Personalidade

Antonino, 90, a missão agostiniana

Desde meados do século passado, religioso reúne voluntários em ações sociais pelo município

Rogério Verzignasse
16/06/2018 às 19:11.
Atualizado em 28/04/2022 às 13:01
Antonino Fernandez, agostiniano cultuado pelos católicos, dentro do imponente santuário de Sto. Antônio (Leandro Ferreira/AAN)

Antonino Fernandez, agostiniano cultuado pelos católicos, dentro do imponente santuário de Sto. Antônio (Leandro Ferreira/AAN)

O padre é baxinho, anda devagar, reclama um bocado da diabetes e dá um trabalhão danado para a cozinheira Sandra, que cuida do cardápio da paróquia. Ainda assim, o homem é falante, bem-humorado, otimista. E ele é tratado como um presente divino pelos católicos da Ponte Preta. O espanhol Antonino Fernandez chegou em Campinas há meio século, como missionário evangelizador da ordem dos agostinianos. Assumiu como vigário no Santuário de Santo Antônio, foi pároco por três décadas e hoje, apesar dos 90 anos de idade, nem pensa em parar. O aniversário, aliás, mobilizou toda a paróquia. Tanto que a festa de aniversário - neste sábado, dia 16 - foi marcada por um evento especial. O padre Antonino ganhou, dos católicos, uma charmosa capelinha em sua homenagem. Fica ali, ao lado da casa paroquial, na mesma quadra do templo e o salão comunitário. A data não podia passar em branco. Quem conhece a história do padre entende porque ele é tão admirado. Antonino, desde 1967, ajudou a fazer do santuário em um espaço admirado por católicos de Campinas toda. Eles chegam de todos os bairros e acompanham as cerimônias diárias e as campanhas que envolvem os fiéis em ações voluntárias. O templo, aliás, ganhou status de patrimônio histórico e cultural da cidade, além de virar atração turística (confira matéria nesta página). A saga Antonino nasceu em 1928 na província de León. Foi ordenado aos 23 anos de idade. Era uma época difícil. A guerra civil espanhola espalhou morte e destruição. Como o governo cortou o orçamento do clero e extinguiu ordens religiosas, os religiosos buscaram refúgio por todo o mundo. Os vicariatos agostinianos brotaram por todo o interior paulista, e um deles foi fundado em Campinas. Em 1939, o então bispo campineiro, Francisco de Campos Barreto assinou - no dia 18 de janeiro - a criação da nova paróquia, provisoriamente instalada na capela erguida em devoção a São Francisco de Assis. O prédio centenário, histórico, continua de pé, no começo da Rua Abolição. Mas, desde o momento em que foram acolhidos, os padres espanhóis planejaram a compra de um terreno e a construção de um templo digno. Os pioneiros - "freis mendicantes" - saíram batendo palma de porta em porta. Eles mostravam um rascunho da fachada do templo sonhado e pediam ajuda dos católicos para a compra de um terreno e materiais de construção. O terreno tinha 3.255 metros quadrados. Foi em 1949, dez anos depois da criação da paróquia, que as obras começaram. A primeira missa foi celebrada na noite de Natal de 1950, por d. Paulo de Tarso Campos. Antonio Fernandez desembarcou no Brasil em 1951 e, por 15 anos, serviu a paróquias de Jataí, Rio Verde e Goiânia, todas no Estado de Goiás. Na década seguinte, ele foi transferido para Campinas. Sob seu comando, a paróquia se notabilizou por ações sociais fantásticas, como a criação da creche instalada na Washington Luiz, que acolheu, nas últimas décadas, milhares e milhares de crianças. Hoje, o pároco local é Fábio Teixeira dos Santos. Mas o vigário Antonino segue firme. Além, das missas, celebra casamentos e batizados, ouve confissões, e tem daquelas homilias que encantam. Os hábitos fora do altar não mudam. O homem acompanha o noticiário da TV. Mas gosta mesmo é de ver reportagens sobre o time do Real Madrid, sua paixão, Adora futebol. E confessa que, aqui no Brasil, torce pela Ponte Preta. Calma, calma, bugrinos. O Antonino diz que é respeito pelo bairro onde está o santuário. Ele afirma que também gosta do Guarani. Tá, tudo bem. Talvez o padre esteja forçando um pouquinho, fazendo uma média com os católicos da torcida rival. Mas tudo bem, O Antonino tem moral.

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