REITORIA OCUPADA

Após 2 meses, alunos da Unicamp desocupam reitoria

Alunos saíram em passeata pelo campus e prometeram um movimento cada dia mais forte; os cerca de 100 alunos saíram sem dar declarações

Raquel Valli
07/07/2016 às 07:21.
Atualizado em 22/04/2022 às 23:35

Estudantes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que estavam acampados na reitoria há cerca de dois meses, desocuparam o prédio ontem de forma pacífica. A desocupação teve início por volta das 5h10, quando os docentes começaram a retirar colchonetes, cobertores e travesseiros. Após deixarem o prédio, os cerca de 100 alunos fizeram um jogral em frente ao imóvel, com palavras de ordem: 'amanhã vai ser maior' e 'não, não tem arrego, você quer punir aluno, e eu tiro o seu sossego'. Depois disso, partiram em passeata até o Diretório Central dos Estudantes (DCE). A decisão de desocupar a reitoria foi tomada em uma assembleia na tarde de quarta-feira (6) pelo Movimento Ocupa Tudo Unicamp – que encabeçou a ocupação. Na reunião, ficou decidido que os alunos limpariam o prédio, e o deixariam na manhã seguinte. A reitoria foi invadida na noite do dia 10 de maio por cerca de 600 estudantes, que arrombaram uma porta lateral para entrar no prédio. Usavam blusas escondendo o rosto gritando “ocupa tudo”. Postaram faixas e cartazes com as reivindicações. Os seguranças terceirizados, que fazem a segurança do campus, permaneceram fora do imóvel. A ocupação foi decidida naquele mesmo dia em uma assembleia geral com cerca de mil manifestantes e com o seguinte mote: “Cotas sim, Cortes Não! Contra o Golpe e Pela Educação, Permanência e Ampliação”. Posicionaram-se contra o plano de contingenciamento da ordem de R$ 40 milhões anunciado em 28 de abril pelo reitor Tadeu Jorge, que justificou a medida devido à queda da arrecadação da universidade, gerada pela crise econômica nacional. Os recursos da Unicamp, assim como da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp), provém do imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços (ICMS) do governo estadual. As três recebem uma parcela fixa de 9,57% do imposto, dividida de forma proporcional. Com a queda da arrecadação devido à crise econômica, as unidades de ensino, consequentemente, passaram a receber menos recursos. Segundo balanço da Assessoria de Economia e Planejamento da Unicamp (Aeplan) a universidade registrou um déficit de R$ 99,682 milhões em 2015. “Entendemos que esse corte (de R$ 40 milhões) é uma medida preparatória para um projeto maior de precarização, privatização e desmonte da universidade pública, imposto pelo governo do Estado, conciliado com as reitorias e a mais alta burocracia das estaduais paulistas”, pontuaram os estudantes justificando a ocupação. Reivindicavam ainda cotas ético-raciais e ampliação da moradia. Na última segunda-feira (4), com quase dois meses de ocupação e a negativa dos alunos em deixar a reitoria, a Unicamp informou que havia encerrado as negociações e que mantinha o interesse no cumprimento de reintegração de posse, obtida em liminar no dia 11 de maio. "A inexistência de um acordo joga por terra todo o esforço realizado e os avanços verificados, invalidando os pontos pactuados”, afirmava a nota intitulada 'Intransigência impede acordo'. A reintegração foi liberada pela 2ª Vara da Fazenda Pública de Campinas, e poderia contar com o apoio da Polícia Militar, se necessário. A Associação de Docentes da Unicamp (Adunicamp) interveio, propondo o seguinte acordo: que os alunos deixassem o prédio desde que a retoria não os punisse pela ocupação. O reitor teria também que manter os pontos acordados com os estudantes em rodadas anteriores. O trato, então, foi fechado pelas partes. Em 28 de junho, Tadeu Jorge acolheu parcialmente as reivindicações dos estudantes, como a implantação de cotas étnico-raciais e a ampliação da moradia estudantil. A desocupação foi decidida pelos alunos em plenária na quarta-feira (6), quando eles resolveram que limpariam o prédio e que o deixariam esta manhã. Por meio de nota, a Unicamp informou que recebeu o comunicado sobre a decisão e que aguardava a liberação da reitoria após os 59 dias de ocupação.

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