Aparelhos de TV Box serão transformados em computadores para estudantes carentes

A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) está promovendo a transformação de duzentos aparelhos de TV Box piratas, conhecidos como "gatonet", em computadores que podem ser destinados a alunos carentes. Pesquisadores e estudantes da universidade estão explorando outras aplicações para esses equipamentos, como sensores atmosféricos utilizados na medição da qualidade do ar, monitoramento e detecção de presença de pessoas em ambientes. Esses 200 aparelhos, que captam ilegalmente sinais de canais de televisão pagos, foram apreendidos e doados pela Receita Federal em Campinas como parte de um acordo de cooperação estabelecido em 2019.

Na segunda-feira, o lote de aparelhos foi entregue à universidade, e um deles já está sendo utilizado para monitorar a fila do Restaurante Administrativo da Unicamp. Um painel exibe a quantidade de pessoas na fila, e essa informação também está disponível no site da Prefeitura do Campus, permitindo que os usuários identifiquem qual dos três restaurantes da Unicamp possui a menor fila no momento em que desejam fazer uma refeição.

O analista de sistemas da Prefeitura Universitária, Rafael Sousa, explicou o processo de configuração desses aparelhos. "Tivemos que configurar esses equipamentos porque foram doados para a Unicamp pela Receita Federal, após uma apreensão. Eles possuem um sistema operacional chamado Android, que é customizado e projetado para uso em transmissões de TV. Nós formatamos os aparelhos, apagamos tudo e instalamos o sistema operacional Linux, que é aberto e configurável. Dessa forma, temos total controle sobre o sistema instalado e sabemos o que está acontecendo." Após essa "limpeza" na placa e a instalação de um novo sistema, os técnicos conseguiram configurar o programa utilizado nos painéis para exibir as informações desejadas.

Sousa destacou a diversidade de aplicações possíveis. "Ao limpar o Android e instalar o Linux, abrimos um leque de possibilidades para aplicarmos em outras demandas que temos no Smart Campus." O Smart Campus é uma iniciativa ligada à área de informática da Prefeitura da universidade que permite a realização de projetos relacionados à Internet das Coisas.

Uma das aplicações legais que está sendo estudada pela Unicamp para a TV Box é a construção de computadores que podem ser destinados a alunos carentes. A placa presente nas caixas dos aparelhos "gatonet" funciona como uma CPU. A professora Juliana Freitag Borin, do Instituto de Computação da Unicamp, está liderando os estudos sobre essas aplicações.

Juliana explicou o processo: "Dentro dessas caixas, existe um pequeno computador. Estamos explorando como podemos utilizar esse computador, que está presente nessas caixas, para criar outras aplicações legítimas que possam beneficiar os alunos da Unicamp, a comunidade interna e também a comunidade externa. Uma das possibilidades que estamos considerando é transformá-lo em um computador de baixo custo." A pesquisadora mencionou que os equipamentos TV Box possuem entradas para conectar teclados, monitores e mouses, o que possibilita a criação de um computador. No entanto, devido à capacidade de memória limitada dessas placas, a professora do IC estima que seria viável apenas utilizar a internet e editores de texto nos computadores produzidos a partir da TV Box.

"Ainda não exploramos completamente o potencial desses equipamentos, pois os recebemos apenas nesta semana. Estamos começando a explorá-los para ver o que conseguimos fazer. Neste momento, estamos em uma fase de exploração bastante inicial." A equipe de estudos planeja explorar as funcionalidades e, posteriormente, discutir com a reitoria as diretrizes para a distribuição desses computadores a alunos carentes e a locais da Unicamp que não possuem computadores.

Juliana ressalta que esse projeto é importante para que os alunos tenham recursos para realizar pesquisas e colocar a mão na massa. "Primeiramente, como uma universidade pública, nem sempre temos facilidade em adquirir hardware em grande quantidade. Quando se trata de aplicação da Internet das Coisas e monitoramento de um campus, são necessários dispositivos como esses, que são pequenos computadores, em grande quantidade. Essa parceria pode nos ajudar a ampliar as aplicações. Outro ponto importante é que esses aparelhos seriam descartados como lixo, mas agora podemos dar a eles um propósito diferente." A professora mencionou que pretende realizar uma hackathon, uma maratona de programação em que pesquisadores da área se reúnem por um período determinado de tempo para explorar dados e códigos.

Igor Borges, um estudante de 22 anos que cursa Engenharia da Computação e está no último ano de graduação, é um dos envolvidos nesse projeto. Ele acredita que essa atividade pode contribuir para sua formação. "Acho interessante esses dispositivos com Linux instalado e tenho bastante experiência como usuário. Portanto, acredito que posso trazer essa experiência e conhecimento para ajudar no objetivo de transformar essas máquinas em algo útil. Além disso, isso me proporciona experiência na minha área", revelou Borges, que pretende se aprofundar no estudo de hardware, os componentes físicos de computadores e dispositivos tecnológicos.