Manifestantes bloquearam a entrada da cidade, depredaram a prefeitura e o comércio
Depois de cerca de 12 horas de confronto, terminaram no início da noite desta quarta-feira (3) os atos de vandalismo na cidade de Cosmópolis, na Região Metropolitana de Campinas (RMC), que se iniciaram após uma manifestação que começou pacífica.
Segundo a Polícia Civil, 19 pessoas foram presas e encaminhadas para a delegacia de Artur Nogueira, onde será feito em Termo Circunstânciado de Conduta (TCC) por contravenção. Depois disso, os vândalos serão liberados.
Os baderneiros foram encaminhados para a cidade vizinha para que não houvesse mais confronto ou invasão da delegacia.
Vandalismo
Cerca de 300 manifestantes fecharam a rodovia Professor Zeferino Vaz (SP-332), atearam fogo em todas as cabines de pedágio e atacaram a Polícia Militar Rodoviária com pedras, bombas e rojões. Depois, seguiram rumo à prefeitura da cidade. O comércio fechou e a Tropa de Choque da Polícia Militar foi acionada.
O protesto reivindica a redução da tarifa de RS 6,20 para R$ 3,10 (50%) ou a instalação do sistema ponto a ponto (tarifa cobrada pelo trecho percorrido).
À tarde, um grupo pequeno de vândalos voltou a depredar o centro da cidade, mesmo depois de os manifestantes entrarem em acordo com o prefeito de que irão esperar até segunda-feira que vem (8) pela resposta da concessionária que cuida do pedágio sobre as demandas solicitadas em relação à tarifa.
Portas e janelas do paço Municipal foram vandalizadas, ônibus incendiados e comércios invadidos, informou a assessoria de imprensa do Poder Executivo local. Não foi possível, até o momento, contabilizar os prejuízos que seguem ocorrendo.
Segundo manifestantes ouvidos pela reportagem, Cosmópolis funciona como cidade dormitório, onde praticamente não há emprego e os moradores precisam viajar para trabalhar. Na segunda-feira (1), um dos funcionários da Refinaria do Planalto Paulista (Replan), contou que para trafegar pelos 15 quilômetros que separam a empresa, localizada em Paulínia, de Cosmópolis, tem que pagar 12,40 por dia. “Ou eu pago o pedágio ou eu como, moça”, disse, sem querer que seu nome fosse divulgado, com medo de perder o emprego.
A Prefeitura entrou em contato com a Rota das Bandeiras, responsável pelo pedágio em questão. A concessionária informou que contatou a Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp), responsável pela regulagem dos preços, e que dará uma resposta aos manifestantes na próxima segunda-feira (8).
Ônibus suspensos
Quatro linhas intermunicipais de Campinas para Cosmópolis foram suspensas por volta das 10h, informou a assessoria de imprensa da Empresa Metropolitana de Transporte Urbano (EMTU). Até o momento (16h19), não há previsão para que os ônibus voltem a circular.
Estão suspensos os sete veículos da linha 606 (Cosmópolis/ Campinas); os três da 606 DV1(Cosmópolis/Campinas); os dois da 606 EX1 (Artur Nogueira/ Campinas); e o único da 607 (Cosmópolis/ Campinas-Unicamp). O número de passageiros prejudicados não foi informado.
Queimado
Um ônibus fretado da empresa Rápido Luxo Campinas, que transporta funcionários da Rodhia, foi queimado por volta das 10h. Não houve feridos. Segundo a viação, vândalos jogaram uma bomba caseira, que quebrou uma das janelas e explodiu. O incidente ocorreu na Rua Santa Gertrudes, no Bairro Bela Vista.
Ainda segundo a Rápido Luxo, não se sabe até o momento se um ônibus substituinte será colocado para rodar amanhã, porque os protestos ainda não terminaram.
Fogo no pedágio
Esse foi o terceiro protesto na rodovia nos últimos seis dias. Mais agressivo que nos protestos anteriores, o grupo depredou novamente o espaço e atacou também a imprensa. Um cinegrafista da rede de televisão Record teve a câmera destruída e ficou ferido. O veículo de uma outra emissora de televisão também foi atingida. Todos os órgãos de imprensa foram hostilizados. No total, as oito cabines foram totalmente destruídas.
