Advogado Affonso Pinheiro e o professor de matemática Serguei Popov (à esquerda): defensor considera decisão absurda e pedirá pena mais dura (César Rodrigues/31ago2016/AAN)
O estudante da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Guilherme Victor Montenegro foi suspenso das atividades acadêmicas por dois semestres letivos, por causa de uma ação durante aula do professor de matemática Serguei Popov. A medida foi publicada na última quarta-feira no Diário Oficial do Estado, aplicada na gestão do reitor Tadeu Jorge. Ambas as partes informaram que irão recorrer da decisão dada pela reitoria. A penalidade foi divulgada após a comissão interna avaliar o comportamento do aluno na época do movimento de ocupação da Reitoria, no ano passado. Na ocasião, Guilherme aparece em um vídeo durante um protesto apagando o conteúdo escrito pelo professor na lousa, dentro da sala de aula. As audiências realizadas pela comissão do processo disciplinar da universidade, na época, registraram a confusão. Um exemplo foi a primeira audiência com o professor realizada na instituição em agosto de 2016, em que o depoimento foi interrompido por manifestantes e adiado para uma nova data. O advogado de Popov, Affonso Pinheiro, recorrerá da decisão da reitoria e pediu as cópias do relatório final da comissão processante e do reitor. Ele quer a expulsão do aluno. “Com os documentos em mãos, vou formular um pedido de retificação para que a pena aplicada seja aquela que a comissão indicou ou entrar com o recurso de decisão diretamente na universidade. Se não tiver êxito vamos judicializar o assunto”, disse. O advogado ressaltou que não concorda com a pena. “Essa medida é absurda. Isso é um salvo-conduto para que novas condutas idênticas ocorram no futuro. Por isso, vamos entrar com essa reconsideração de decisão”, disse. O estudante Guilherme, que também é coordenador do Diretório Central dos Estudantes (DCE), informou para reportagem que ainda não foi comunicado formalmente pela Unicamp sobre a decisão do último reitor. “Fui pego de surpresa, pois fiquei sabendo dessa medida pelas redes sociais. Já pedimos o relatório para Unicamp e vamos analisar o que realmente foi decidido”, completou. O coordenador disse ainda que, nesta segunda-feira, integrantes de outros centros acadêmicos além do DCE procuraram o novo reitor para pedir mais informações sobre a decisão. “Explicamos para ele que as ações que aconteceram durante a greve foram de forma coletiva e não individual”, disse. Ele afirmou também que o reitor Marcelo Knobel ficou de marcar uma nova discussão sobre a decisão adotada no caso. Em relação à suspensão dos dois semestres, ele informou que o DCE não aceitará, não considera legítima essa medida e estuda as formas para recorrer. “Ainda sou coordenador do diretório e o DCE está me amparando politicamente e juridicamente por ser estudante. Não vamos aceitar esse resultado. Dentro disso tem outra questão que é a característica racista desse processo, como toda a perseguição e ameaça que estou sofrendo, desde a publicação do vídeo que motivou a abertura dessa comissão”, disse o universitário. Em nota, a Unicamp informou que, após a decisão, o aluno não pode frequentar as atividades discentes que incluem aulas, provas e outras atividades acadêmicas. Em relação à decisão do reitor, a universidade informou que “a comissão que elabora um relatório e sugere o tipo de pena previsto nos estatutos da Unicamp. O reitor pode acatar a sugestão da comissão como também pode decidir por outra penalidade prevista nos estatutos, seja atenuando ou agravando a pena”, disse o texto.