REGIÃO CENTRAL

Americana: relato de 4 mortes agrava o drama das ruas

Casos teriam ocorrido em um período de aproximadamente quatro meses, e dois dos óbitos foram causados por overdose, sobretudo por crack

Gustavo Abdel
19/07/2015 às 07:34.
Atualizado em 28/04/2022 às 17:03
Wladimir José Dias, morador em situação de rua, em Americanar
 ( Dominique Torquato/ AAN)

Wladimir José Dias, morador em situação de rua, em Americanar ( Dominique Torquato/ AAN)

Americana registrou desde o início desse ano pelo menos quatro mortes de moradores em situação de rua, segundo dados colhidos pelo Correio entre os próprios moradores que vivem na região central. Os casos teriam ocorrido em um período de aproximadamente quatro meses, e dois dos óbitos foram causados por overdose. O Serviço Especial de Abordagem Social (Seas), da Prefeitura, não confirmou as mortes, mas informou que realiza um trabalho de conscientização, assim como o lançado em Campinas no mês passado, sobre os malefícios da ingestão do etanol e também retomou o cadastro dos moradores nessas condições.As mortes, segundo os moradores, ocorreram na região central de Americana, que concentra a maior parte dessa população, segundo recente levantamento do Seas. Um dos casos foi o do morador Cleiton, conhecido como “Cleitinho”, de aproximadamente 18 anos, encontrado morto no mês passado em uma rua próxima à linha férrea que corta o município. Colegas da vítima disseram que ele passou mal após consumo de drogas e morreu. A mãe foi chamada para reconhecer o corpo e “entrou em pânico”, segundo a moradora de rua Fabiana Prates Medeiro, de 20 anos. “Ele era gente boa e andava nessa região. Foi muita droga e deu overdose. A mãe chorava muito quando foi reconhecer ele”, disse a jovem, que frequenta as ruas de Americana desde a infância.O outro caso de overdose foi o de um senhor de aproximadamente 65 anos. Ele tinha dificuldades para andar e estava debilitado há pelo menos quatro meses, disseram dois moradores de rua e um comerciante. Ele bebia muito e teria sido encontrado caído próximo à Praça Comendador Muller, no Centro.Porém, a Prefeitura não confirmou nenhum dos casos. Já a Secretaria de Saúde informou por meio da assessoria de imprensa que não distingue o atendimento de moradores em condição de rua das demais vítimas no Hospital Municipal Waldemar Tebaldi, e por isso não seria possível precisar quantas mortes ocorreram.DrogasUm recente levantamento elaborado pela Prefeitura apontou que mais da metade dos moradores de rua consome drogas ilícitas, e o crack lidera a lista em Americana. A pesquisa faz parte de um mapeamento feito pela Secretaria de Habitação e Promoção Social, que retomou os trabalhos de abordagem às pessoas em situação de rua na cidade por meio do Seas.Dentre os trabalhos de abordagem e encaminhamento feito por dois agentes e um técnico, o Seas passou a explicar sobre o efeito devastador que a ingestão do etanol provoca no organismo. Os moradores que vivem nas ruas adotam essa prática para se “esquentar” do frio e pelo fato do álcool na bomba ser mais barato do que uma garrafa de pinga.Classificação dos moradores em situação de rua em Americana (*)Uso de subs. psicoativas: 42Uso de álcool: 48Venda de produtos nas ruas: 12Saúde mental: 7Itinerante: 20Mendicância: 31Moradores de rua: 26Pessoas com deficiência: 4Pessoas de Americana: 47Total em situação de rua: 78Regiões com a maior concentraçãoÁrea 1 (Centro): 35Área 4 (São Vito, São Manuel): 17Área 5 (Jd. América, São Luis): 9Área 8 (Jd. Ipiranga, Jd. São Paulo): 9 (*) A somatória das classificações ultrapassa 78 pessoas pois muitos estão enquadrados em mais de uma categoriaFonte: Secretaria Municipal de Habitação e Promoção SocialCadastro deste ano do Seas tem 78 nomesDe acordo com o secretário da Asssistência Social, Marco Antonio Alves Jorge, nos cinco primeiros meses desse ano o Seas já cadastrou 78 pessoas, entre moradores da cidade e migrantes, que costumam viver em cidades diferentes e passaram por Americana nos últimos meses. Desse total, 48 deles admitiram que consomem álcool, sendo que 42 afirmaram que ainda fazem uso de drogas psicoativas. Esse levantamento indicou ainda que 47 são do próprio município. Exemplo de migrantes que transitam entre cidades está o morador de rua Vladimir José Dias, de 42 anos. Ele chegou em Americana no domingo passado, após uma “temporada” de 20 dias em Campinas. “Sou de Americana, mas não fico parado. Pego papelão nas ruas e ganho a vida assim. Minha família não quer minha presença, e por isso estou na rua”, disse. Sem desgrudar a Bíblia da mão esquerda, com a outra fumava um cigarro e dizia: “Rezo todos os dias para que nada aconteça comigo andando por aí”, resumiu. Vladimir disse que não foi consultado pelos agentes da Prefeitura, mas caso fosse aceitaria o acolhimento, já que está vivendo na linha do trem em “situação extremamente precária”, segundo ele. 

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