Até o final da manhã, 12 pessoas tinham sido presas pela PM, segundo informações iniciais. A Tropa de Choque da PM foi acionada e um efetivo de 50 homens foi para o local. Os manifestantes chegaram a bloquear a entrada da cidade, no altura do km 145, mas com a intervenção da polícia, o acesso foi liberado.
Agressões à imprensa
Pela manhã, um cinegrafista da TVB/ Record foi ferido e outros profissionais foram hostilizados.
O Sindicato dos Jornalistas, Regional Campinas, enviou uma nota às empresas orientando os profissionais a registrarem Boletim de Ocorrência das ameaças e agressões e a abrirem Comunicação de Acidente de Trabalho.
O comunicado informou ainda que “caso seja possível identificar o agressor, ou os agressores, o departamento jurídico do sindicato está à disposição para ajuizamento de ação por danos morais”.
O início da manifestação nesta quarta
Um grupo de cerca de 300 pessoas fechou a pista as 5h40 nos dois sentidos, na altura do km 135, em protesto contra o valor da tarifa. A ação, que começou de forma pacífica, transformou-se em um verdadeiro ato de guerra na praça de pedágio. Depois de serem atacados, os policiais responderam com bombas de efeito moral.
A Força Tática da PM foi acionada para reforçar o grupo com cerca de 20 policiais.
O governador Geraldo Alckmin (PSDB) afirmou que mandará prender os manifestantes que atearam fogo e depredaram as praças de pedágio. "Isso é uma ação criminosa. A polícia já está investigando e quem os destruiu será preso."
Um grupo de manifestantes chegou até a Prefeitura de Cosmópolis por volta das 11h30. Segundo informações da PM, vândalos começaram a atirar pedras contra a fachada e vidros do prédio público. Uma funcionária da Administração, em contato com o Correio.com, disse que os servidores ficaram "sitiados e com medo" e que pedras são atiradas a todo momento contra as portas e janelas. Oficiais da Ronda Ostensivas Municipal (Romu) e a Polícia Militar fazem a segurança do prédio.
Reunião com o prefeito
Foi formada uma comissão com quatro membros da manifestação para uma conversa com o prefeito Antônio Fernandes Neto (PMDB), que os recebeu em seu gabinete. Fernandes se comprometeu em intermediar as negociações com a concessionária e pediu fim da violência a vandalismo na cidade e rodovias da região. Os funcionários não puderam deixar a Prefeitura durante parte da manhã e o início da tarde.
Ainda de acordo com a funcionária, manifestantes depredaram estabelecimentos comerciais do centro. A Força Tática e a Polícia Militar foram para o local. Houve correria e as pessoas que estavam na região próxima da Prefeitura corriam e tentavam se proteger. Os soldados da Tropa de Choque conseguiram a dispersão dos manifestantes, que se afastaram e se reuniram novamente nas imediações do km 140.
Mais uma vez, pneus foram queimados. Os manifestantes acuados pela presença da polícia se refugiram no bairro Bela Vista, em Cosmópolis. Dois ônibus foram incendiados. Os coletivos estavam parados sem passageiros.
Foi registrado congestionamento no local para quem seguia sentido Mogi Guaçu. Na pista sentido Campinas, a Rota das Bandeiras fazia desvio pelo km 143, mas o grupo fechou o acesso e os motoristas ficaram parados.
A concessionária
A Rota das Bandeiras disse em nota que "mais uma vez expressa seu repúdio com tamanho vandalismo e violência. A concessionária respeita as decisões do Governo do Estado, responsável pela definição de todas as políticas para o setor, assim como confia na adoção de medidas efetivas que, respeitem, sim, as manifestações, mas não permitam a repetição de cenas absurdas como as registradas nesta manhã".
Com informações de Luciana Félix, Raquel Valli, Ricardo Fernandes, Shana Maria Pereira e Virgínia Alves. Fotos de Carlos Souza Ramos e