NOVOS RUMOS

Aplicativo coloca taxistas na 'era' do Uber

Aplicativo Bee Táx, desenvolvido para uso da categoria, tem a promessa de oferecer ao passageiro benefícios até então inexistentes nesse mercado

Gustavo Abdel
15/05/2016 às 18:42.
Atualizado em 23/04/2022 às 00:35
Táxi roda por Campinas com adesivo de campanha contra a atuação da plataforma Uber colado no vidro traseiro  (Leandro Ferreira/ AAN)

Táxi roda por Campinas com adesivo de campanha contra a atuação da plataforma Uber colado no vidro traseiro (Leandro Ferreira/ AAN)

Os taxistas de Campinas preparam um contra-ataque aos atuais aplicativos que atendem os passageiros, principalmente ao Uber. Até agosto a cidade ganhará o aplicativo Bee Táx, desenvolvido para uso específico da categoria, e que tem a promessa de oferecer ao passageiro e aos taxistas benefícios até então inexistentes nesse mercado. Os descontos serão de 20% a 50% por corrida, e a bandeira 2 (R$ 3,45) também sofrerá descontos. O dispositivo está sendo desenvolvido por uma startup e será gerido pela Associação dos Permissionários Auxiliares de Táxi (Apetax), com o apoio do sindicato da categoria. De acordo com Inácio Rodrigues, vice-presidente da associação, dentre os 2,4 mil taxistas em atividade haverá um "pente-fino" para atuar com o aplicativo. A intenção, em um primeiro momento, é que 70% desses taxistas estejam no Bee Táx. "O taxista para fazer parte do aplicativo terá que ser sindicalizado, ter o prontuário de habilitação limpo, e seguir algumas regras", explicou Rodrigues. Foto: Leandro Ferreira/ AAN Inácio Rodrigues, vice-presidente da Associação dos Permissionários Auxiliares de Táxi (Apetax) Os profissionais serão uniformizados e toda a ficha do motorista aparecerá ao usuário que chamar um táxi. Na tela aparecerá a foto do motorista, o número de identificação e a placa do veículo, o telefone do profissional, onde ele está parado e em quanto tempo vai chegar até o passageiro. "Quando o taxista aceitar essa corrida, automaticamente o passageiro colocará o destino e tão logo o valor vai aparecer para o cliente, já com o desconto. Se uma corrida for R$ 50,00, independentemente do que aconteça no trajeto, um congestionamento de uma hora, por exemplo, o passageiro não pagará mais nada por isso" , garante Rodrigues. O passageiro terá um dispositivo onde poderá opinar sobre o taxista e dar pontuação para a corrida. O projeto está sendo desenvolvido há um ano, e está com 90% pronto, faltando os 10% restante para definir as formas de desconto e de segurança do dispositivo. A intenção é que em 60 dias já esteja sendo baixado pela população. Segundo a Aptaxi esse será o primeiro aplicativo no País a ser voltado à própria categoria. O pagamento será feito por cartão e também em dinheiro. Campanhas, como o mês do combate ao câncer, dia do idoso, do funcionário público ou outras datas símbolos serão usadas pelo aplicativo para oferecer descontos, como forma de atrair clientes. "Os descontos no dia a dia poderão variar de 20% a 50%, dependendo de quantas corridas o aplicativo realizou no mês. Isso beneficiará todos os clientes de maneira uniforme", explicou. "Será também uma forma de amenizar a disputa (com Uber, Easy Táxi e 99 Táxi). Temos que buscar aqueles passageiros que perdemos. As corridas caíram 80% à noite e 50% durante o dia. Antigamente a gente fazia em torno de 20 corridas por carro, em 24 horas. Hoje não fazemos dez corridas", apontou o vice-presidente. Benefícios - Descontos de 20% a 50% nas corridas, calculados de acordo com o número de corridas feitas com uso do aplicativo. Quanto mais ele for usado, maior o desconto (que será comum a todos os usuários) - Bandeira 2 extinta para chamadas pelo aplicativo - Usuário terá acesso à foto do motorista, sua ficha profissional, a placa do carro e número de identificação assim que fizer a chamada - Usuário será informado onde está o veículo na hora que ele for acionado e vai saber em quanto tempo vai chegar - Usuário será informado do valor fechado da corrida, como no Uber, ao realizá-la. Mesmo que ela demore mais do que o previsto, por causa de um congestionamento, por exemplo, o valor não vai mudar - O usuário terá um espaço