ESTRUTURA

Ampliação de Viracopos valoriza entorno em 400%

Indefinição sobre zoneamento na região não impede negócios e especulação imobiliária

Maria Teresa Costa
16/11/2013 às 18:44.
Atualizado em 26/04/2022 às 14:34

A ampliação do Aeroporto Internacional de Viracopos está valorizando as áreas próximas em até 400% e, mesmo com todas as indefinições existentes sobre o zoneamento da região, quem tem terrenos no entorno do terminal está comemorando: áreas que há três anos custavam R$ 150,00 o metro quadrado, hoje estão sendo comercializadas por cerca de R$ 400,00. Se a gleba estiver a menos de um quilômetro do aeroporto, o preço pode chegar a R$ 600,00. A região de Viracopos se tornou um negócio da China, com a possibilidade de gerar mais de R$ 20 bilhões em valor geral de venda (VGV) nos 20 milhões de metros quadrados de áreas passíveis de diversos usos, conforme apontou estudo feito pelo escritório do arquiteto Jaime Lerner.À medida em que os investimentos no aeroporto vão sendo anunciados, disse André Toledo Piza, da Domus Corporate, empresa imobiliária voltada ao segmento corporativo, as áreas comerciais em seu entorno se tornam cada vez mais produto de especulação imobiliária. Piza disse que quase todos os dias atende empresas e investidores buscando aquela região, e recentemente, informou, a empresa acompanhou uma transação de uma área na Rodovia Santos Dumont, perto do aeroporto, que foi negociada por R$ 450,00 o metro quadrado, quando há três anos o preço não alcançava R$ 150,00.Para o presidente da Rede Imobiliária Campinas, Antônio de Lucca, a valorização já era prevista. “Viracopos está sendo projetado para ser o maior aeroporto do Cone Sul, e isso significa um aeroporto de grandes dimensões, com muita movimentação de passageiros e carga e que precisará do suporte logístico no seu entorno. Quanto mais perto o terreno estiver do terminal, mais valorizado ficará, e a tendência é de crescimento”, disse.Segundo ele, a oferta ainda está maior que a procura, mas não vai demorar para essa proporção se inverter, principalmente quando for definido o que ocorrerá com as áreas rurais próximas do aeroporto. “Hoje elas têm preço de áreas rurais, mas quando isso se modificar, os proprietários vão garantir o futuro de várias gerações.”Já há investimentos projetados para aproveitar o potencial de Viracopos. Um deles é um empreendimento de cerca de R$ 500 milhões, que está em fase de planejamento de construção pela Bresco Investimentos — grupo que projetou e construiu a nova sede da Uniazul, um centro de treinamento e formação de tripulantes da Azul e está trabalhando no desenvolvimento da ampliação da John Deere, ambos ao lado do aeroporto. O novo empreendimento ficará em um terreno de 1 milhão de metros quadrados onde será construído um condomínio de uso misto, com galpões para logística, tectonologia, escritórios, hotéis e empresas de varejo.A empresa Ecopark, que adquiriu uma área de 2,6 milhões de metros quadrados em Friburgo, está à espera da mudança de zoneamento. A empresa planeja fazer um investimento de R$ 1,5 bilhão em um empreendimento com um misto de ocupações — indústrias de pequeno, médio e grande porte, empresas de tecnologia e logística —, mas o projeto só será viabilizado se a área deixar de ser rural. Segundo Paulo Fernandes, sócio da Ecopark, a região vem crescendo às custas da inércia de Campinas. “Todo mundo está vendo a proximidade de Viracopos como chance de investimento e nós, que estamos colados ao aeroporto, estamos em situação indefinida. Mas acredito que a Prefeitura, no seu tempo, vai dar uma solução para tudo isso”, disse.A demora da Prefeitura em definir as regras de ocupação das áreas do entorno do Aeroporto Internacional de Viracopos é um estímulo à especulação imobiliária, segundo o economista e consultor imobiliário Roque de Oliveira Martinho. “Como não se sabe o tipo de zoneamento que será feito, quem pode está comprando áreas para tê-las como reserva, à espera da valorização que virá. As áreas rurais são as mais pressionadas, porque tudo indica que elas serão incorporadas ao perímetro urbano, com