Ação social

Ajuda voluntária aos irmãos sírios

Casal campineiro deixa o Brasil e se fixa na Turquia, para trabalhar na assistência a refugiados

Rogério Verzignasse
13/05/2018 às 15:31.
Atualizado em 28/04/2022 às 08:34
Cenas do trabalho voluntário do casal campineiro em Istambul e arredores, lugares que acolhem milhares de refugiados sírios: doação ao outro (Divulgação)

Cenas do trabalho voluntário do casal campineiro em Istambul e arredores, lugares que acolhem milhares de refugiados sírios: doação ao outro (Divulgação)

Um casal campineiro deixou tudo o que tinha por aqui — casa, carro, família, emprego — e se aventurou, com os dois filhos pequenos, a viver na Turquia e trabalhar na assistência a refugiados sírios. O publicitário Lucas Cabral Ferreira e a mulher dele, a professora Jozi, há quatro anos faziam parte de uma organização não governamental que arrecadava donativos e os entregava a famílias acolhidas na Europa. Pois os dois se identificaram tanto com a ação social que decidiram, em janeiro, se mudar para Istambul. Na capital turca, os dois trabalham para uma creche que acolhe 70 crianças sírias. Lucas, que também é produtor de cinema, consegue sustentar a própria casa administrando um estúdio. Mas ele também conta com a ajuda de velhos amigos daqui, que enviam colaborações em dinheiro. Além disso, os velhos parceiros despacham mantimentos, roupas, comida e itens de higiene pessoal, que são distribuídos a refugiados espalhados por toda aquela região. O interesse em ajudar nasceu em 2014, quando o casal buscava se inscrever em grupos que executavam ações benemerentes. Na época, os efeitos da guerra civil na Síria já tomavam o noticiário, e os dois se impressionavam de ver na tevê a situação daquelas pessoas, e daquelas cidades arrasadas por bombas. Na época, os dois decidiram montar o próprio grupo assistencial a refugiados, lançando a ideia na internet. Eles passaram a cadastrar interessados e a arrecadar as doações. Aí começaram a ser marcadas as primeiras caravanas à Grécia e à Turquia, na rota preferida os sírios que abandonavam a terra natal. Aconteciam duas viagens anuais, em janeiro e setembro. Cada caravana durava 15 dias. Mas, em janeiro, o casal radicalizou e partiu, de mala e cuia, para Istambul. O idioma, admite Lucas, ainda é o maior obstáculo. O casal aprende a língua local para viver com mais conforto. Eles começaram a estudar árabe para entender os assistidos. Hoje, todo trabalho é feito com a ajuda de um intérprete do inglês para o árabe. Os filhos João Pedro, de 10 anos, e Ana Clara, de 9, estudam em casa mesmo, educados pela própria mãe professora, no método homeschooling. “As crianças estão amando conviver com uma cultura diferente. E não param de nos perguntar quando vão entrar em uma escola de idiomas para aprender a língua dos turcos” , diz. Antes da viagem, Lucas já ganhava a vida, em Campinas, como produtor de cinema. Hoje, ele é associado da Turquia Dumela Filmes. “Deixamos os amigos, a família, apartamento, carro, móveis. E fazemos planos de voltar ao Brasil só daqui uns dez anos. A gente quer que esse projeto não acabe”, resume. O cenário Apesar do voluntariado ser uma ação nobre, não é fácil testemunhar as condições sociais a que estão submetidos os refugiados. Os sírios vivem um misto de incertezas e depressão: muitos sonham voltar, mas suas cidades estão arrasadas. E o pior, afirma, é que eles não conseguem empregos decentes. “São explorados: baixos salários, condições desumanas de trabalho. Como são ilegais no país, eles nem podem exigir o pagamento de diretos básicos”, fala. Mas apesar de tudo, diz, a vontade de ajudar não pode esmorecer. “Vamos vivendo com a ajuda dos campineiros, que confiam na nossa iniciativa. E membros do nosso grupo continuam fazendo as caravanas periódicas para entrega de donativos”, diz. “O trabalho precisa continuar.”

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