Luiz Alves foi entrevistado no gramado de uma praça na Vila Industrial na quinta-feira passada, e estava muito embriagado, sem ao menos conseguir dar dois passos
Luizão, como é chamado, está recebendo todos os cuidados de uma casa que abriga outros moradores que viveram nas mesmas condições de rua, no Jardim Rossin (Gustavo Abdel)
As mãos de três amigos foram estendidas e a esperança de uma nova vida para o morador em situação de rua Luiz Antonio Alves, de 54 anos, reacendida a partir desta semana. Foi por meio da foto e do relato mostrando as precárias condições de Luis, publicadas no Correio há uma semana, que os ex-colegas de CPFL Paulista José Francisco Brito, Adão Luis, Francisco de Paula Fábio e Sebastião Arcanjo tiveram conhecimento do amigo e saíram em sua busca. O encontraram, lhe ofereceram ajuda e desde terça-feira Luizão, como é chamado, está recebendo todos os cuidados de uma casa que abriga outros moradores que viveram nas mesmas condições de rua, no Jardim Rossin.Luiz Alves foi entrevistado no gramado de uma praça na Vila Industrial na quinta-feira passada, e estava muito embriagado, sem ao menos conseguir dar dois passos. Na ocasião, relatou que já havia ingerido álcool combustível para saciar o vício da bebida, mas que não fazia mais aquilo. Além de reclamar da qualidade das pingas que são vendidas em pequenas garrafas, Luizão disse com sobriedade que havia trabalhado nove anos na CPFL como eletricista de alta e baixa tensão.Ao ler a reportagem e ver a foto do amigo prostrado no chão, José Francisco Brito, de 60 anos, disse que não dormiu naquela noite. “Fiquei a noite inteira imaginando como poderia ajudá-lo, mas antes era preciso achar o Luizão. No dia seguinte sai de casa disposto a encontrar ele”, contou Brito, que também trabalhou na empresa de força e luz na mesma época que Luiz. “Liguei para o Adão (Luiz) e para o Francisco (de Paula Fábio) dizendo que eu iria atrás dele”, lembra.Após breve volta na região do Viaduto Cury, Brito e Adão seguiram até a praça em frente ao Grupo RAC, na Rua Sete de Setembro, e o encontraram, deitado no banco. Mesmo muito alcoolizado, os colegas relataram que de imediato chamou os dois pelo nome e abriu um sorriso. Mas ao tentar se levantar, caiu. O terceiro colega, Francisco de Paula, de 52 anos, informou que poderia levar Luizão para a Casa de Recuperação Valente de Davi, ligada a igreja Assembléia de Deus.Sem resistência e dizendo que estava querendo começar a trabalhar novamente, Luiz Alves entrou no carro e foi levado ao Jardim Rossin. “O que me deixou profundamente triste foi a decadência em que ele foi parar. Eu o via de vez em quando no Centro com seu carrinho, mas não tinha ideia de que agora estava nessa situação, sem conseguir andar”, disse Adão Luis, de 61 anos, que trabalhava no laboratório de medidas da empresa mas convivia quase que diariamente com Luizão.Ao chegarem na casa Valente de Davi, o pastor responsável pelo local, Elias Alves dos Santos, disse aos amigos de Luizão — que ficaram surpresos — que há 20 dias havia resgatado Luiz das ruas através do trabalho desenvolvido pela igreja e o levado para o mesmo local. Na ocasião, o morador estava na Avenida Senador Saraiva, caído no chão, e foi convidado por Elias a sair daquele lugar. “Ele ficou poucos dias conosco e decidiu ir embora novamente”, contou o pastor. Não há qualquer tipo de medicação aos atendidos além das cinco refeições diárias reforçadas.Entretanto, dessa vez os amigos estão esperançosos de que Luizão ficará no local, pois acreditam que com o envolvimento de tanta gente o incentivando, o eletricitário teria despertado a importância de se tratar já que pretende voltar a trabalhar. “Estou com três fraturas no osso do pé e ando com dificuldade”, disse Luizão, que passou os primeiros três dias deitados na última cama do dormitório, enrolado na coberta. Ele já tem consulta marcada no posto de saúde daquele bairro e os amigos disseram que o visitarão com frequência. Sua família de Pirajuí (SP) não vê há anos, mas caso permaneça se cuidando, os amigos já prometeram uma excursão até sua cidade natal, onde moram irmãos, tios e tias. “Preciso do meu diploma para voltar a trabalhar”, disse.A casa atende hoje cerca de 15 moradores em situação de rua que foram resgatados e passam o dia no local desenvolvendo atividades, principalmente de carpintaria. O espaço onde foi instalada a igreja Assembléia de Deus foi doado por uma fazenda, e uma tenda abriga os fiéis em dias de culto. Já os moradores ficam em um dormitório de madeira com camas, cômodas e cada um com seu espaço para guardar pertences. São oferecidas cinco refeições diárias, mas por causa dos três dias de abstinência do álcool, Luizão está aceitando aos poucos a comida.A CPFL Paulista informou que em um primeiro momento não iria se posicionar sobre o caso de Luizão, mas que a empresa também está empenhada em oferecer ajuda ao ex-funcionário.