CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Alemanha será parceira na implantação de laboratório de segurança máxima

Chamado de Orion, espaço será construído no CNPEM, em Campinas; país europeu assinou acordo na segunda-feira com o Brasil

Da Redação
06/12/2023 às 08:43.
Atualizado em 06/12/2023 às 08:43
Luciana Santos, ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), durante a assinatura da declaração conjunta de intenção junto ao CNPEM, Ministério da Saúde e Instituto Robert Koch (RKI) (Lisia Gusmão)

Luciana Santos, ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), durante a assinatura da declaração conjunta de intenção junto ao CNPEM, Ministério da Saúde e Instituto Robert Koch (RKI) (Lisia Gusmão)

O primeiro laboratório de máxima contenção biológica (NB4) da América Latina e o único do mundo conectado a um complexo científico de fonte de luz síncrotron deu mais um passo importante essa semana. Brasil e Alemanha assinaram acordo de cooperação para a implantação do Laboratório Orion, que será construído no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas, e permitirá estudos de patógenos capazes de causar doenças graves e com alto grau de transmissibilidade, permitindo o enfrentamento de eventuais pandemias.

A declaração conjunta de intenção foi assinada na última segunda-feira, dia 4, em Berlim, entre o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o CNPEM, o Ministério da Saúde (MS) e o Instituto Robert Koch (RKI), responsável pelo controle e prevenção de doenças da Alemanha. O acordo fez parte das tratativas da viagem oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao país europeu. Uma comitiva de ministros acompanhou o presidente para uma série de compromissos. Lula chegou a Berlim na tarde de domingo para cumprir uma agenda de três dias, marcando um novo capítulo na reaproximação entre o Brasil e a Alemanha após um período de distanciamento nos governos Temer e Bolsonaro.

A cooperação será no campo científico. Esse tipo de acordo facilita o intercâmbio de pesquisadores, projetos de pesquisa conjuntos e até mesmo treinamento de profissionais, uma vez que a Alemanha também conta com Laboratórios de nível 4, como o futuro Orion. Segundo o diretorgeral do CNPEM, Antonio José Roque da Silva, a colaboração com o Instituto Robert Koch tem como objetivo o desenvolvimento de infraestruturas de máxima segurança biológica e o avanço do conhecimento na área da saúde.

“O Instituto Robert Koch é um dos centros de referência mundial na área de pesquisas em biomedicina, com particular ênfase em patógenos. A parceria terá papel importante não apenas durante a execução e desenvolvimento do projeto Orion, mas também ao auxiliar na mobilidade e treinamento de pesquisadores, na realização de pesquisas conjuntas e, de forma mais ampla, na área de saúde, do diagnóstico e do desenvolvimento de vacinas”, ressaltou.

Entre as patologias, estão doenças graves e com alto grau de transmissibilidade das classes 3 e 4, de acordo com a Classificação de Risco dos Agentes Biológicos. Essas categorias incluem, por exemplo, o ebola, que tem taxa de letalidade entre 25 e 90%, dependendo da cepa, e aquelas causadas por vírus da família Coronaviridae, como o SARSCoV-2, causador da pandemia de covid-19 que matou pelo menos 20 milhões de pessoas no mundo desde 2020, segundo estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS). Somente no Brasil, são 705.710 vítimas fatais, de acordo com o Ministério da Saúde. Desse total, são 181.071 mortes no Estado de São Paulo e 5.495 em Campinas.

O diretor-geral do CNPEM salientou ainda que o centro de pesquisa é uma organização social supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), responsável pelo projeto e operação do Sirius, o maior e mais complexo projeto científico do Brasil. O Sirius é uma fonte de luz síncrotron de última geração que permite experimentos na fronteira da ciência em praticamente todas as áreas do conhecimento e, em breve, graças a recursos do novo Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), terá três estações experimentais que se conectarão ao Orion, um complexo de laboratórios com os mais elevados níveis de segurança do país, inclusive áreas NB-4 para estudo de patógenos de alta transmissibilidade. Será também o primeiro laboratório do gênero no mundo conectado a uma fonte de luz síncrotron, o que permitirá os experimentos inéditos voltados, por exemplo, ao desenvolvimento de vacinas, medicamentos e métodos de diagnóstico. “Portanto, o apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação e do Ministério da Saúde, nesse acordo com o Instituto Robert Koch, é fundamental para o sucesso do projeto Orion e para o desenvolvimento de futuras parcerias”, finalizou o diretor-geral do CNPEM.

“A parceria do Instituto Robert Koch no planejamento, construção, operação, monitoramento e avaliação de instalações de nível de biossegurança 4, além dos trabalhos de pesquisa e das oportunidades de intercâmbio, é realmente uma prova do quanto é estratégica a cooperação entre Brasil e Alemanha”, afirmou a ministra de Ciência e Tecnologia, Luciana Santos. “Tenho a convicção de que os dois países, como fortes líderes regionais e globais, poderão influenciar fortemente na solução dos problemas comuns a toda a humanidade”, completou.

A ministra da Saúde, Nísia Trindade, também destacou que a parceria está em total consonância com a estratégia traçada no Ministério da Saúde para o enfrentamento de eventuais pandemias. “Elas podem acontecer, assim como já ocorreram, e precisamos estar cada vez mais preparados para utilizar a nossa expertise nas múltiplas áreas de conhecimento e também munidos do que há de mais avançado em tecnologia. Precisamos investir cada vez mais na biossegurança e na ciência em prol da saúde pública para tentar evitar doenças de impacto massivo", ressaltou Nísia.

Durante a cerimônia de assinatura, o presidente do Instituto Robert Koch, Lars Schaade, ressaltou os atuais desafios que ampliaram a relevância da instituição na proteção da saúde, como as mudanças climáticas, movimentos migratórios e a desigualdade no acesso à saúde. Ele também destacou os esforços de cooperação científica. “Com o Brasil, a parceria que estabelecemos hoje tem como foco o NB4 e a questão epidemiológica para garantir a qualidade dos procedimentos diagnósticos”, disse.

O ORION

O Laboratório Orion, um projeto de R$ 1 bilhão, recebeu recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) e está previsto para entra em operação em 2026. A exemplo do Sirius, o NB4 será uma infraestrutura aberta e a serviço dos desafios da saúde pública do país.

Ele terá 20 mil metros quadrados e conexão com três linhas de luz síncrotron de quarta geração do Sirius, como são chamadas as fontes com essa tecnologia do LNLS. O projeto recebeu esse nome em referência à constelação que possui três estrelas apontadas para a estrela Sirius. O empreendimento terá laboratórios de nível NB3 e NB4, de pesquisa básica, técnicas analíticas e competências avançadas para imagens biológicas, como microscopias eletrônicas e criomicroscopia, que terão certificação internacional. Existem atualmente cerca de 60 laboratórios de máxima contenção biológica no mundo. Apesar da alta complexidade das pesquisas realizadas, são extremamente seguros, instalados até mesmo na área central de metrópoles, como em Berlim, na Alemanha.

O laboratório terá acesso a imagens 3D em diferentes escalas fornecidas pelas linhas de luz síncrotron, o que permitirá desde o estudo celular em escala nanométrica, passando pela dinâmica de inflamação nos tecidos e danos nos órgão e o acompanhamento do processo de infecção como um todo. O Orion atuará em conjunto com outros órgãos públicos, como o Ministério da Saúde, e integrado a outros agentes de pesquisa, como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Instituto Butantan, que se encarregarão do desenvolvimento de vacinas e medicamentos para tratamento das patologias.

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