela 2ª Igreja do Nazareno de Campinas promoveu, na noite de ontem (25), um casamento comunitário que envolveu 13 casais. Todas essas pessoas já moram juntas e o sonho do casamento foi realizado, com direito a um dia todo de preparação de noivas e noivos, cerimônia, 12 convidados por família e uma festa para celebrar a união.
A advogada Isabel Santos, coordenadora de projetos sociais pela Associação Nazarena Vida Abundante, que foi a entidade idealizadora do evento, contou que, durante ações no bairro, percebeu que as crianças sentiam insegurança em relação à situação familiar. "Discutimos o assunto com os pais e começamos a falar da importância dessa oficialização, já que todos moravam juntos. Desenhei o projeto e busquei parcerias. Conseguimos cerimonialista, decoradores, confeiteiros e conseguimos a doação de tudo. Foi uma festa para quase 200 pessoas. Não se trata apenas de casamento, mas da realização de um sonho", disse.
A dona de casa Sirlei Fernandes, de 66 anos, se sentiu mal no domingo e precisou procurar o hospital. Mas lá ela foi logo avisando que não poderia ficar internada, porque ontem (25) seria seu casamento. Ela mora com o futuro marido há 32 anos. "É um sonho meu casar e agora consegui realizá-lo. Estou muito feliz. No hospital, avisei que precisava sair. O médico ainda brincou que o amor estava me animando", afirmou. Quem casou com Sirlei é o mecânico aposentado Osnir de Oliveira, de 73 anos. Ele disse que, no hospital, chegou a pensar que não conseguiria ir à igreja. "Chegamos a pensar em levar os homens para casar a gente no hospital. Era um sonho meu também casar. A única observação que fiz é que tem gente que fica cinco anos junta e depois separa. Assim que casa, começa a cobrança e nem sempre dá certo. Estou com a cabeça feita e vai continuar dando tudo certo, como dá há 32 anos", afirmou.
Já o encanador de 59 anos, Valdeir Marciano, acredita que casar oficialmente é o jeito de fazer tudo de forma correta, uma vez que mora junto com sua companheira há 11 anos. "Faz tempo que temos vontade de casar. Agora apareceu a oportunidade, Deus está nos abençoando", disse.
A professora de maquiagem Aricia Maia, de 41 anos, passou o dia ao lado das noivas trabalhando de forma voluntária. "Vim fazer a maquiagem das noivas, aproveitei e cuidei das sobrancelhas. É um dia muito especial e a maquiagem faz toda diferença. O pessoal me conhece faz tempo e me chamou. Já tinha sido voluntária em outros eventos", disse.