SITUAÇÃO ALARMANTE

Ano mal começou e os casos de dengue já superam total de 2023

Em pouco mais de 60 dias de 2024, Campinas registrou 12.487 notificações da doença; em 2023, foram 11.504 casos

Isabella Macinatore/ [email protected]
05/03/2024 às 08:34.
Atualizado em 05/03/2024 às 08:34
Interior abandonado de um dos curtumes da cidade, localizado na Vila Industrial; Prefeitura informou sobre a possibilidade de obter uma liminar judicial para ingressar em locais como esse a fim de buscar focos de proliferação do mosquito transmissor da dengue (Kamá Ribeiro)

Interior abandonado de um dos curtumes da cidade, localizado na Vila Industrial; Prefeitura informou sobre a possibilidade de obter uma liminar judicial para ingressar em locais como esse a fim de buscar focos de proliferação do mosquito transmissor da dengue (Kamá Ribeiro)

Em pouco mais de 60 dias de 2024, Campinas já enfrenta um aumento alarmante nos casos de dengue, superando os registros de todo o ano anterior. Até 4 de março, foram confirmadas 12.487 infecções, ultrapassando os 11.504 casos de 2023. A proliferação do mosquito transmissor, especialmente em construções abandonadas, intensifica a apreensão entre os moradores da cidade.

A situação torna-se ainda mais preocupante com a ocorrência de um óbito até o momento. A cidade tem implementado medidas para conter o crescente número de casos, mas, apesar das recomendações da Prefeitura para cuidados nas residências, a população ainda se encontra desorientada sobre como lidar com focos de criadouros em locais desabitados.
Um exemplo ilustrativo é uma residência em processo de demolição na Rua Sir Alexander Fleming, no bairro Nova Campinas. Gustavo Di Tella Ferreira, morador do bairro há 60 anos, expressa suas preocupações: "Tomamos todos os cuidados em nossa casa e adotamos medidas para evitar a formação de criadouros de dengue. No entanto, existem casos em que as pessoas abandonam suas propriedades, tornando-as criadouros do mosquito. Aqui próximo à minha residência, temos três casos que nos inquietam. Uma casa, por exemplo, foi adquirida e está completamente abandonada, com acesso livre, apresentando uma piscina nos fundos que pode se tornar um foco significativo de dengue."

Outro ponto de grande preocupação são as construções antigas que abrigavam os renomados curtumes da cidade, localizadas no bairro Vila Industrial. Ari Salgado Filho, vendedor com um estabelecimento próximo à região há 3 anos, expressa sua inquietação diante da possibilidade de sua esposa adoecer. Ele ressalta: "Minha esposa já tem uma idade avançada, e fico preocupado com a chance de ela ficar doente. Aqui no meu estabelecimento, mantenho tudo sob controle. Sempre que lavo, esvazio a água e tomo todas as medidas para evitar o acúmulo de água. No entanto, nas casas dos outros, não consigo exercer esse controle."

Quando questionada sobre o acesso a esses locais, a Prefeitura informou sobre a possibilidade de obter uma liminar judicial para ingressar neles. A assessoria destacou: "No caso de imóveis fechados, quando o proprietário não é identificado, também é possível recorrer a uma liminar judicial que autorize a entrada no local com o auxílio de um chaveiro para eliminar possíveis focos de criadouros."

A legislação em vigor aborda o acesso a esses espaços. Conforme a Lei nº 13.301, de 27 de junho de 2016, são estabelecidas medidas de vigilância em saúde diante de situações de iminente perigo à saúde pública causado pela presença do mosquito transmissor dos vírus da dengue, chikungunya e zika.

No que diz respeito ao número de liminares concedidas, a Prefeitura não conseguiu fornecer informações até o fechamento desta matéria. No entanto, ressaltou a importância da participação ativa da população no combate à dengue, encorajando denúncias de casos semelhantes através do telefone 156.

Adicionalmente, a assessoria sublinhou os cuidados adotados após receber denúncias da comunidade. "Ao serem comunicados sobre possíveis criadouros do mosquito Aedes aegypti, vetor da dengue e chikungunya, todos os setores pertinentes, como Saúde, Serviços Públicos, Defesa Civil, Urbanismo, entre outros, são acionados para implementar as medidas necessárias."

Quanto aos espaços públicos, enfatizou-se que a limpeza é conduzida pelas equipes da Administração, enquanto nas áreas privadas, a responsabilidade recai sobre os proprietários. "Nas áreas públicas, as equipes da Administração são encarregadas da limpeza, ao passo que, nas áreas particulares, os proprietários são responsáveis. A Prefeitura notifica os responsáveis pelos terrenos ou imóveis para que providenciem o serviço."

No âmbito das iniciativas de combate à dengue, a assessoria destacou o trabalho multissetorial conduzido pelo Comitê Municipal de Enfrentamento das Arboviroses e Zoonoses. "A Prefeitura empreende esforços multissetoriais no combate à dengue, através do Comitê Municipal de Enfrentamento das Arboviroses e Zoonoses, promovendo discussões e implementando ações práticas, como mutirões com visitas a imóveis, remoção de descartes irregulares, coleta de objetos inutilizados e até mesmo o uso de drones para identificar potenciais criadouros."

AÇÕES DE COMBATE À DENGUE

Na última semana, a Prefeitura divulgou as ações empreendidas no enfrentamento à dengue, destacando que, até o momento deste relato, agentes de saúde já visitaram 24,5 mil imóveis em cinco mutirões. Além disso, realizaram ações de visitas domiciliares prévias para orientar a população e eliminar possíveis criadouros do mosquito transmissor da doença.

O plano abrange a criação de uma Sala de Situação para análise sistemática, a reorganização da rede municipal de saúde e o lançamento de um novo site para divulgação de informações. Os mutirões, iniciados em 6 de janeiro nas regiões com maior número de casos suspeitos e confirmados, estão programados para continuar até o início de abril, com uma frequência de pelo menos duas datas por mês. As próximas datas previstas são 9 e 23 de março, e 6 de abril.

VARIANTES

Na primeira semana de fevereiro, a Secretaria de Saúde confirmou os primeiros casos de dengue na cidade, ocasionados pelos sorotipos 2 e 3 do vírus, que não circulavam desde 2021 e 2009, respectivamente. As amostras de sangue dos pacientes foram analisadas pelo Instituto Adolfo Lutz. Antes disso, a metrópole só havia registrado o sorotipo 1.

Esta é a primeira vez que ocorre a circulação simultânea dos sorotipos 1, 2 e 3 do vírus da dengue em Campinas. Os grupos mais vulneráveis aos sorotipos 3 e 4 são crianças, adolescentes e adultos que não tiveram contato prévio com esses sorotipos. Há um risco maior de dengue grave quando uma pessoa é infectada por um tipo diferente do anterior.
Até o momento, não houve identificação do sorotipo 4 do vírus da dengue em Campinas. Este não é registrado na cidade desde 2014, mas já causou infecções em outros municípios.

ORIENTAÇÕES PARA A POPULAÇÃO

Aqueles que apresentarem febre devem procurar imediatamente um centro de saúde para obter um diagnóstico clínico sobre a causa do sintoma. A Saúde faz um apelo para que a população não subestime os sintomas e evite a automedicação, pois isso pode prejudicar a avaliação médica, o tratamento e a recuperação.

Para aqueles que suspeitam de dengue ou têm a doença confirmada e apresentam sintomas como tontura, dor abdominal intensa, vômitos repetidos, sudorese fria ou sangramentos, é recomendado buscar ajuda o mais rápido possível em um pronto-socorro ou em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA).

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