Aos 78 anos, Politizador é achado morto em casa

O ex-vereador Antonio Francisco dos Santos, o “Tonhão da Rapadura” — conhecido também como “o Politizador” —, foi encontrado ontem sem vida em seu apartamento, na Rua Barreto Leme, próximo ao Mercado Municipal, no Centro de Campinas, onde vivia sozinho há sete anos. O corpo foi encontrado por volta das 15h, por uma amiga que o auxiliava com a limpeza do apartamento a cada 15 dias. A perícia técnica da Polícia Civil esteve no local e não identificou sinais de crime. As causas da morte serão apuradas. Até o fechamento da edição não havia previsão de quando e onde seria o sepultamento. O Politizador tinha 78 anos. Uma das moradoras do edifício informou que ele não tinha mais o costume de sair e ficava muito tempo dentro do apartamento. “Ele sempre foi bom para gente. Ajudava quando podia. Não via o Tonhão há, pelo menos, uma semana, e não tenho ideia de quanto tempo ele estava sem vida”, afirmou uma das vizinhas, que estava muito abalada e preferiu não dizer seu nome. A mulher que fazia a limpeza do apartamento disse que o Politizador estava muito cansado há 15 dias, quando ela o viu pela última vez. Segundo a vizinha, ele tinha muitos problemas de saúde. “Diabetes, pressão alta e problemas cardíacos. Até para caminhar estava difícil para ele”, comentou. Megafone Nascido em 13 de janeiro de 1942, no município de Serra Caiada (RN), o Politizador veio para Campinas em 1964, quando tinha 22 anos. Casou-se, não teve filhos e divorciou-se. Depois disso sempre morou sozinho. Antes de fazer carreira política, trabalhou como fotógrafo e operador de rádio UPI. O folclórico Politizador defendia o direito das pessoas mais humildes e teve como ideal a luta contra a corrupção. Ficou conhecido ao utilizar um megafone para falar sobre política pelas ruas do Centro de Campinas. Bem antes de tornar-se o Politizador e ser vereador, era conhecido como Tonhão da Rapadura, porque vendia o doce nas ruas, como uma forma de conscientizar politicamente as pessoas. Iniciou na vida política em 1983, ao realizar uma greve de fome, no Largo do Rosário, em protesto ao aumento do IPTU). A partir daí fez algumas marchas pelo Brasil em protestos contra os políticos corruptos. Foi cinco vezes a Brasília, uma ao Rio Grande do Sul e outra ao Chuí, todas reivindicando causas políticas. O segundo apelido surgiu em uma dessas caminhadas quando ele passou por Lages, em Santa Catarina, e a imprensa local o chamou de “O Politizador”. Começou a disputar eleições em 2000 como candidato a vereador pelo partido Social Trabalhista (PST), teve 1.808 votos e não foi eleito. Tentou novamente em 2004 pelo Partido Liberal (PL), quando conseguiu 1.705 votos e acabou eleito vereador suplente. Em 2002 e 2006 tentou ser deputado federal, sem sucesso. Seu único mandato como vereador foi nas eleições de 2008, quando chegou a 2.037 votos pelo Partido da Mobilização Nacional (PMN). Depois de eleito, chamou atenção na sessão de diplomação, em janeiro de 2009. De maneira improvisada, foi o único dos 33 vereadores eleitos a se pronunciar, erguendo o diploma e andando pelo palco com os braços levantados, dizendo em voz alta: “Viva a democracia. Viva o povo politizado”. Neste período, apresentou mais de 500 propostas, a grande maioria sobre indicações para melhoria da região central. Também protocolou 41 projetos de lei, dentre os quais sobre a reforma e revitalização da Avenida Francisco Glicério, que transformou-se na Lei 14.184/2011. Outro projeto que veio a se tornar a Lei 13.831/2010, instituiu em Campinas a Semana da Campanha Continuada Antipichação. Nas eleições de 2012 e 2016, o Politizador voltou a ser candidato a vereador, mas conseguiu ser eleito vereador suplente nas duas vezes. Pesar A Câmara de Campinas registrou ontem uma nota de pesar pelo falecimento do ex-vereador Antonio Francisco dos Santos. O vereador Marcos Bernardelli (PSDB), presidente do Legislativo, disse: "Mesmo antes de se eleger vereador, ele era um cidadão preocupado com a política. Como parlamentar, teve foco justamente na reurbanização do centro. A Câmara Municipal lamenta a morte do ex-vereador e se solidariza neste momento difícil com família e amigos" . O prefeito Jonas Donizette (PSB) lamentou também. “Recebi com muito pesar esta notícia. Ele teve um papel bastante popular e importante na cidade. Como vereador foi um defensor, principalmente de questões de qualificação na área central e quase foi eleito deputado em 2002. Campinas perdeu uma figura que ficará na memória e uma figura folclórica”, afirmou.