NO GRUPO DE WHATSAPP

Alunos de Valinhos são denunciados por injúria racial em rede social

Denúncia partiu de uma vítima de ataques, que estuda no mesmo colégio privado

Ronnie Romanini/ [email protected]
02/11/2022 às 10:05.
Atualizado em 02/11/2022 às 10:05
Advogada Thaís Cremasco, cofundadora do coletivo Mulheres pela Justiça e mãe do estudante alvo da injúria (Rodrigo Zanotto)

Advogada Thaís Cremasco, cofundadora do coletivo Mulheres pela Justiça e mãe do estudante alvo da injúria (Rodrigo Zanotto)

Um estudante de Colégio Porto Seguro, de Valinhos, e sua mãe registraram um boletim de ocorrência denunciando ataques racistas perpetrados em um grupo de WhatsApp formado por outros alunos da mesma escola. Ao menos dois adolescentes foram citados como autores das ofensas no BO. A Polícia Civil, inclusive, abriu investigação e, hoje, o caso deve chegar ao juizado da Infância e Juventude, uma vez que os envolvidos são menores de idade.

Além das injúrias raciais e do crime de racismo, as mensagens a que a reportagem teve acesso impressionam pela quantidade de figurinhas de WhatsApp com imagens do ditador nazista Adolf Hitler.

Um vídeo, com uma imagem do fascista Benito Mussolini, também foi divulgado no grupo, além de uma imagem com um homem e uma mulher em posição sexual com uma bandeira nazista ao fundo e o gesto de saudação característico da ideologia totalitária sendo praticado pelo homem. 

Ainda há conteúdos xenofóbicos, gordofóbicos e machistas. O grupo era denominado "Fundação Anti Petista" e, na descrição, havia uma mensagem de convocação para que todos comparecessem ao Colégio Porto Seguro vestidos de verde e amarelo. O antipetismo e o nazismo se misturam em uma das publicações, quando um dos integrantes posta uma imagem de Adolf Hitler com a frase: 'Se ele faz com judeus, eu faço com petista também'. Outra mensagem menciona "A Fundação dos Pro Reescravização do Nordeste" (sic) e ainda "Quero que esses nordestinos morram de sede".

A advogada Thaís Cremasco é cofundadora do coletivo Mulheres pela Justiça e mãe do garoto de 15 anos, alvo das injúrias, e de uma menina de 13 anos que estuda no mesmo colégio. Ela se mostrou muito indignada com o caso, contando que o grupo de WhatsApp havia sido criado logo após o resultado das eleições, mas que essa não foi a primeira vez que as injúrias aconteceram contra os seus filhos. "Ele já tinha sofrido algumas injúrias raciais e situações de racismo na escola, tanto ele quanto minha filha. A escola sempre falou que tomaria providências. Eu acabei confiando e isso não aconteceu."

Após o filho ser adicionado ao grupo, o teor das mensagens chocou o garoto. "Eles falavam de pobreza, nordestinos, gays, mulheres... sobre reescravização. Meu filho sentiu-se ofendido e se manifesto, dizendo que aquilo era uma postura neonazista. Foi aí que essas pessoas o excluíram do grupo e começaram a ofendê-lo em outra rede social (...). Quando ele foi denunciar à escola os crimes de racismo, homofobia, xenofobia que alunos estavam cometendo, a diretora disse que nada poderia fazer, porque isso não aconteceu dentro da escola"

Das muitas mensagens coletadas no grupo, algumas são citadas no BO registrado pela vítima. Em duas, a injúria racial é direcionada a ele ou à família. 

Por meio de um comunicado, o Colégio Porto Seguro se manifestou, mas não informou se adotou ou adotará medidas punitivas aos envolvidos, como suspensão ou mesmo expulsão. 

"O Colégio repudia qualquer ação e/ou comentários racistas contra quaisquer pessoas. Os atos de injúria racial não são justificados em nenhum contexto. Considerando-se que a construção de uma sociedade livre, justa e igualitária pressupõe o respeito à diversidade e às liberdades, o Colégio não admite qualquer tipo de hostilização, perseguição, preconceito e discriminação. Vale lembrar que, em todos os campi do Colégio são realizadas palestras, orientações educacionais e projetos sobre a diversidade de opinião, de raça e gênero para alunos e comunidade escolar."

A mãe do adolescente entende que, mesmo não tendo acontecido dentro da escola, a direção precisa tomar providências, por ser absolutamente inaceitável ter alunos - ou mesmo um núcleo - que flertam com o neonazismo. 

"Meu filho tem receio de estudar com pessoas que se declaram neonazistas, que fazem apologia a Mussolini e Hitler. Para alguém negro, isso é uma ofensa direta e a escola rebate que não foi direcionada a ele. Queremos a expulsão desses alunos, uma vez que já houve crimes como este e a direção combinou de fazer uma reeducação, o que não aconteceu. Exigimos que seja tomada alguma atitude para coibir esses crimes que estão ocorrendo na escola de forma declarada."

Thaís ainda destacou que, mesmo quando o ato racista é direcionado, ele fere a toda coletividade. Crimes de ódio, inclusive contra mulheres e homossexuais, afetam a todos e não apenas a vítima. Por isso, defende que a tipificação não fique apenas na injúria racial.

O diretor do Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo Interior 2 (Deinter-2), José Henrique Ventura, afirmou que a injúria racial está caracterizada. Ele lembrou que por serem adolescentes o caso será tratado como ato infracional. Após a investigação, o caso será encaminhamento ao juizado de Infância e Juventude.

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