Alunos do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, em Campinas, fazem manifestação contra o corte de 7,2% promovido pelo Ministério da Educação (Ricardo lima)
Com cartazes de apoio à educação pública no país e críticas ao governo federal como “educação não é gasto, é investimento”, “o governo derruba a Educação e a Educação derruba o governo”, em referência à gestão do Presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), estudantes e docentes protestaram na manhã de quinta-feira (9) contra o corte de 7,2% promovido pelo Ministério da Educação e que atingiu o orçamento do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, em Campinas.
O IFSP é uma importante autarquia federal, reconhecida por sua excelência no ensino público e atuação prioritária na oferta de educação científica e tecnológica em níveis técnico, cursos superiores, pós-graduação e formação inicial e continuada de professores, além de acolher estudantes de classe social mais vulnerável. Em Campinas, o instituto atende a um público de 1.400 pessoas.
Organizado pelos próprios estudantes do instituto, a maioria beneficiada por bolsas de auxílio educacional para custear o transporte e alimentação, o protesto se concentrou em frente ao campus da unidade que fica no bairro Cidade Satélite Íris, na região do Campo Grande, e saiu em caminhada por um trecho da Avenida John Boyd Dunlop até o Shopping Parque das Bandeiras.
Diante desse cenário de redução de orçamento, a sensação entre as dezenas de participantes do protesto era o de indignação e frustração. Para Marcos Vinícius Silva Magalhães, 21 anos, estudante do curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas, o corte é visto como uma ação de sucateamento da instituição. “Recebemos essa notícia dos cortes diretamente do diretor do campus. No momento, o sentimento é de muita tristeza”, externou.
O diretor do IFSP, o professor Eberval Castro, explicou que a redução nas verbas, estimada em R$ 153 mil reais até o final do ano, será brutal e impactará a manutenção de serviços básicos da instituição.
Um plano de contingenciamento de gastos na estrutura da unidade, inclusive, teve que ser colocado em prática entre a comunidade acadêmica para garantir a prestação dos serviços aos alunos matriculados até o final do ano.
Segundo Castro, a proposta foi a de aplicar uma revisão nos gastos relacionados à estrutura dos departamentos, como na limpeza, jardinagem, manutenção de catracas e até no corte de energia, com reflexos no uso de elevadores e aparelhos de ar condicionado.
Ele explicou ainda que o bloqueio está sendo aplicado de forma linear sobre o custeio e capital do instituto. “Excluindo a Assistência Estudantil, o bloqueio é de 18,5% do que falta executar do orçamento, totalizando um impacto de mais de R$ 153 mil para nós”, disse. O custo para manter a unidade atualmente demanda cerca de R$ 3 milhões por ano.
Para os estudantes, cortes na água, luz, limpeza e manutenção de ar-condicionado, além da opção de abrir mão da manutenção de catracas e elevadores, que inclusive já estão desativados, significa cortar o mínimo que a comunidade estudantil e acadêmica do campus dispõe.
“Temos um campus novo e completo, dotado de um ensino de qualidade, que fica na periferia de Campinas sob ameaça por conta desses cortes. Outros institutos no país poderão fechar as portas por conta desses cortes”, desabafa o estudante de Análise e Desenvolvimento de Sistemas.
O professor dr. Jean Douglas Zeferino Rodrigues, de 41 anos, responsável pelas disciplinas de Educação e Pedagogia, no curso de pós-graduação TICs Aplicadas ao Ensino de Ciências do IFSP, também lamenta o impacto dos cortes. Segundo ele, toda a comunidade acadêmica sofre os reflexos da falta de incentivo. “Esses cortes são sentidos também entre os docentes. O movimento de hoje integra parte de um calendário nacional de luta pela Educação. Na perspectiva de defesa da rede federal de ensino, que é ligada à Secretaria de Tecnologia e Ciência do Governo Federal, onde o instituto está inserido, os cortes colocam em risco a garantia da qualidade e excelência dos serviços oferecidos”, disse.
Membro do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe), o docente observa que a redução no orçamento do instituto vem sendo uma prática recorrente nos últimos anos. “Nós, os professores, estamos sofrendo com uma defasagem de cinco anos no salário. Um ensino de qualidade exige um custo para garantir essa qualidade”, disse.
O docente relata ainda que os cortes têm reflexos mais acentuados entre os estudantes em vulnerabilidade social. “Muitas vezes os alunos têm acesso ao ensino, mas a permanência fica comprometida por conta da falta de estrutura. Os cursos são, em sua maioria, integrais. E os cortes dificultam a vida desse estudante que tem dificuldade com transporte e alimentação, por exemplo. A grande maioria deles é filho da classe trabalhadora”, complementou.
O Ministério da Educação foi procurado pela reportagem para comentar sobre os cortes, mas não retornou até o fechamento da edição.
História
O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo é reconhecido pela sociedade paulista por sua excelência no ensino público gratuito e de qualidade. Durante seus 109 anos de história, recebeu também os nomes de Escola Técnica Federal de São Paulo e Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo.
Com a transformação em instituto, em 2008, passou a ter relevância de universidade, destacando-se pela sua autonomia. Atualmente o IFSP destina 50% das vagas a cursos técnicos e, no mínimo, 20% de vagas para cursos de licenciatura, sobretudo nas áreas de Ciências e Matemática.
Em Campinas, antes do campus atual, na região do distrito de Campo Grande, o IFSP iniciou atividades em 2013 e mantinha a sua sede nas dependências do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer - CTI, na Rodovia D. Pedro, no bairro Amarais. Desde o final de 2018 funciona na região do Campo Grande. No final de 2019, com a pandemia, o campus foi fechado e somente reabriu no início de março deste ano aos estudantes.
Apesar do pouco tempo de uso das novas instalações, os estudantes relatam que já é possível ver alguns problemas de uso, como algumas infiltrações “Temos uma equipe muito boa de manutenção que faz de tudo para conservar o campus, mas os cortes vão agravando os problemas”, disse o estudante.