uma valorização imensa”, disse.Para o diretor regional do Sindicato da Habitação (Secovi), Fuad Cury, a demora na definição da Macrozona 7 (MZ-7) poderá ser fatal para aquela região. “É preciso fazer um processo para congelar aquelas áreas porque senão os preços irão aumentar demais. Os reflexos do crescimento de Viracopos são superlativos. Nem dá para imaginar o que será ter 80 milhões de passageiros ao ano e o crescimento enorme do setor de cargas. Quanto mais a Prefeitura demora na elaboração do plano de gestão daquela região, mas o custo da terra vai encarecer”, disse.As definições da MZ-7, no entanto, ficarão para o ano que vem. A Prefeitura, disse o secretário de Planejamento, Ulysses Semeghini, aguarda os estudos que estão sendo realizados pela Aeroportos Brasil Viracopos (ABV) para incorporar nas diretrizes do plano de gestão as restrições que estarão contidas no Plano de Zoneamento de Ruído Aeronáutico do Aeroporto, Planos de Zona de Proteção do Aeroporto e Área de Segurança Aeroportuária. A Prefeitura está revendo o projeto da MZ-7 porque detectou que o plano local de gestão, debatido em audiências públicas, não considerou as alterações feitas no Plano Diretor de Viracopos e, em consequência disso, será preciso recalcular o número de famílias que estarão dentro da chamada curva de ruído quando a segunda pista do aeroporto, prevista para 2017, começar a funcionar. ConsultoriaA Aeroportos Brasil Viracopos (ABV) está finalizando a contratação de duas consultorias para a elaboração de um plano urbanístico para a região do aeroporto e que será o principal instrumento para a definição das diretrizes da Macrozona 7 (MZ-7) — essas diretrizes irão harmonizar o uso das áreas próximas a Viracopos com as atividades aeroportuárias. A contratação dessas empresas visa atender uma das exigências feitas pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) na emissão da licença de instalação: a apresentação, em um ano, do plano local da MZ-7 atualizado e o respectivo Programa de Requalificação das áreas sob as curvas de ruído do projeto final de ampliação do aeroporto devidamente acordado com a Prefeitura de Campinas. Segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico, Samuel Rossilho, até o fim da próxima semana as empresas estarão contratadas. Uma delas, especializada na área de desenvolvimento econômico, vai identificar a vocação da região e as estratégias da formação de uma aerotrópolis (uma cidade aeroportuária) no entorno. A outra consultoria, especialista em planos diretores e projetos arquitetônicos em grandes cidades, vai trabalhar no novo plano, levantando os problemas de regularização fundiária, fará o plano altimétrico, estudos de impacto ambiental e plano viário. Os estudos, segundo Rossilho, serão repassados à Prefeitura na medida que forem sendo concluídos para integrarem o plano de gestão que, segundo ele, deverá ficar pronto até a metade de 2014. Valor de venda Um estudo feito em 2008 pelo escritório do arquiteto Jaime Lerner para avaliar o potencial imobiliário das estações do trem de alta velocidade em Campinas (projeto que vem sendo sucessivamente adiado) apontou que a região de Viracopos tem possibilidade de gerar R$ 20 bilhões em valor geral de venda (VGV) nos 20 milhões de metros quadrados de área passível de uso. No estudo, a área do aeroporto, chamada no trabalho de Polo Aeroporto, foi dividida em duas zonas: a primeira delas dentro de um raio de cinco quilômetros do terminal e a segunda com dez quilômetros. Segundo o estudo, a área mais próxima tem uma invejável infraestrutura de transporte em diversos modais e apresenta uma marcada vocação para investimentos nas atividades de logística e de indústrias correlatas. Estão nessa área a Singer e o Distrito Industrial de Campinas (DIC). A outra área, conforme o levantamento, não está em um raio de influência direta do aeroporto, mas ainda desfruta da sinergia gerada por ele. A vocação desse território é para uso misto, com habitação, comércio, serviços e indústrias de alcance local e regional. 

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