PERIGO

Aparição de escorpião motiva paralisação de estudantes de Artes Cênicas

Alunos da Unicamp relatam que é a quarta vez que o animal é encontrado no Paviartes desde fevereiro; universidade fará reunião hoje para tratar do tema

Luiz Felipe Leite/[email protected]
20/05/2025 às 13:44.
Atualizado em 20/05/2025 às 14:30
Aviso colado na porta alerta os alunos sobre a necessidade de cuidado redobrado devido à aparição de escorpiões; andar descalço, deitar no chão e outras atividades são comuns entre os estudantes de Artes Cênicas, uma vez que no curso são trabalhadas diversas formas de expressão artística (Kamá Ribeiro)

Aviso colado na porta alerta os alunos sobre a necessidade de cuidado redobrado devido à aparição de escorpiões; andar descalço, deitar no chão e outras atividades são comuns entre os estudantes de Artes Cênicas, uma vez que no curso são trabalhadas diversas formas de expressão artística (Kamá Ribeiro)

Cerca de 120 estudantes do curso de Artes Cênicas do Instituto de Artes da Unicamp cruzaram os braços e paralisaram as atividades realizadas no Paviartes, também conhecido como Barracão de Artes Cênicas, por causa do aparecimento de um escorpião amarelo em um dos banheiros do prédio. Localizado na Rua Pitágoras, ele também recebe cerca de 80 estudantes do curso de Dança, além de professores e demais funcionários. Os alunos de Artes Cênicas protestaram com cartazes e palavras de ordem em frente à sede do instituto, pedindo providências da universidade. Segundo alguns dos estudantes ouvidos pelo Correio Popular, é o quarto animal que aparece no Paviartes desde fevereiro. A Unicamp, por meio de nota, alega que foram apenas três.

Estudantes do segundo ano do curso de Artes Cênicas, Bruna Oliveira e Henrique Santos se disseram frustrados com a situação recorrente e criticaram a precariedade da estrutura física do prédio. “Além dos nossos estudos e pesquisas, recebemos convidados aqui para assistirem às nossas apresentações. É um lugar que ficou muito perigoso para todos nós”, afirmou Bruna.

Henrique Santos, que também integra o Centro Acadêmico do Instituto de Artes, relatou que a gestão da universidade foi acionada e que está ciente de toda essa situação. “Tivemos há alguns anos o início da reforma do barracão, que acabou paralisada por problemas envolvendo as empresas que venceram as várias tentativas de licitação. Hoje essa obra está abandonada. Acredito que esse abandono resulte no aumento dos escorpiões por aqui."

O diretor do Instituto de Artes, Fernando Hashimoto, atendeu os alunos que protestaram ontem e garantiu que as atividades somente seriam retomadas caso houvesse uma confirmação oficial da Prefeitura Universitária de que a segurança estaria garantida. “Nos disseram que não seria uma infestação, mas casos pontuais. Agora estamos aguardando um retorno oficial da universidade sobre isso. De qualquer forma, técnicos foram enviados aqui para avaliar o que pode ser feito para reforçar a segurança, como a instalação de mais barreiras físicas em torno das obras paralisadas do barracão, por exemplo”, pontuou.

Por meio de nota, a Unicamp informou que foi feita uma desinsetização no prédio do Paviartes em fevereiro, incluindo a área em obras, depois de aparecerem dois escorpiões. Desde então, não houve novos registros até ontem, quando um escorpião foi encontrado no banheiro. “A Diretoria de Limpeza Predial da Prefeitura Universitária acompanha a situação e esclarece que não se trata de infestação. A desinsetização segue dentro do prazo de garantia. O corte do mato no entorno já foi realizado. Uma reunião com o Instituto de Artes e representantes dos alunos está marcada para esta terça-feira (20/5), para apresentar as ações já tomadas e reforçar orientações de conscientização e prevenção. A universidade segue atenta e adotando as medidas necessárias.”

Sobre as obras paradas, a Unicamp detalhou que a nova licitação para as intervenções está em andamento. “A sessão pública está marcada para esta sexta-feira, 23 de maio. A expectativa é de que o processo seja bem-sucedido e que as obras tenham início no segundo semestre deste ano. A DEPI ressalta que tem feito todos os esforços para a continuidade da obra, que os recursos orçamentários estão 100% garantidos e que esta é considerada a prioridade entre todas as demandas da universidade”, encerrou.

