ESCALADA DO CRIME

Apesar das operações policiais, população de Campinas se sente vulnerável

Enquanto na região central e Campo Grande a percepção é de insegurança, no Cambuí ocorre o oposto

Isadora Stentzler
11/05/2022 às 08:52.
Atualizado em 11/05/2022 às 09:02
No Campo Grande, a comunidade não sentiu qualquer diferença em relação aos crimes, que são recorrentes (Gustavo Tilio)

No Campo Grande, a comunidade não sentiu qualquer diferença em relação aos crimes, que são recorrentes (Gustavo Tilio)

Apesar de intensificadas as ações e as equipes de segurança pública nas ruas de Campinas, com a “Operação Sufoco” e “Meu Bairro Seguro”, moradores da região central e de bairros’ periféricos sentem-se inseguros e com medo diante da velocidade da escalada de crimes no período pós-pandemia. 

A reportagem do Correio Popular foi até as regiões do 1º Distrito Policial (DP) e do 9º, que concentraram o maior número de ocorrências no primeiro trimestre deste ano, para ouvir a população local. Juntas, as duas regiões somam 2.098 registros, sendo a maioria, 1.268, por furto. 

Na área central, comerciantes com estabelecimentos há pouco mais de uma quadra de onde fica o 1º DP mencionaram o medo que sentem por morar naquela região. Uma funcionária de um bar, que chega ao trabalho às 3h para assar os pães, relatou que a escuridão da madrugada a faz apressar o passo para chegar logo ao destino. O local, que está a poucos metros da saída da rodoviária, já foi usado, segundo ela, para que usuários de drogas, que mantêm um comércio paralelo na região, escondessem-se da presença policial. 

“Nessa ocasião, eles entraram e jogaram as drogas no balcão, tentando esconder a droga. Felizmente, a polícia percebeu e conseguiu prendê-los. Mas temos muito medo. Trabalho aqui há nove anos. Durante a pandemia, estivemos fechados. Em fevereiro, retomamos as atividades. Mas a quantidade de usuários de drogas que ficam aqui não diminuiu. Talvez um posto da guarda por aqui conseguiria aumentar a sensação de segurança”, avalia a mulher, que pediu para não ser identificada. 

Questionada sobre os impactos das últimas operações deflagradas que visam ao combate à criminalidade, ela nega ter visto qualquer diferença. “Há policiais e guardas que passam por aqui, mas o fluxo é normal. Só que isso é insuficiente para brecar a violência e criminalidade”.

Em outro estabelecimento, a poucos metros deste, João Martins Filho, de 52 anos, que gerencia três comércios na mesma região, contou que há cerca de duas semanas presenciou um ataque a faca, quase em frente a um dos seus negócios. “Nenhum”, sentencia sobre os impactos das operações no combate à escalada de violência no local. “A segurança é péssima. Estamos nas costas dos ‘caras’ e eles deixam o tráfico imperar. É inacreditável. E a gente nem pode falar nada para não ser perseguido. Dia sim, dia não, as pessoas são assaltadas aqui. Na semana passada, uma pessoa morreu com três facadas em frente à rodoviária. Era um domingo. Uma jovem, que devia ter uns 35 anos. E acredito que tenha sido problema de tráfico também.”

Longe da região central, no bairro Campo Belo, a sensação é a mesma. O mecânico Edmundo Aquino Silva, de 60 anos, teve a oficina em que trabalha furtada, também há duas semanas. Do local foram levados uma carroceria, cheia de materiais de ferro. Dois cadeados foram arrombados e o prejuízo, segundo ele, chegou a R$ 5 mil.

Em frente à oficina e há cerca de 15 dias, uma comerciante, que vende lanches e pediu para não ser identificada, também teve o seu local de ganha pão invadido. Foram duas vezes no período. Em nenhuma delas, no entanto, foram levados objetos, uma vez que ela leva os produtos para casa. O que fica, segundo ela, é a sensação de insegurança. 

Uma outra comerciante, que também pediu para não ter seu nome revelado, lamenta a situação. “Estou acostumada. De dia, até que sinto menos medo, mas à noite fica difícil. Acho que deveriam ter mais atenção a este bairro. Ele está muito abandonado. Está a Deus dará.”

Além dos furtos, a região do 9º DP é a que concentrou, no primeiro trimestre do ano, o maior número de homicídios: foram 11. Ainda, foi a que teve o maior número de estupros, com também 11 registros. 

Cambuí 

Já no Cambuí, área do 13º DP, onde 323 ocorrências foram registradas no 1° trimestre, moradores e comerciantes relatam um cenário oposto. Após o bairro ter sido alvo de assaltos, entre abril e início de maio, com crescente incidência também nos casos de furtos a residências, os moradores sentem-se mais seguros com o reforço da presença policial no bairro.

Apenas nas últimas duas semanas, ocorreram duas operações “Meu Bairro Seguro”, deflagradas pela Guarda Municipal, sendo uma com apoio das polícias Civil e Militar. 

Na época, os registros de assaltos ocorriam no eixo que compreende o Clube Campineiro de Regatas e Natação e o Tênis Clube de Campinas. “A gente notou maior efetivo tanto da PM quanto da GM. Também comunicamos isso aos sócios e, agora, estamos sentindo o bairro um pouco mais seguro. Apesar de sabermos sobre algumas ocorrências, melhorou muito aqui”, afirma o gerente de esporte do Tênis Clube, Mário Cecconi. 

Para a nutricionista Anamaria Paiaro Hein, de 52 anos, o policiamento teve impacto nos casos, mas ela teme que, quando as operações acabarem, os crimes voltem a acontecer. “Eles vieram no lugar certo”, opina sobre a presença policial. “Sinto mais segurança. A gente vê passar carro de polícia, mas vamos ver até quando...”

O que a GM diz

Em nota, a Guarda Municipal de Campinas informou que tem realizado patrulhamento nos bairros citados pela reportagem e que reforça isso com a “Operação Meu Bairro Seguro”, que visa a coibir a criminalidade, mediante verificação de veículos, pessoas suspeitas e apreensão de produtos de origem ilícita.

Ainda, segundo a nota, apenas na última semana, entre os dias 1º e 9 de maio, foram deflagradas pela GM 27 operações “Meu Bairro Seguro” em diversas regiões do município. “Na região do Campo Belo, a corporação esteve, no último sábado, nas imediações do aeroporto de Viracopos, que fica próximo ao bairro. Novas ações serão desencadeadas nos próximos dias, mas os detalhes não são divulgados para não comprometer a eficácia da iniciativa. Além disso, a GM valoriza a integração com outras forças de segurança na cidade. Operações conjuntas com as polícias civil e militar têm sido comuns e se tornam mais produtivas e eficientes”, diz trecho.

Procurada, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP/SP) não retornou até o fechamento desta reportagem com as informações sobre os primeiros impactos da “Operação Sufoco” em Campinas.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por