CORRUPÇÃO PASSIVA

Após confessar ter pedido propina, Zé Carlos renuncia ao mandato de vereador

Ele protocolou o pedido horas antes da reunião que votaria a criação de Comissão Processante que poderia resultar em cassação

Luiz Felipe Leite/[email protected]
01/07/2025 às 10:39.
Atualizado em 01/07/2025 às 10:45
Atual presidente do Legislativo campineiro, Luiz Rossini (ao centro) anunciou no início da reunião ordinária a formalização do pedido de renúncia de Zé Carlos, possibilidade que já circulava nos bastidores desde a semana passada (Kamá Ribeiro)

Atual presidente do Legislativo campineiro, Luiz Rossini (ao centro) anunciou no início da reunião ordinária a formalização do pedido de renúncia de Zé Carlos, possibilidade que já circulava nos bastidores desde a semana passada (Kamá Ribeiro)

O vereador Zé Carlos (PSB) renunciou ontem ao mandato como vereador na Câmara de Campinas. O parlamentar protocolou o pedido antes da reunião que votaria a abertura de uma Comissão Processante (CP) que poderia resultar na cassação do parlamentar, que fechou um acordo com o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) no qual admitiu o crime de corrupção passiva. Com isso, Ailton da Farmácia (PSB) será convocado nos próximos dias para assumir a vaga na Casa. Ele foi vereador entre 2017 e 2020. Os políticos da oposição afirmaram que o Legislativo local perdeu a oportunidade “de passar a história a limpo”. Já os parlamentares da base afirmaram que a saída do ex-presidente da Câmara foi necessária.

A carta de renúncia foi apresentada às 17h de ontem, por meio de um ofício presencial. Era o sexto mandato seguido de Zé Carlos desde a sua primeira eleição, em 2004, quando teve 7.323 votos. No último pleito, no ano passado, ele angariou 4.674 votos, sua pior votação desde o primeiro mandato. Na carta lida em plenário pelo 1° secretário, vereador Guilherme Teixeira (PL), Zé Carlos destacou que deixa a Câmara “com a certeza do dever cumprido e as contas aprovadas pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo”.

O pessebista ainda agradeceu aos vereadores e prefeitos da Região Metropolitana de Campinas que tiveram contato com ele ao longo de seus 20 anos como vereador. Por fim, Zé Carlos estendeu os cumprimentos aos seus eleitores, ao distrito de Nova Aparecida, em especial à Vila Padre Anchieta. “Agradeço a Deus, pois apesar de tudo que passei de 2022 para cá, ainda assim fui reeleito pela população, mas Deus sabe de todas as coisas que enfrentei e estou enfrentando, e é na justiça divina que eu acredito”, disse o parlamentar, que disse não ser um “adeus”, mas um “até breve”.

REAÇÃO

Nenhum vereador da base se manifestou sobre o assunto durante o pequeno expediente, momento em que os parlamentares utilizam a tribuna da Câmara de Campinas para abordar assuntos variados. Já os parlamentares da oposição criticaram a maneira que Ailton da Farmácia, também do PSB, será o substituto || || CIDADES o caso envolvendo Zé Carlos terminou. Guida Calixto (PT) afirmou que o Legislativo perdeu uma oportunidade de “corrigir um erro feito no passado”. Ela se referiu à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) de 2023. Na ocasião, o parecer elaborado pelo então relator, o ex-vereador Major Jaime, recomendou a abertura de uma CP para investigar e possivelmente cassar o mandato do político, mas a maioria dos vereadores votou contra o relatório na ocasião. “Perdemos a chance de passar a história a limpo. Na outra vez, na época da CPI, já estava evidente o que o Zé Carlos tinha feito. Ouvimos os áudios que vazaram na ocasião, com ele pedindo propina”, relembrou.

Integrante da base, Nick Schneider (PL) disse que a justiça foi feita – considerando o pedido de renúncia. “Ele teve seis mandatos seguidos, construiu um legado político e acaba dessa maneira, saindo da Câmara. Não cabe a nós julgarmos os motivos que o levaram a renunciar, mas eu entendo que a justiça foi feita.”

Carlinhos Camelô (PSB), líder da bancada do PSB na Câmara, afirmou que ele e os outros parlamentares da legenda presentes na sessão votariam a favor da criação da CP se o vereador não tivesse renunciado. O vereador acrescentou que o futuro de Zé Carlos dentro do partido será discutido posteriormente. “Eu acredito que a renúncia dele foi a decisão mais sensata. Ele tem família e precisa cuidar da saúde, que não anda muito boa. Fora que a renúncia evitou um desgaste político maior para todo mundo, que seria a Comissão Processante”, detalhou.

Marcelo Silva (PP), que ajudou o empresário Celso Palma a levar a denúncia do pedido de propina ao MP, opinou que é “muito fácil ele pedir para sair e assim evitar perder os direitos políticos”. Autor do requerimento da CP que seria lido e votado ontem, o advogado Lucas Henrique Trevizan esteve presente na sessão e também lamentou que a comissão não tenha sido instalada. “Se o campineiro esquecer o que ele fez, provavelmente vai levar de novo uma vaga na Câmara na próxima eleição”, alertou.

O pessebista foi procurado para falar a respeito da renúncia ao mandato como vereador, mas o advogado dele, José Sérgio do Nascimento Junior, informou que o político não tem interesse em se manifestar neste momento. Com esse caso, é a terceira renúncia da história da Câmara de Campinas. João Dirani Junior foi o primeiro, em 1999, para também escapar de um processo de cassação de mandato. O segundo foi Tico Costa, em 2017, alegando à época “questões familiares e para se dedicar exclusivamente à sua empresa”.

RETORNO

Ailton Fernandes Sarmento, conhecido como o Ailton da Farmácia, nasceu em 1º de agosto de 1962 na cidade de Osvaldo Cruz, interior de São Paulo. Quarto dos seis filhos de Maria Mendes Sarmento e José Fernandes Sarmento, ele é pai de dois filhos, Renan e Nayara. Ailton chegou em Campinas aos treze anos de idade e começou a trabalhar como balconista na então única drogaria do bairro Cura D’ars, onde se tornou referência de toda a região e trabalhou nos últimos 40 anos. Em 2016, pelo PSD, participou de sua primeira eleição para vereador, sendo eleito com 3.025 votos.

Em contato com o Correio Popular logo após a leitura da carta de renúncia de Zé Carlos na Câmara, Ailton da Farmácia comemorou a volta ao Legislativo campineiro. Ele destacou que o seu mandato vai focar em temas ligados à área da saúde. “O que eu pretendo fazer é trabalhar e lutar em prol da população de Campinas. Precisamos melhorar a qualidade de atendimento dos nossos postos de saúde, das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e da própria Rede Mário Gatti”, defendeu.

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