no aplicativo para dar sua opinião sobre o serviço - Para fazer parte do grupo de taxistas do aplicativo, o motorista terá que ter o prontuário de multas zerado - O pagamento poderá ser feito com cartão de crédito ou em dinheiro - Taxistas vão acumular benefícios a cada corrida com pagamento em cartão. Os benefícios permitirão descontos em empresas conveniadas na cidade Campanha  Há dois meses os taxistas lançaram a campanha "Não à clandestinidade e violência, sim à Justiça". Cerca de 500 táxis estão com adesivos com tais dizeres, que pretende, segundo a categoria, alertar a população que utiliza o transporte clandestino. Os taxistas querem que o prefeito Jonas Donizette (PSB) acione a Justiça e proíba o aplicativo Uber na cidade - a exemplo do que acontece em Salvador (BA), onde o transporte foi proibido. No entanto cabe a Prefeitura a fiscalização e coação desse transporte, considerado irregular. Os taxistas cobram mais fiscalização. O último protesto na cidade aconteceu no início dessa semana.  Pagamento com cartões vai dar benefício a motoristas O taxista terá o benefício de acumular uma espécie de milhas, cada vez que o cliente pagar com débito ou crédito. Essas milhas serão revertidas em benefícios aos profissionais, que já estão com cerca de 150 comércios, entre clínicas, hotéis, restaurantes, lojas de pneus, posto de combustível, entre outros. "Se ele tiver na máquina de cartão R$ 3 mil, ele poderá ter uma milhagem de R$ 300. Esse valor poderá ser gasto com parceiros do aplicativo". O projeto custou R$ 250 mil, e 30% do aplicativo vai ser vendido no sistema de cota ao taxista, que pagará uma parcela de R$ 100 durante seis meses. De acordo com Rodrigues, com o Bee Táx o profissional terá automaticamente seguro de vida. Bee, que traduzido do inglês para o português significa "abelha" , faz uma alusão à "grande colméia" que o aplicativo se propõe ser. O passageiro é beneficiado, o taxista e os parceiros, que também vão colher os frutos. Quem ganha é a sociedade", concluiu. Foto: AFP Taxistas durante protesto nas ruas de Santiago, no Chile, contra a operação de motoristas do aplicativo Uber Para especialista, setor deve ‘reinventar negócio’ A professora de Direito da Fundação Getulio Vargas (FGV) Marília Maciel afirma que o Uber é uma das plataformas de um novo modelo econômico que será “difícil de frear”. “Nos concentramos na disputa entre Uber e taxistas, mas esquecemos o consumidor. O que estaria levando as pessoas a usar um serviço como o Uber, em vez do serviço normal de táxi? Talvez exista aí um certo descontentamento do público. Talvez a melhor estratégia para os taxistas, em vez de questionar a existência do aplicativo, seja fazer um questionamento de como o serviço de táxi pode se tornar mais competitivo”, disse a professora. Marília sugere que os taxistas pensem em como o negócio pode se reinventar, diante da nova concorrência, e se tornar mais eficaz e competitivo. Para ela, este pode ser ainda o momento de questionar os próprios custos de funcionamento do serviço de táxi, como os impostos pagos ao poder público. Para a professora, não está claro que o serviço pode ser considerado ilegal. Na sua visão, o Uber não é necessariamente um transporte público individual igual ao táxi, já que não se pode embarcar em um carro sinalizando quando ele passa na rua. “O Uber me parece um serviço diferente. É uma plataforma fechada, em que é preciso se inscrever e chamar um veículo cadastrado. Parece que estamos diante de um hiato legislativo. Se for isso, pode ser que se encontre a necessidade de regulação.” Marília acredita que o Uber é apenas uma das manifestações de uma tendência que está se espalhando. “É uma dessas várias formas que surgiram e que tentam fazer o encontro entre duas pontas, a de pessoas que precisam do serviço e a dos que têm tempo suficiente para fazer. Não é parando uma plataforma específica que vamos parar uma tendência como essa. Hoje é o Uber, amanhã serão outros tipos de serviços, que já estão disponíveis nos Estados Unidos e estarão disponíveis no Brasil também. Isso faz parte de uma mudança mais ampla.” (Da Agência Brasil)

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