NÚMEROS

Os acidentes com escorpiões no município aumentaram no ano passado, de acordo com números registrados pela Unidade de Vigilância em Zoonoses (UVZ) da Prefeitura de Campinas. De 2023 a 2024, a quantidade de casos cresceu 27,4%, saindo de 688 para 877. Em 2025, até o dia 14 de maio, já são 354 acidentes, o que dá uma média de mais de 2,5 ocorrências por dia.

ação Municipal aposta na conscientização da população por meio da difusão de informações quanto às prevenções necessárias, como a instalação de barreiras físicas dentro de casa, para evitar o crescimento de problemas com esses animais. A Prefeitura também considera o avanço do aquecimento global como um dos principais fatores para a elevação da população do animal na cidade.

Segundo a UVZ, apesar de não detalhar os números, as regiões com a maior concentração de acidentes com escorpiões em Campinas neste ano foram as sudoeste e noroeste, além do Centro da cidade. Ainda de acordo com a unidade, vinculada à Coordenadoria Departamental de Vigilância de Agravos e Doenças Transmissíveis do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa), nenhuma morte causada por picadas do animal foi registrada no município desde 2007, quando foi iniciada a série história de acompanhamento da UVZ. A Coordenadoria e o Devisa respondem para a Secretaria Municipal de Saúde de Campinas.

O médico veterinário e coordenador do Programa de Vigilância da Febre Amarela e de Vigilância de Saúde Silvestre da UVZ, Cláudio Castagna, destacou que houve uma mudança no comportamento dos escorpiões de uma forma geral nas últimas décadas, com a aparição do tipo amarelo (Tityus serrulatus). “O escorpião marrom (Tityus bahiensis) era unânime por aqui até que os amarelos vieram, geralmente acompanhando os imigrantes que mudaram de Minas Gerais e outros estados para São Paulo. O marrom geralmente é achado em ambientes desorganizados. Em acúmulos de lixo, entulhos de materiais de construção etc. Já o amarelo surge mais em ambientes como esgotos. Lá ele encontra alimentos de forma quase infinita, como baratas. Em cidades maiores, com sistemas de esgoto maiores, como Campinas, temos uma incidência maior do tipo amarelo. Ele também possui um veneno com potencial mais letal do que o tipo marrom”, explicou.

Castagna analisou que, apesar da falta de um estudo científico específico sobre o tema, o aquecimento global é um fator que colabora e muito para o aumento da população dos escorpiões. “A temperatura está aumentando ano a ano. Como esses animais gostam de ambientes úmidos, além da oportunidade de se alimentar no meio onde vivem (esgotos), entendo que há uma tendência de um aumento populacional nos próximos tempos.”

O médico veterinário foi questionado se ações mais rígidas seriam necessárias para impedir o aumento de acidentes com esses artrópodes. Ele respondeu que a conscientização para educar a população é a solução ideal. “A Secretaria de Saúde aposta na educação ambiental para que os donos de imóveis adotem, de forma individual, barreiras físicas para impedir o aparecimento dos escorpiões. Esse é o foco”, comentou.

Por meio de nota, a Secretaria de Saúde de Campinas destacou que realiza limpeza de áreas com acúmulo de resíduos, trabalha com orientações e capacitações, entre elas a instalação de barreiras físicas nos imóveis para evitar o acesso do escorpião, e que são realizadas visitas aos imóveis com ocorrências para passar as recomendações necessárias. “Em caso de acidente, a orientação da Saúde é procurar imediatamente por um serviço de saúde. Crianças de até 10 anos devem ser levadas preferencialmente ao Hospital Ouro Verde ou Hospital de Clínicas da Unicamp, enquanto nas demais faixas etárias a assistência pode ser feita em todas as unidades básicas.” 

SUSTOS

Comerciantes do Mercadão de Campinas, no Centro da cidade, relataram o aparecimento de escorpiões recentemente. Adriana Marques, que vende frutas e verduras em um dos boxes do Mercado Municipal, contou que achou um desses animais há cerca de 20 dias enquanto manuseava uma das caixas de alimentos localizadas no estabelecimento. “Tomei um baita susto. Chamei alguns dos meninos que trabalham em outros boxes aqui do Mercadão, e eles mataram o escorpião. Sorte que ele não me picou”, disse aliviada.

Funcionário terceirizado da área de limpeza pública em Campinas, Damião Britto foi abordado pela reportagem próximo da Avenida Orosimbo Maia, nas imediações do Mercadão. Ele detalhou que encontrar escorpiões perto de papelões não é algo incomum. “Esses escorpiões estão aparecendo em toda a cidade. Eu moro no Parque Oziel e uma vizinha minha já foi picada por um deles”, lamentou.

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