CÃES

Após 8 anos, Brasil aprova tratamento de leishmaniose

Liberação representa um marco na medicina veterinária brasileira; até então, lei obrigava que cachorros soropositivos fossem eutanasiados

Raquel Valli
raquel.valli@rac.com.br
08/10/2016 às 21:15.
Atualizado em 22/04/2022 às 22:12

Antes e depois de cachorro com leishmaniose que passou pelo tratamento com milteforan (Divulgação)

O tratamento da leishmaniose visceral canina, que já é realidade há oito anos na Europa, foi liberado este mês no Brasil. Até agora, os cachorros que fossem soropositivos (ou seja, que ainda não estivessem doentes) tinham que, por lei, ser eutanasiados. A liberação, que representa um marco na medicina veterinária brasileira, só foi possível graças ao Grupo de Estudos sobre Leishmaniose Animal (Brasileish), da pesquisadora Ingrid Menz, membro da Comissão de Ética no Uso de Animais (Ceua) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e presidente do Conselho Municipal de Proteção e Defesa dos Animais de Campinas (CMPDA). Ingrid é veterinária pela USP e doutora pela universidade de veterinária de Hanover (Alemanha), e se debruçou nos últimos dois anos a realizar o estudo que levou os ministérios da Saúde e da Agricultura a liberar o milteforan no Brasil. O medicamento é fabricado pelo laboratório francês Virbac e reduz em 74% o parasita, provou a pesquisadora que mora em Campinas. Foto: Patrícia Domingos/ AAN A pesquisadora Ingrid Menz Os cães, assim como outros animais, são um tipo de “reservatório” da leishmaniose, que é transmitida para os humanos pelo 'mosquito-palha'. A enfermidade é a segunda doença parasitária que mais mata no mundo (só perde para malária) e, se não for tratada, é fatal em 95% dos casos. Para Ingrig, entretanto, o combate no Brasil era equivocado, e a doença é negligenciada, porque o foco nunca foi na eliminação do vetor (o 'mosquito-palha'), mas na morte de um dos hospedeiros (o cachorro). Em 1963, o Brasil aprovou uma lei que obrigava a eutanásia em cães soropositivos, e se tornou a única nação no mundo que matava os animais para 'combater' a leishmaniose. “Era muito cômodo (matar). É mais fácil do que fazer o trabalho correto, que é eliminar o flebotomíneo Lutzomia spp (popularmente conhecido como mosquito-palha). Além disso, a lei só tratava de cachorros. Mas diversos animais, e não apenas os cães, são vetores da leishmaniose. Só que é mais fácil matar um cachorro do que subir em um muro e pegar um gato”, exemplifica a pesquisadora, referindo-se ao absurdo da medida. O milteforan está previsto para ser lançado oficialmente no Brasil no início de 2017. “Essa vitória é extremamente importante, pois se trata de um assunto de saúde publica, já que os cães infectados, quando tratados corretamente, deixam de ser reservatórios para o mosquito que transmite a doença para o homem”, afirma o gerente de assuntos regulatórios da Virbac, Valdir Avino. Foto: Divulgação Antes e depois de cachorro com leishmaniose que passou pelo tratamento com milteforan A doença A leishmaniose é caracterizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma das seis doenças infecciosas mais importantes do mundo. Já foi detectada em pelo menos 12 países da América Latina, sendo que 90% dos casos ocorrem no Brasil. Entre 2009 e 2013 foram registrados 18 mil casos confirmados da doença em seres humanos e, para cada caso reportado, estima-se que haja 200 cães infectados, segundo pesquisas do Ministério da Saúde por meio da Secretaria de Vigilância em Saúde. A doença, que possuía caráter eminentemente rural, expandiu-se para as áreas urbanas, tornando-se um problema de saúde pública. Hoje, a região Nordeste é a mais acometida, além de outros grandes centros como Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Campo Grande (MS) e outros municípios paulistas como Araçatuba, Bauru e Presidente Prudente. Além disso, a aprovação do tratamento no Brasil representa maior segurança para os donos dos cães, uma vez que é de amplo conhecimento que muitas pessoas, por não aceitarem sacrificar seus cães, apelavam para o mercado negro, importando o medicamento de forma ilegal e sem qualquer garantia em relação à qualidade do produto. Por ser crônica, tanto os cães quanto as pessoas infectadas precisam de tratamento constante, inclusive para interromper o ciclo da doença. Para os humanos, o tratamento é feito com glucantime e anfotericina b. Não há transmissão direta de pessoa para pessoa.

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